Crise de refugiados: mais de 620 mil membros da comunidade rohingya fugiram para Bangladesh (Danish Siddiqui/Reuters)
EFE
Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 09h38.
Genebra - Mianmar negou o acesso ao país da relatora atribuída pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU para fazer um acompanhamento da situação no país, onde a minoria muçulmana rohingya é alvo de perseguição, informou nesta quarta-feira a organização.
"O Governo de Mianmar informou à relatora especial Yanghee Lee que nega qualquer acesso ao país e cooperação enquanto durar seu mandato", explicou o Escritório de Direitos Humanos da ONU num comunicado.
Estava previsto que Lee visitasse Mianmar em janeiro para avaliar questões relativas aos direitos humanos em todo o país, incluindo os abusos perpetrados contra os rohingyas, no estado de Rakain.
Lee, citada na nota, mostrou decepção pela atitude do Governo de Mianmar e disse que esta proibição é "um forte indício de que algo terrível está acontecendo em Rakain, bem como no resto do território.
Mais de 620 mil membros desta comunidade fugiram para Bangladesh, onde estão como refugiados, devido a uma onda de violência na qual, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras, foram assassinados pelo menos 6,7 mil rohingyas, incluídas 730 crianças menores de cinco anos, durante os primeiros 30 dias de crise, que começou em 25 de agosto.
Em diferentes fóruns e reuniões da ONU, o Governo do país prometeu que cooperaria com a organização, bem como com a missão da relatora especial.
Entre as explicações que as autoridades deram para sua decisão está o conteúdo crítico das declarações que Lee realizou após a visita que fez em julho à Mianmar, que até agora tinha aceitado colaborar com Lee.
Lee indicou que "havia uma relação de respeito mútuo", mas que agora o Governo a acusa de ter agido com deslealdade e sem objetividade.
Um relator especial atribuído pela ONU a um país específico requer realizar duas visitas anuais ao mesmo para poder preparar um relatório completo para o Conselho de Direitos Humanos e a Assembleia Geral da ONU.
Desde que assumiu esta missão, Lee visitou Mianmar seis vezes, embora nem sempre pôde se deslocar para onde desejava porque as autoridades não a autorizavam, alegando problemas de segurança.
Minmar está em uma posição de não cooperação que já tinha adotado com uma comissão investigadora independente, instância igualmente criada pelo Conselho de Direitos Humanos para documentar as violações graves dos direitos humanos neste país.
"É uma vergonha que Mianmar tenha optado por este caminho. Eles sempre afirmaram que não têm nada para esconder, mas sua recusa a cooperar com meu mandato e com a missão investigadora indica o contrário", comentou a relatora, que mesmo assim mostrou esperanças de que as autoridades mudem de opinião.