Angela Merkel: "É preciso distinguir entre proteção das fronteiras externas e isolamento" (Hannibal Hanschke/Reuters)
EFE
Publicado em 4 de julho de 2018 às 17h39.
Berlim - A chanceler alemã, Angela Merkel, reconheceu nesta quarta-feira o "duro enfrentamento" que manteve com o seu ministro de Interior, Horst Seehofer, por causa da política migratória e reconheceu que podem acontecer novas "controvérsias".
Em entrevista ao canal público "ARD" que será exibida esta noite, mas que já teve trechos divulgados, Merkel destacou que seu governo continua trabalhando e desenvolvendo acordos de coalizão e garantiu que "nesta ocasião" a questão com Seehofer foi por um tema que "levanta paixões". Ela disse estar "convencida" de que o governo alemão seguirá fazendo bem o seu trabalho "não só agora, mas também no futuro".
"Não posso prometer que não volte a ter controvérsias sobre outros temas. É normal em um governo que tem três partidos", disse a ela.
Merkel, no entanto, defendeu a atuação do seu governo, que começou a andar há pouco mais de três meses, após complexas negociações que duraram seis meses.
"Acho que agora, especialmente pelas pessoas que votaram na gente, devemos voltar ao trabalho urgentemente. Mas nos 100 primeiros dias conseguimos muitas coisas", afirmou a chanceler, se referindo as várias medidas aprovadas nas primeiras semanas de gestão.
Entre estas medidas ela destacou os subsídios para a compra de imóveis para famílias com filhos, a promoção da moradia social e várias reduções em matéria fiscal.
A chanceler evitou responder quando foi perguntada sobre o motivo pelo qual não demitiu o ministro de Interior quando ele a desafiou e ameaçou fechar as fronteiras à migração secundária, isto é, fluxos migratórios dentro da União Europeia. Merkel disse apenas que, apesar do conflito com Seehofer, os fundamentos da sua relação política estão garantidos, que as linhas básicas do governo estão estipuladas e que, portanto, o Executivo está operante.
Quando foi perguntada sobre se deixou de ser "a chanceler dos refugiados" para ser "a chanceler do isolamento", Merkel respondeu "claro que não", apesar da mudança política que experimentou desde o momento crítico da crise dos refugiados, em 2015, principalmente pelas pressões do núcleo duro do seu bloco conservador, onde o seu atual ministro de Interior teve papel-chave.
"É preciso distinguir entre proteção das fronteiras externas e isolamento", defendeu.
Durante a entrevistas, a chanceler deu as primeiras informações de como funcionarão os "centros de triagem" que acordou com Seehofer. Serão instalações criadas na fronteira com a Áustria e onde os imigrantes deverão ficar até que seja esclarecido se têm direito a solicitar asilo no país ou se precisam ser encaminhados a outro país europeu.
Segundo a Convenção de Dublin, o país europeu por onde o imigrante acessa o continente deve se encarregar do seu pedido de refúgio e a pessoa não pode escolher de qual nação quer proteção.
Merkel indicou que esses centros terão áreas especiais para mulheres e crianças e que o futuro do solicitante deve ser esclarecido em 48 horas, já que a Constituição alemã não permite um período de detenção superior a isso.
"Se não for assim, este procedimento nos centros de passagem será inviável", sentenciou.