Retratos de estudantes desaparecidos são expostos durante protesto na Cidade do México (RONALDO SCHEMIDT/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2014 às 10h13.
Cidade do México - As autoridades mexicanas deram nesta quarta-feira detalhes sobre a violenta noite de 26 de setembro em Iguala e apontaram como principais responsáveis o prefeito e sua esposa, mas não disseram nada sobre o paradeiro dos 43 estudantes, a principal exigência de milhares de mexicanos que se mobilizaram hoje no país.
Quase um mês depois do dia em que seis pessoas morreram e 25 ficaram feridas após ataques cometidos por policiais locais, começam a ser decifradas as incógnitas deste fato que hoje voltou a levar milhares de mexicanos que exigem justiça para as ruas.
O procurador-geral, Jesús Murillo, explicou em entrevista coletiva que os autores intelectuais dos eventos daquela noite são o então prefeito, José Luis Abarca, sua esposa, María de Los Angeles Pineda, e o secretário de Segurança, Felipe Flores.
Abarca, desligado do cargo no último dia 17 pelo Congresso do estado de Guerrero, está em paradeiro desconhecido desde o dia 28 de setembro, quando se apresentou à imprensa para dizer que não tinha nada a ver com o ocorrido porque estava "em um baile".
No dia 26 a primeira-dama local tinha um evento público em que seu marido estava presente e ele foi avisado pelo secretário de Segurança que um grupo de estudantes da conflituosa escola Normal Rural de Ayotzinapa estava se aproximando do município.
O prefeito deu ordem para reprimi-los, sem saber que os alunos só estavam indo ao município para pedir dinheiro para financiar suas atividades diárias.
Um aluno da Normal confirmou à Agência Efe que participaram de um incidente em junho de 2013, quando a prefeitura foi atacada, em solidariedade ao grupo camponês que liderou a manifestação, e que não sabiam que Abarca estava tão ligado ao crime organizado.
O incidente de 26 de setembro culminou com a prisão de 52 pessoas: policiais de Iguala e do município vizinho de Cocula, e de bandidos do cartel dos Guerreros Unidos, incluído o líder, Sidronio Casarrubias.
As declarações deste último, contou Murillo, serviram também para descobrir que o crime organizado estava completamente infiltrado na prefeitura, que recebia regularmente do cartel entre dois e três milhões de pesos (entre R$ 350 mil e R$ 500 mil).
Piñeda, familiar de dois operadores do cartel, era a encarregada de distribuir este dinheiro com a cumplicidade de seu marido e de Felipe Flores, afirmou Murillo. A ordem de prisão contra eles já foi emitida.
Pelo menos 600 mil pesos eram destinados mensalmente para o suborno da polícia local e os próprios membros do cartel decidiam sobre as novas admissões de soldados à corporação.
Embora mais de 50 pessoas tenham sido presas, faltam as peças chave. Os estudantes, depois de serem atacados, foram levados em patrulhas à delegacia e depois transferidos por um caminho de terra ao morro da cidade Velho, controlado por um braço direito dos Guerreros Unidos, "Gil".
Ele avisou Casarrubias, mas os atribuiu a "um grupo criminoso rival".
Por isso, o líder do cartel aprovou "as ações para a defesa de seu território em Iguala", explicou o promotor, que ressaltou que essa organização disputa várias áreas de Guerrero com Los Rojos, ambos dissidências do cartel dos irmãos Beltrán Leyva.
Foi nesse morro que foram encontradas nove fossas com 30 corpos, e onde se perdemas pistas dos estudantes.
Os testes de DNA realizados nas amostras tomadas pela promotoria de Guerrero revelaram que os restos não são dos jovens desaparecidos, mas diante da possibilidade de "um erro" as autoridades decidiram enviar o material para análise de peritos argentinos.
Apesar dos avanços nas investigações, a principal reivindicação da sociedade mexicana é o paradeiro destes 43 jovens estudantes de magistério. Milhares de pessoas se reuniram em várias cidades do país em solidariedade às famílias dos estudantes para exigir que o governo intensifique os trabalhos de busca.
Na manifestação realizada na própria cidade de Iguala um grupo de professores e estudantes incendiou a prefeitura em que Abarca trabalhava.
Na capital, 25 mil mexicanos, a maioria vestidos de branco, caminharam e iluminaram as ruas da cidade com tochas, velas.
A manifestação, que partiu do Monumento do Ángel de la Independencia ao Zócalo (praça central), tinha estudantes, professores, grupos sindicais e sociais, que exigiram que os estudantes sejam encontrados com vida.
Além das manifestações, centenas de escolas declararam greve hoje para se unir aos protestos e exigir o paradeiro dos estudantes.