Michael Flynn: ex-general e assessor durante a campanha foi convidado por Trump para ocupar cargo no alto escalão do governo (Alex Wong/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 18 de novembro de 2016 às 12h24.
Última atualização em 18 de novembro de 2016 às 14h22.
São Paulo – A notícia de que o novo presidente dos Estados Unidos Donald Trump convidou o general reformado Michael Flynn para ocupar o poderoso posto de assessor de segurança nacional “mostra um profundo desrespeito pelos princípios dos direitos humanos”, criticou a organização não governamental Human Rights Watch (HRW).
Flynn, que é ex-oficial da inteligência, foi um dos principais assessores de Trump em assuntos relacionados à segurança nacional em uma campanha presidencial permeada de declarações polêmicas sobre imigrantes mexicanos e muçulmanos.
O convite ao general vem depois de Trump ter enfurecido democratas e organizações de defesa de direitos humanos ao nomear Stephen Bannon como estrategista e assessor sênior. Ele é acusado de racismo e de ter posicionamentos comuns com grupos defensores da supremacia branca.
Flynn ainda não confirmou se aceitará o convite. A HRW, no entanto, encarou o movimento com preocupação. “O presidente eleito está destruindo os compromissos dos Estados Unidos com as leis internacionais que foram violadas em detrimento do país”, pontuou, e que muitas das propostas de campanha Trump “constituem tortura e crimes de guerra”.
Um dos exemplos citados pela entidade é o fato de Trump ter dito em diversas ocasiões que aprovaria o uso do waterboarding, a simulação de um afogamento onde uma pessoa é colocada de costas e tem água jogada em seu rosto.
Em novembro do ano passado, o então candidato à presidência mostrou apreço por esse método que foi usado pela agência de inteligência do país (CIA) na obtenção de informações sobre atentados terroristas pós-11 de setembro. Em 2006, contudo, foi abandonado, pelo menos oficialmente, por ter sido considerado ineficiente e uma espécie de tortura.
O general reformado nunca rejeitou as declarações do republicano sobre o waterboarding e outros métodos de tortura e a HRW recuperou uma entrevista dada à rede Al Jazeera na qual Flynn disse acreditar que se tenha que deixar “todas as opções em aberto até o último minuto” quando o assunto é interrogatórios.
Outro ponto que traz à tona preocupações em torno da presença de Flynn na Casa Branca como o responsável por assessorar o próximo presidente em questões de segurança nacional é a postura em relação aos muçulmanos.
Em uma entrevista recente ao site The Intercept, o militar se mostrou alinhado com Trump em questões além do uso da tortura, como a possibilidade de se banir a entrada de muçulmanos nos EUA e ter como alvo a família de suspeitos de terrorismo. Na ocasião, disse que tais medidas teriam o objetivo de “manter o inimigo atento” e são parte de uma estratégia maior.
Embora tenha dito diversas vezes que o alvo das declarações são os “radicais islâmicos”, um termo cujo uso e definição exata são extremamente debatidos na esfera do governo dos EUA e na comunidade internacional, Flynn já se envolveu em polêmicas ao trocar as palavras e usar apenas “muçulmanos”.
E o fez recentemente em um tuíte publicado em fevereiro e no qual dizia que “o medo dos muçulmanos é racional”.
Fear of Muslims is RATIONAL: please forward this to others: the truth fears no questions... https://t.co/NLIfKFD9lU
— General Mike Flynn (@GenFlynn) February 27, 2016
Para o jornal americano The Washington Post, a presença de Flynn no alto escalão do governo e a possibilidade de Trump convidar o ex-candidato republicano Mitt Romney para o posto de secretário de Estado manda ao mundo sinais confusos, deixando ainda mais em aberto a postura de seu governo.
Na visão de analistas de política internacional, são as expectativas em torno do novo gabinete e das medidas que serão colocadas em pauta nos primeiros dias de governo as maiores causas do cenário de incerteza que deixou líderes globais tensos e atentos aos próximos capítulos da aventura de Trump na Casa Branca.