Bonde "Metrocable" no bairro de Santo Domingo: segundo estudo, taxa de homicídios nos bairros pobres de Medellín que têm Metrocable despencou 66% entre 2003 e 2008 (AFP/Arquivos)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2014 às 17h45.
Em Medellín, o "plano inclinado dos pobres", inaugurado há dez anos, mudou a vida dos desamparados da segunda maior cidade da Colômbia. A experiência revolucionou o antigo reduto dos chefões das drogas e inspira cidades violentas, como Rio de Janeiro e Caracas.
Uma linha do metrô com bibliotecas nas estações, um plano inclinado e até escadas rolantes ao ar livre levaram conforto e dignidade aos moradores das regiões mais pobres desta cidade de 2,5 milhões de habitantes, que nos anos 1990 foi uma das mais perigosas do mundo.
Os habitantes da Comuna 13, uma das mais pobres e violentas, voltam confortavelmente para casa. As escadas rolantes substituem os 350 degraus que eles precisavam subir diariamente depois do trabalho.
Este sistema de transporte "gera um sentimento de pertencimento", disse à AFP Juliana Correa, diretora de comunicações do metrô.
"Antes, as pessoas dos bairros pobres dos morros diziam, 'Vou descer para Medellín'. Agora se sentem parte da cidade", afirmou.
A estação Acevedo é hoje uma atração turística com sua imponente vista da cidade, uma enorme biblioteca e um serviço de aluguel de bicicletas.
"Este era um bairro muito violento, não tinha tanta gente, não tinha tanto transporte", diz Luz Valdés, uma mulher que trabalha em uma pequena loja de comestíveis nos arredores da estação.
"Agora há muito emprego, muito turista que vem de longe visitar o bairro porque ficou muito bonito com o Metrocable (plano inclinado) e a Biblioteca Espanha", acrescenta.
A noite escura
Hoje, o terror vivido quando o narcotraficante Pablo Escobar foi o dono da cidade por mais de uma década, até sua morte em 1993, é uma lembrança distante.
Medellín viveu "uma noite escura, longa e dolorosa", lembra em declarações à AFP seu prefeito, Aníbal Gaviria.
A cidade teve nos anos 1990 os mais elevados índices de homicídios, com 380 por 100.000 habitantes. Em 2013, a taxa foi dez vezes menor, segundo a prefeitura.
A chave para combater a violência foi um programa de "acupuntura urbana" que visa à integração social.
O plano, que conta em 2014 com um orçamento de 88 milhões de dólares, oferece serviço de transporte em pontos críticos e promove a educação, a cultura, a saúde e a mobilização de forças de segurança a fim de devolver a presença do Estado aos bairros pobres.
"Projetos como o Metrocable, como o próprio metrô, as escadas rolantes, as bibliotecas, de alguma forma envolvem a presença do Estado em locais da cidade que tinham sido abandonados", diz Gaviria.
O teleférico dos pobres, uma inspiração
Ferney Navarro, de 32 anos, é usuário do plano inclinado. Ele confirma que há mais controle por parte das autoridades. "Já há mais controle das autoridades. Ao ver tantos turistas, o governo teve que apertar (a fiscalização) porque antes estávamos muito abandonados e, agora, temos mais proteção", diz.
As estatísticas apoiam sua percepção. Segundo um estudo da Universidade de Columbia (EUA), a taxa de homicídios nos bairros pobres de Medellín que têm Metrocable despencou 66% entre 2003 e 2008.
O segredo de Medellín é sua capacidade de adaptar iniciativas de outras partes do mundo, o que ao mesmo tempo a transformou em "uma inspiração para outras cidades que vivem momentos difíceis", afirma o prefeito.
O Metrocable, "o teleférico dos pobres", ganhou similares no Rio de Janeiro e em Caracas. E na Bolívia foi iniciada a construção de uma linha de teleférico para unir La Paz à vizinha El Alto.
A ideia é que se o transporte público flui e o entorno urbano é cuidado - com agências do correio, bancos e bibliotecas -, a vida melhora para os moradores das comunidades e a experiência leva benefícios para toda a cidade.
"O teleférico é um símbolo do Programa de Aceleração do Crescimento no que este programa tem de mais importante para o Brasil. Nós não voltamos só a investir na infraestrutura das rodovias, das ferrovias, das hidrelétricas. Nós fazemos obras para beneficiar a vida diária de cada um. E aqui nós temos isto", disse em 2011 a presidente Dilma Rousseff, no discurso de inauguração do teleférico no complexo do Alemão, inspirado no Metrocable de Medellín.
Em Caracas, a iniciativa da cidade colombiana foi retomada para o bairro San Agustín del Sur, na zona oeste da cidade, onde não é mais preciso subir escadarias intermináveis. Desde 2010, um Metrocable transporta diariamente mais de 40 mil pessoas em nove minutos, do pé do morro até as áreas populosas do alto.
Em 2012 foi inaugurada outra linha para ligar o bairro de Mariche e para dezembro de 2014 está previsto um traçado similar para Petare, a maior favela da capital venezuelana e uma das mais populosas da América Latina.