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México e EUA concordam com 'ações coordenadas' contra cartéis; 29 traficantes são extraditados

Anúncio ocorre em meio a pressão, incluindo tarifária, da Casa Branca, sobre o governo mexicano; traficante conhecido como o 'Narco dos Narcos' será enviado aos EUA

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 28 de fevereiro de 2025 às 07h31.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2025 às 07h34.

A Chancelaria do México anunciou ter chegado a um acordo com os Estados Unidos sobre a adoção de “ações coordenadas” contra o narcotráfico, "com o objetivo central de reduzir as mortes em ambos os países devido ao consumo de fentanil ilegal e ao uso de armas de fogo traficadas ilegalmente”. O anúncio veio pouco depois do governo mexicano anunciar a extradição para os Estados Unidos de 29 acusados de integrarem cartéis e que eram procurados pela Justiça americana.

O comunicado, emitido após uma reunião do Gabinete de segurança mexicano, que integra a Chancelaria e os ministérios da Defesa, Segurança e Marinha, com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirma que foi travado um diálogo “cordial e produtivo”, centrado em combater as atividades criminosas dos dois lados da fronteira. O encontro ocorreu em Washington, e também envolveu os secretários de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, e de Justiça, Pam Bondi.

Não foram detalhadas quais serão as medidas adotadas daqui para frente, mas o texto sugere que elas estão sendo discutidas há algumas semanas em vários níveis entre os dois governos, incluindo entre os presidentes Donald Trump e Claudia Sheinbaum.

“Autoridades mexicanas apresentaram o progresso significativo feito em apreensões, prisões e operações desde a conversa entre a presidente Claudia Sheinbaum e o presidente Donald Trump em 3 de fevereiro", disse o comunicado.

O Departamento de Estado não se pronunciou.

Os dois lados ainda concordaram em manter reuniões periódicas do grupo de trabalho de segurança, além de manter comunicação permanente. Segundo os mexicanos, as medidas adotadas daqui para frente seguirão princípios estabelecidos por Sheinbaum: responsabilidade compartilhada, confiança mútua, cooperação sem subordinação e respeito à soberania.

Trump anuncia que tarifas para México, Canadá e China entram em vigor na terça-feira, 4 de março

O combate ao narcotráfico, ao lado da imigração, é tópico central na pauta da diplomacia americana para o México. A Casa Branca acusa o governo mexicano de não fazer o suficiente para conter o tráfico de drogas, em especial do fentanil, responsável por uma crise de saúde nos EUA, e para não impedir a chegada de imigrantes até a fronteira.

Como forma de pressão, ele afirmou que adotará uma tarifa de 25% sobre todos os produtos importados do México (e também do Canadá), já a partir da semana que vem.

"As drogas continuam entrando em nosso país vindas do México e do Canadá em níveis muito altos e inaceitáveis", afirmou Trump em sua rede social, o Truth Social, nesta quinta-feira. "Não podemos permitir que esse flagelo continue a prejudicar os Estados Unidos e, portanto, até que seja interrompido ou seriamente limitado as tarifas "programadas 4 de março entrarão em vigor conforme planejado.”

Na véspera, ele havia afirmado diante de seu Gabinete que poderia adiar a aplicação das medidas até o dia 2 de abril, um anúncio que chegou a mexer nos mercados financeiros canadenses e mexicanos.

A ameaça tarifária é feita por Trump desde sua posse, em janeiro, e foi acompanhada por medidas como uma maior pressão nas fronteiras, ligada à imigração, e medidas pouco afáveis ao governo do México. A designação de carteis como organizações terroristas, o que poderia abrir caminho para ações americanas em solo mexicana, foi criticada pela presidente Sheinbaum, que prometeu defender a soberania de seu país. Ela também criticou as empresas de armas dos EUA, principais fornecedoras, de maneira irregular, para os grupos criminosos.

Nesta quinta-feira, a presidente mexicana disse esperar conversar com Trump nos próximos dias, mas tentou manter a cabeça fria: em entrevista coletiva, disse que o republicano “tem sua maneira de se comunicar”, e que espera obter um acordo para, no dia 4 de março “anunciar alguma outra coisa”.

Extradição de narcotraficantes

Pouco antes do anúncio, autoridades mexicanas anunciaram a extradição de 29 pessoas procuradas pela Justiça dos EUA, acusadas de participação em cartéis do narcotráfico no país. Os nomes dos acusados não foram divulgados inicialmente, mas a imprensa local afirma que a lista inclui Rafael Caro Quintero, procurado pelo assassinato do agente americano Enrique "Kiki" Camarena" en 1985 e conhecido como “Narco dos Narcos”. A informação foi confirmada pelas autoridades mexicanas no começo da noite.

Também teriam sido extraditados os irmãos Miguel e Omar Treviño Morales, do cartel Los Zetas, e processados na Justiça americana por envolvimento em uma atividade criminosa contínua, conspiração para tráfico de drogas, crimes com armas de fogo e lavagem de dinheiro.

"Este é um momento incrivelmente importante e marca um verdadeiro ponto de virada", disse Ray Donovan, ex-chefe de operações da agência antidrogas dos EUA, a DEA, ao New York Times. "Isso mostra a disposição do presidente Sheinbaum de trabalhar conosco para mirar e desmantelar as organizações criminosas que impactaram os Estados Unidos e o México por gerações".

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