Peru: Maduro classificou a Cúpula das Américas como perda de tempo e disse que evento será um fracasso (Ivan Alvarado/Reuters)
EFE
Publicado em 13 de abril de 2018 às 11h15.
Caracas - A Venezuela tornou-se um dos protagonistas da Cúpula das Américas mesmo antes de o evento começar: o presidente do país, Nicolás Maduro, foi desconvidado pelo governo do Peru, o anfitrião, e após tentar reverter o quadro, sem sucesso, desistiu de insistir em participar e classificou o encontro como uma "perda de tempo".
O cenário já controverso ganhou ainda mais em tensão após a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski à presidência do Peru. O ex-presidente criticou duramente Maduro e foi responsável por promover o chamado Grupo de Lima, que apoiou a decisão do país anfitrião depois de o chavista ter antecipado as eleições presidenciais na Venezuela.
Em fevereiro, o Peru retirou o convite de Maduro para a Cúpula das Américas e buscou o apoio dos 14 países da região que formam o Grupo de Lima, entre eles o Brasil, que vetaram a presença do presidente da Venezuela com base na Declaração de Québec, em 2001.
A declaração afirma que "qualquer alteração ou ruptura inconstitucional da ordem democrática em um Estado do hemisfério constitui um obstáculo insuperável para a participação do governo de tal Estado no processo da Cúpula das Américas".
Faltando dez dias para o evento, o novo presidente do Peru, Martín Vizcarra, anunciou que manteria a decisão de não convidar Maduro, afirmando que o governo da Venezuela impossibilita a realização de eleições livres e justas no país.
Dois dias depois do anúncio, Maduro respondeu. Para o presidente venezuelano, a Cúpula das Américas não é uma prioridade.
"É uma perda de tempo terrível. Será um fracasso", afirmou.
Essa é a primeira vez que Maduro critica o evento. Um dia antes de Vizcarra assumir a presidência do Peru, o presidente da Venezuela insistiu que iria à Cúpula das Américas e pediu para o chanceler do país, Jorge Arreaza, coordenar sua chegada com quem o receberia em Lima, já que Kuczynski tinha renunciado ao cargo.
As eleições presidenciais da Venezuela, marcadas para o próximo dia 20 de maio, serão realizadas sem a participação da oposição, que critica o pleito por considerar que haverá fraude.
Os opositores exigem a troca dos representantes do Conselho Nacional Eleitoral por considerá-los aliados de Maduro. Os antichavismo também querem a participação de líderes que foram inabilitados de disputar o pleito pela Justiça ou outros órgãos.
Maduro disse há poucos dias que queria apresentar "verdades" sobre a Venezuela no evento e que contava com o apoio da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), formada por Cuba, Bolívia, Nicarágua, Equador e outros países do Caribe.
Durante a XV Cúpula da Alba, realizada no último dia 5 de março, em Caracas, os países-membros criticaram a decisão de retirar o convite a Maduro, mas nenhum ameaçou não comparecer ao evento.
"Exigimos respeito à legalidade da organização da Cúpula das Américas. Nesse sentido, exigimos o direito de participação da Venezuela e nos propomos a exercer medidas diplomáticas e políticas para garanti-lo", disse o texto final da Cúpula da Alba.
Enquanto isso, a crise econômica, política e social da Venezuela se amplia, a hiperinflação segue afetando os bolsos dos cidadãos, que sofrem com a falta de remédios e alimentos básicos.
Além disso, a criminalidade cresce ao mesmo ritmo da crise econômica. A situação caótica vivida pelo país provocou um êxodo em massa de venezuelanos para os demais países da região, entre eles o próprio Peru, anfitrião da cúpula, e o Brasil.
Às vésperas do evento, um grupo de venezuelanos em Lima se organizou para protestar contra Maduro, apesar de o presidente do país ter sido desconvidado.