Merkel na Turquia: seu objetivo é pressionar o governo turco para que diminua o fluxo de migrantes (Umit Bektas / Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de fevereiro de 2016 às 10h04.
A Turquia prosseguia impedindo a passagem nesta segunda-feira por sua fronteira de milhares de civis que fogem dos combates entre o exército sírio e os rebeldes na província de Aleppo, em plena visita de Angela Merkel a Ancara.
Mais de 30.000 deslocados esperam há dias diante do posto fronteiriço turco de Oncupinar, segundo anúncio feito pelo primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu.
Eles se encontram em meio ao frio e em condições que, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), são cada vez mais "desesperadoras".
O governo islamita conservador de Recep Tayyip Erdogan continua, apesar da pressão da UE, negando-se a abrir seu território para esta nova onda de refugiados, embora tenha prometido a fazê-lo "se for necessário".
A Turquia já acolhe 2,7 milhões de refugiados sírios e também afegãos, iraquianos e eritreus que entraram na Europa em 2015.
Segundo o vice-primeiro ministro turco, Numan Kurtulmus, o país alcançou "os limites de sua capacidade de acolhida". Contudo, esclareceu que abrirá suas portas aos refugiados para não "abandoná-los à morte".
Na fronteira, as autoridades turcas continuam tentando ajudar os refugiados, embora em território sírio.
Desde a sexta-feira, os caminhões da Fundação para a Ajuda Humanitária (IHH), uma ONG islâmica turca próxima ao poder, entregou em Bab al-Salama, uma localidade fronteiriça síria, toneladas de comida.
Fome e frio
Apesar dos esforços da ONG, autorizada a entrar na 'terra de ninguém' entre os dois países, os deslocados, em boa medida mulheres e crianças continuam esperando diante da fronteira em condições muito precárias.
"Temos fome e frio. As pessoas dormem na rua", contou nesta segunda-feira à AFP um adolescente de 15 anos, Mohamad Rahma.
Ferido nos olhos durante um bombardeio russo na cidade de Azaz há um mês, o menino foi um dos poucos sírios autorizados a entrar na Turquia, junto com seu pai, para receber atendimento médica.
Estima-se que há mais de 30.000 civis esperando ao redor de Azaz para entrar na Turquia, embora o número possa alcançar os 70.000, segundo o governador da província turca fronteiriça.
Diante deste novo drama, a União Europeia pressiona a Turquia para que abra suas portas.
Ao mesmo tempo, o bloco pede a Ancara que faça todo o possível para diminuir o ritmo de chegada de refugiados, que a cada dia zarpam das costas turcas rumo às ilhas gregas do Egeu oriental para desde ali alcançarem a Europa central e do norte, começando pela Alemanha.
A chanceler Angela Merkel, criticada em seu país por sua política de portas abertas com os migrantes (em 2015 chegaram mais de 1 milhão) encontrava-se nesta segunda-feira de visita a Ancara.
Seu objetivo é claro: pressionar o governo turco para que diminua o fluxo de migrantes, que segue sendo intenso apesar de um acordo entre a UE e Ancara assinado no final de novembro em Bruxelas.
Em virtude deste, a Turquia se comprometeu a controlar melhor suas fronteiras e lutar contra os traficantes de pessoas em troca de uma ajuda de 3 bilhões de euros.
Os rebeldes ameaçados
No terreno na Síria, as tropas do regime, ajudadas pelos bombardeios aéreos russos, continuaram avançando no norte da província de Aleppo.
Nesta segunda-feira, estavam a apenas 7 km da cidade de Tall Rifaat, "um dos três últimos bastiões dos rebeldes no norte da província", junto com Azaz e Marea, informou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Grego de Direitos Humanos (OSDH).
O objetivo do governo agora é alcançar a fronteira turca, "para impedir a passar a passagem de rebeldes e de armas desde a Turquia", informou Rahman.
A ruptura total das vias de fornecimento seria devastadora para os 350.000 civis presentes nos bairros de Aleppo sob controle rebelde, que poderiam ser privados de comida, água e combustível, segundo MSF.
A batalha de Aleppo poderá marcar uma reviravolta no conflito sírio, que em março completará cinco anos. A queda da segunda maior cidade do país, dividida desde 2012, seria um duro golpe para os rebeldes "moderados", que já estão tendo dificuldades em outras frentes.