Um grande número de jornalistas acompanha o primeiro sermão na Mesquita Aberta da Cidade do Cabo, África do Sul (Rodger Bosch/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2014 às 17h31.
Cidade do Cabo - Uma mesquita aberta aos homossexuais, que trata mulheres e cristãos em pé de igualdade, abriu suas portas na Cidade do Cabo nesta sexta-feira sem qualquer incidente, apesar das ameaças de manifestações hostis.
A "Open Mosque" (Mesquita Aberta) estava lotada de jornalistas para sua primeira sexta-feira de orações. Policiais estavam mobilizados ao redor do prédio, e alguns manifestantes muçulmanos se contentaram em protestar com frases como "Vocês vão para o inferno".
"Vamos acabar com isso, não importa como", disse um dos manifestantes à AFP em frente à pequena mesquita, uma antiga oficina localizada entre dois estacionamentos em um bairro da Cidade do Cabo.
O sul-africano Taj Hargey, diretor do Centro de Educação muçulmana de Oxford, é o fundador da "Open Mosque", que ele vê como uma "revolução religiosa", que deve fazer parte da revolução política que foi a chegada ao poder de Nelson Mandela em 1994, após décadas de um sistema de segregação racial.
Em seu primeiro sermão, este teólogo condenou a crescente tensão no mundo entre muçulmanos e cristãos, atribuída por ele à "teologia pervertida" de países como a Arábia Saudita e o Paquistão, que abrem espaço para grupos fanáticos, como o Estado Islâmico ou o Boko Haram na Nigéria.
Após as orações, Hargey disse aos jornalistas que havia sido alvo de ameaças físicas e psicológicas. "Eles ameaçaram me castrar, decapitar, enforcar. Mas a África do Sul tem a constituição mais liberal do mundo. Eles não poderiam nos impedir de abrir hoje".
Com altos índices de violência política e social, a África do Sul é, paradoxalmente, um país onde a tolerância religiosa e a coexistência pacífica entre todas as religiões está enraizada na cultura nacional.
A África do Sul é uma nação predominantemente cristã, onde muitas igrejas coexistem. Mas o país conta com uma minoria de 737 mil muçulmanos - 1,5% da população -, em sua maioria de origem indiana, de acordo com dados do Centro de Pesquisa Pew.
Esta não é a primeira polêmica em que Hargey se envolve. Na Grã-Bretanha, ele lançou uma campanha para proibir a burca.