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Merkel tem vitória histórica nas legislativas alemãs

Assombrosa marca de 42,3% dos votos atribuída a Merkel é o resultado mais expressivo dos conservadores desde a reunificação da Alemanha, em 1990


	Merkel: se ela cumprir o mandato pelo menos até 2017, se tornará a líder europeia mais longeva no poder, superando Margaret Thatcher
 (REUTERS/Tobias Schwarz)

Merkel: se ela cumprir o mandato pelo menos até 2017, se tornará a líder europeia mais longeva no poder, superando Margaret Thatcher (REUTERS/Tobias Schwarz)

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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2013 às 18h00.

São Paulo - A chanceler alemã, Angela Merkel, conquistou uma vitória histórica este domingo nas legislativas alemãs, ao obter uma maioria que lhe garante um terceiro mandato à frente da maior economia da Europa, segundo estimativas da TV estatal difundidas após o fechamento das urnas.

A assombrosa marca de 42,3% dos votos atribuída a Merkel é o resultado mais expressivo dos conservadores desde a reunificação da Alemanha, em 1990.

Caso conquiste 304 das 606 cadeiras da Bundestag (Parlamento alemão), ela poderá governar sozinha, sem ter que se aliar à oposição social-democrata (SPD), algo que não ocorre desde 1957, quando quem estava no poder era o primeiro líder do pós-guera alemão, Konrad Adenauer.

Merkel comemorou o que chamou de "super-resultado" do seu partido, a União Democrata-cristã (CDU) e prometeu "mais quatro anos de sucessos".

"Juntos, faremos tudo nos próximos quatro anos para voltar a fazer deles anos de sucesso para a Alemanha", disse Merkel aos efusivos membros da CDU, em Berlim.

"A liderança do partido discutirá tudo quando tivermos um resultado final, mas já podemos comemorar esta noite", destacou uma sorridente Merkel a seus simpatizantes, incluindo o marido, o farmacêutico Joachim Sauer, um fã de música tão raramente visto em público que ganhou o apelido de "O Fantasma da Ópera".

Física de formação, Merkel é a terceira pessoa a conquistar um terceiro mandato na História da Alemanha, depois de Adenauer e Helmut Kohl, o pai da unificação alemã.

Se ela cumprir o mandato pelo menos até 2017, se tornará a líder europeia mais longeva no poder, superando Margaret Thatcher, que foi primeira-ministra da Grã-Bretanha por 11 anos.

A mulher mais poderosa do mundo

Parceiro de Merkel na condução da política econômica no Velho Continente, o presidente francês, François Hollande, felicitou a colega, defendendo a manutenção da "estreita cooperação" entre Paris e Berlim para reforçar a construção europeia.


Em conversa por telefone, Hollande e Merkel "manifestaram sua vontade de seguir trabalhando incansavelmente na aproximação entre França e Alemanha e prosseguir com sua cooperação estreita para superar os novos desafios da construção europeia".

O presidente francês convidou Merkel a viajar a Paris "assim que formar o novo governo" para "preparar" a "agenda futura".

O presidente do Conselho da União Europeia, Herman Van Rompuy, também cumprimentou Merkel pela vitória, também destacando o papel da Alemanha na construção europeia.

"Felicito Angela Merkel pelo resultado das eleições", escreveu Van Rompuy em um comunicado. "Tenho a confiança de que a Alemanha prosseguira com seu engajamento e sua contribuição para a construção de uma Europa pacífica e próspera para todos os seus cidadãos".

Os 59 anos, a chanceler alemã confirmou a posição de mulher mais poderosa do mundo, ao permitir ao seu partido conservador um resultado quase 9 pontos acima da última eleição de 2009, segundo a TV pública ZDF.

Angela Merkel foi considerada a mulher mais poderosa do mundo pela revista Forbes em sete ocasiões.

Nenhum de seus colegas em Espanha, França, Itália, Portugal e Reino Unido conseguiu ser reeleito desde o começo da crise financeira.

Apesar do bom desempenho de Merkel, seu principal aliado da coalizão, o partido liberal FDP, fracassou na tentativa de alcançar os 5% necessários para ter representantes na Bundestag, algo inédito na História da Alemanha, obtendo apenas 4,5% dos votos.

Os quase 62 milhões de alemães convocados a votar teriam punido o governo atual com uma derrota do FDP, impedindo que o partido se mantenha na coalizão.

Já os oposicionistas social-democratas do SDP obtiveram entre 26% e 26,5% dos votos.

Segundo as projeções, o partido anti-euro 'Alternativa para a Alemanha' (AFD) ficou perto de entrar na Câmara baixa, com 4,8% dos votos, informou o canal estatal ARD.


Alguns analistas alertaram que o bom desempenho do AFD seria um sinal preocupante de avanço do populismo em uma Alemanha exasperada pelos planos de resgate dos países do sul da Europa.

Os Verdes alemães, que despencaram nas pesquisas nas últimas semanas, teriam um resultado muito distante de suas aspirações, com 8%, um claro recuo com relação ao recorde das legislativas de 2009 (10,7%).

A esquerda radical Die Linke também teria recuado, obtendo 8% contra os 11,9% dos votos conquistados na eleição anterior.

= Eleitores dão apoio maciço à sua 'Mutti' =

Segundo estimativas, a participação nas eleições foi mais alta do que nas legislativas alemãs de 2009.

As mais recentes pesquisas de intenção mostravam que a chanceler conservadora, a preferida dos alemães especialmente pela forma como tem administrado a crise do euro, conquistaria a confiança dos cidadãos para um terceiro mandato de quatro anos à frente do país.

Mas todas as consultas previam que ela não conseguiria governar sozinha, e teria que formar, provavelmente "uma grande coalizão", o que parece não se confirmar.

Em contraste com a resposta austera proposta por Merkel à crise da Eurozona, os adversários social-democratas pediam um pouco mais de generosidade e paciência com os países à medida que estes pagam suas dívidas.

Mas os eleitores deram a Merkel um apoio esmagador, endossando completamente sua estratégia de exigir reformas agudas em troca do financiamento de resgate.

Carinhosamente apelidada de 'Mutti' (mamãe) em seu país, Merkel fez uma campanha centrada em sua popularidade pessoal e em seu equilíbrio.

"Vocês sabem quem eu sou! Vocês me conhecem, juntos conseguimos fazer que em 2013 haja um grande número de pessoas que estão melhor do que em 2009!", destacou, ressaltando que o desemprego na Alemanha subiu apenas para 6,8% da população economicamente ativa.


Seu principal adversário, Peer Steinbrück, atacou seus feitos na área social. A Alemanha é um dos países da Europa com a maior proporção de salários mais baixos.

Este economista de 66 anos será lembrado, sobretudo, por uma foto, publicada na capa de uma revista, na qual aparece fazendo um sinal obsceno com o dedo.

O gesto foi feito após uma série de gafes e polêmicas que impediram que o ex-ministro das Finanças de Merkel (2005-2009) defendesse o programa de seu partido.

Steinbrück se comprometeu a instaurar um salário mínimo generalizado 8,50 euros a hora a partir de fevereiro de 2014.

"Está em suas mãos! Por favor, vão votar! Somos o partido que quer atender as carências" sociais, disse sábado Steinbrück em seu último comício, em Frankfurt.

Mas a maioria dos eleitores preferiu a 'Mutti'.

"Penso que temos um bom padrão de vida na Europa, e para mim isto deve permanecer estável. Então, para mim, votar em extremos, na esquerda ou na direita, não é uma resposta", declarou à AFP a irmã Elisabeth Bauer, uma freira, enquanto votava em Berlim.

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