Candidata presidencial mexicana Claudia Sheinbaum no lançamento de sua campanha (Alexander MARTINEZ/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 28 de maio de 2024 às 06h00.
No próximo domingo, 2, o México celebrará as maiores eleições de sua história, que levarão pela primeira vez uma mulher à presidência em um país abalado pelo tráfico de drogas e pela violência de gênero.
Apoiada pela popularidade do presidente em exercício, Andrés Manuel López Obrador, a candidata de esquerda Claudia Sheinbaum, de 61 anos, é a favorita para governar até 2030 o maior país de língua espanhola e a segunda maior economia latino-americana depois do Brasil.
Física e ex-prefeita da Cidade do México (2018-2023), de origem judaica, Sheinbaum lidera as intenções de voto, à frente de sua adversária de centro-direita Xóchitl Gálvez, senadora e empresária de raízes indígenas, também de 61 anos.
A média das principais pesquisas, realizadas pela empresa Oraculus, concede a Sheinbaum 55% de apoio, contra 33% de Gálvez.
"É uma grande mudança", disse Guadalupe Correa-Cabrera, professora da Universidade George Mason, nos Estados Unidos, sobre a chegada iminente de uma mulher ao poder neste país com uma forte tradição machista.
"Será uma inspiração para as mulheres em todos os setores", acrescentou.
Em terceiro aparece Jorge Álvarez Máynez (12%), um ex-deputado centrista de 38 anos, que retomou as atividades no sábado após a morte na semana passada de nove pessoas quando um palco desabou durante um de seus comícios.
Quase 100 milhões de mexicanos – de uma população de 129 milhões – estão aptos a votar nesta eleição de turno único, vencida por maioria simples.
Pouco mais de 20 mil cargos, incluindo o Congresso e nove dos 32 governadores, estão em disputa nas eleições, que ocorrem após o assassinato de 30 candidatos a cargos locais.
Sheinbaum, definida por sua equipe como uma mulher de caráter e disciplinada, baseou sua campanha na promessa de dar continuidade ao projeto de López Obrador, o primeiro presidente de esquerda do México, cujo índice de aprovação chega a 66%. No México não há reeleição.
Durante os seis anos de mandato de López Obrador, 8,9 milhões de pessoas saíram da pobreza, situação que ainda abrange mais de um terço da população, segundo dados oficiais.
"Vou votar na Claudia porque com ela vai ter educação, bolsas. Fizemos certo com o governo atual", disse Ricardo Escobar, que aos 20 anos, sem emprego formal, votará pela primeira vez em Atlacomulco (estado do México, centro).
Gálvez, nascida em uma família humilde e que se tornou uma empresária de sucesso no setor da tecnologia, concentrou o seu discurso na recuperação da segurança, o calcanhar de Aquiles de AMLO (iniciais do presidente em exercício), a quem acusa de tolerância com cartéis do tráfico de drogas.
"Uma das coisas que mais afetam os jovens é o trabalho e, obviamente, a insegurança", disse Fátima González, uma comerciante de 20 anos de Atlacomulco, que votará em Xóchitl, a quem admira por sua "autenticidade".
Gálvez é apoiada por uma coalizão dos partidos tradicionais PRI (que governou durante sete décadas até 2000), PAN e PRD.
O México está preso em uma espiral de violência desde o início de uma ofensiva militar em 2006 contra os cartéis, que obtêm lucros milionários com o tráfico de drogas sintéticas para os Estados Unidos, onde se abastecem com armas.
Desde então, o país acumulou mais de 450 mil homicídios e mais de 100 mil desaparecimentos, segundo dados oficiais. As mulheres também são atingidas pela violência: os números do governo registraram 852 feminicídios no ano passado.
A expansão do crime organizado, que se alimenta de outros crimes como a extorsão, "é o problema mais intimidador que Sheinbaum terá que enfrentar" se for eleita, afirmou Michael Shifter, pesquisador e ex-presidente do 'think-tank' Diálogo Interamericano, com sede em Washington.
Por enquanto, "tudo permanecerá igual para os poderosos cartéis que controlam grandes áreas", disse Correa-Cabrera.
A nova presidente terá também o desafio de manter os programas sociais em que AMLO baseia a sua popularidade, sem aumentar o déficit fiscal (5%), contrair dívidas ou aumentar impostos.
Outro desafio será a relação "ampla e complexa" com os Estados Unidos – dos quais o México é o principal parceiro comercial –, especialmente se o ex-presidente americano Donald Trump for reeleito em novembro, afirmou Shifter.