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México: legislativo convoca chanceler para explicar negociações com EUA

O governo mexicano conseguiu na última sexta uma trégua de 45 dias com os EUA, que ameaçam aplicar tarifas caso o país não interrompa o fluxo migratório

México: oposição e alguns membros da bancada governista levantaram questões sobre o acordo com os EUA (Alkis Konstantinidis/Reuters)

México: oposição e alguns membros da bancada governista levantaram questões sobre o acordo com os EUA (Alkis Konstantinidis/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de junho de 2019 às 11h17.

A possibilidade de o México se tornar um "país terceiro seguro" para migrantes em busca de refúgio nos Estados Unidos, como exige o presidente americano, Donald Trump, assusta os legisladores mexicanos.

Nesta sexta-feira (14), os congressistas esperam a presença do ministro mexicano das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard, na Casa, para prestar esclarecimentos sobre suas negociações com Washington.

Enquanto o governo comemora o fato de, na última sexta-feira, Washington dar uma trégua de 45 dias sobre sua ameaça tarifária à espera de ações do México para impedir o fluxo migratório, no Senado, a oposição e alguns membros da bancada governista levantaram questões.

Ebrard admitiu que, para a Casa Branca, o único arranjo possível é que o México se torne um "país terceiro seguro". Isso significa que os migrantes que chegarem a seu território terão de tramitar em território mexicano seu pedido de asilo, e não nos Estados Unidos.

O chanceler ressaltou que tal acordo pode ser aprovado somente pelo Senado, onde muitos rejeitam essa abordagem do assunto.

"Em poucas palavras, o governo mexicano revelou o alcance desse diálogo. Diz que não pode fazê-lo por razões estratégicas", afirmou na quarta-feira Gustavo Madero, líder do Partido de Ação Nacional (PAN), a segunda força política do país.

Para Madero, como resultado de, segundo ele, uma dupla fraqueza - a da economia mexicana e a do governo -, Ebrard aceitou condições unilaterais e discricionárias. "Isso nos prostra diante dos Estados Unidos", disse ele.

A desinformação é alimentada por Trump, que comentou, em conversa com jornalistas, sobre um suposto "acordo secreto".

"Nós não sabemos em quem acreditar, porque Ebrard não nos dá mais explicações, e Trump não é uma pessoa muito confiável, sendo claro que utiliza o México como parte de sua campanha para a reeleição", disse à AFP o cientista político e historiador José Antonio Crespo.

Trump acusa o México de permitir a passagem de migrantes, principalmente da América Central, que tentam chegar aos Estados Unidos.

Diante da pressão da oposição, um comparecimento de Ebrard foi acordado nesta sexta-feira ante a comissão permanente que reúne deputados e senadores quando o Legislativo está em recesso.

"Sob nenhuma circunstância pode comprometer o Estado mexicano em qualquer assunto internacional, sem a intervenção do Senado", advertiu Damian Zepeda, senador do PAN.

O descontentamento atinge até mesmo alguns do partido Morena, no poder, como Porfirio Muñoz Ledo, líder da Câmara dos Deputados.

"Querem nos transformar em um país enjaulado. Se for aprovada a condição de um país terceiro seguro, isso significa que aqueles que entrarem aqui não poderão sair", reclamou.

Até o momento, o México se comprometeu com a implantação de 6.000 homens da Guarda Nacional na fronteira sul para conter a onda de migrantes.

Para Crespo, o México já é um país terceiro de fato porque recebe, sem apoio econômico, certo número de migrantes enquanto espera por suas audiências de asilo nos Estados Unidos. Agora, esse número deve aumentar.

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