Angela Merkel terá que brigar com as empresas da área para fechar as usinas nucleares (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2011 às 17h50.
Berlim - A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou nesta quarta-feira que deseja eliminar o mais rapidamente possível a energia nuclear da Alemanha, confirmando a mudança de posição depois da catástrofe japonesa.
"Quanto antes sairmos da energia nuclear, melhor", declarou em uma conferência financeira em Frankfurt (oeste), apesar de há alguns meses seu governo ter decidido prolongar a vida útil das centrais do país para descontentamento da opinião pública alemã, tradicionalmente contrária à energia nuclear.
Apesar disso, não anunciou um calendário preciso. "A saída deverá ser feita com prudência" e o debate deverá ser realizado com "bases racionais", acrescentou.
"Discutir racionalmente significa que não serve de nada fechar as centrais nucleares se for para importar energia atômica de nossos vizinhos", disse, referindo-de sobretudo à França.
A crise nuclear de Fukushima, no Japão, "é um acontecimento que marca o mundo e que vai mudá-lo. É por isso que penso que é justo ter um tempo de reflexão" e ver quais são as "lições" que podem ser aprendidas com um evento deste tipo, disse.
Merkel ressaltou que "é urgente desenvolver o abastecimento energético do futuro", considerando que o fim da era nuclear na Alemanha só chegará quando os preços da energia elétrica procedente das energias renováveis forem "abordáveis" e quando a infraestrutura for suficiente.
Apesar da precaução, a saída de Merkel dificilmente será aceita pelas quatro gigantes da energia alemã EON, RWE, EnBW e Vattenfall que operam as centrais nucleares.
As quatro empresas comemoraram quando no ano passado a coalizão governamental conservadora-liberal cumpriu uma das grandes promessas de campanha e anunciou a prolongação da vida dos 17 reatores do país em 12 anos.
Na época, Merkel enterrou o calendário herdado do governo anterior dos Verdes, que previa o fechamento da última central até 2020.
Os gigantes da energia, que no ano passado foram convidados à chancelaria para defender seus reatores, foram surpreendidos pelas mudanças do governo.
Na semana passada, Merkel jogou um balde de água fria ao estabelecer o fechamento provisório dos sete reatores mais antigos do país. E na terça-feira, a chanceler manifestou seus objetivos em relação à energia nuclear para um comitê de ética integrado por representantes das igrejas e universidades, mas sem um representante da indústria.
No momento, a EON e as outras se mantêm discretas para não afetar a opinião pública traumatizada pelo que ocorre no Japão e não complicar ainda mais a tarefa de Merkel antes de eleições regionais fundamentais para o governo no domingo. Mas eles não estão desarmados.
O presidente da EON, Johannes Teyssen, já revelou à imprensa que, na sua opinião, "não é razoável se desfazer apenas de uma parte do pacote" legislativo que prevê a criação de um fundo de desenvolvimento das energias renováveis financiadas pelas empresas que exploram os reatores nucleares.
Tanto a EON como a RWE deixam também em suspenso a questão sobre eventuais ações jurídicas contra o fechamento forçado dos reatores.