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Michael Cohen pode ser a ponta do iceberg de Trump

Advogado pessoal de Trump por uma década, Cohen afirmou que o presidente pediu que ele violasse a lei de financiamento de campanhas políticas

Escândalos: o advogado Michael Cohen afirmou que o presidente estava envolvidos em fraudes (Jonathan Ernst/Reuters)

Escândalos: o advogado Michael Cohen afirmou que o presidente estava envolvidos em fraudes (Jonathan Ernst/Reuters)

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AFP

Publicado em 23 de agosto de 2018 às 11h42.

A transformação de Michael Cohen de fiel funcionário de Donald Trump em traidor revela como o advogado está determinado a limitar seu tempo na prisão.

Por mais de uma década, Cohen foi advogado pessoal de Trump, com conhecimento de seus negócios multimilionários e suas duas supostas amantes secretas, cujos relatos poderiam ter sabotado a campanha eleitoral de seu chefe em 2016.

Mas Cohen decidiu se afastar de Trump e testemunhou sob juramento ante um tribunal federal que o presidente ordenou que ele violasse a lei de financiamento de campanhas políticas, além de se declarar culpado de fraude bancária e fiscal.

Trump negou publicamente ter feito algo de errado e debochou de seu ex-conselheiro. Uma pessoa próxima ao presidente o chamou de Michael "The Rat" Cohen ("rato", "traidor"), afirmou um jornalista da CNN.

E agora, o que acontece?

Envolver o magnata comandante-em-chefe em um crime federal foi um movimento espetacular de seu antigo aliado, indicando uma disposição de cooperar com os promotores, tentando reduzir, assim sua pena de prisão, segundo os especialistas.

No sistema de justiça dos Estados Unidos, aqueles que cooperam podem reduzir substancialmente sua pena. Cohen já enfrenta de quatro a cinco anos atrás das grades.

Mitchell Epner, um ex-promotor federal que se tornou advogado de defesa da firmaRottenberg Lipman Rich, afirmou que "um bom promotor sabe apertar o tubo da pasta de dente até sair tudo".

Investigação russa

"Acho que a questão mais importante é se ele (Cohen) vai virar parte da investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016", diz Diane Marie Amann, professora de direito da Universidade da Geórgia.

"Isso parece muito provável", acrescentou.

O advogado de Cohen, Lanny Davis, disse à CBS News que seu cliente tem informações sobre os esforços de manipulação eleitoral durante a campanha de 2016 que seriam de interesse para o promotor especial Robert Mueller, encarregado da investigação.

"Falar em público é uma maneira de transmitir uma mensagem a muitas pessoas diferentes sobre o possível dano que Cohen pode causar ao presidente e seus associados", disse Amann à AFP. "De certa forma, o clima político pode mudar".

O acordo de Cohen de se declarar culpado não o obriga a cooperar, mas tampouco exclui essa possibilidade. "Ele não tem que envolver mais ninguém", declarou Lisa Kern Griffin, professora de direito da Duke University.

"Mas certamente sugere um compromisso de cooperação", destacou.

Mas por que ele fez isso?

Se Cohen tivesse ido a julgamento, esperando por um possível perdão presidencial, isso custaria a ele milhões sem qualquer indicação de que a Organização Trump pagaria a conta.

A relação de Cohen com seu antigo chefe foi se deteriorando de forma progressiva.

Trump se distanciou de Cohen depois de se mudar para a Casa Branca. E quando foi revelado que o advogado estava sob investigação federal, o presidente lavou as mãos, dizendo que não tinha nada a ver com ele.

Sem dúvida, isso soou como uma traição para Cohen, que era vice-presidente executivo da Trump Organization e que talvez tivesse sonhado com um posto na Casa Branca.

Em julho, Cohen disse aos investigadores que o presidente tinha conhecimento prévio de uma reunião realizada em junho de 2016 entre membros de sua equipe de campanha e autoridades russas, na qual teriam sido fornecidas informações comprometedoras sobre sua adversária eleitoral, a democrata Hillary Clinton.

Trump sempre negou estar ciente disso.

Mas Cohen teria provas para apoiar qualquer acusação contra o presidente?

Sua credibilidade é muito questionada tanto por ser um criminoso condenado quanto por seu histórico de repetidas mentiras.

"A grande pergunta é: o que mais ele tem?", questiona Epner. "Se a única coisa que tem a oferecer é seu testemunho, não vale muita coisa".

Agentes do FBI revistaram os escritórios de Cohen em Nova York em abril e confiscaram um monte de documentos que o advogado pode usar para esclarecer fatos.

O juiz estabeleceu o dia 12 de dezembro como a data em que será emitida a sentença contra Cohen. Se essa data for adiada, será um sinal revelador de que o ex-advogado de Trump pode ter oferecido cooperar mais.

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