Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Elías Jaua: o governo venezuelano ofereceu asilo a Snowden no último dia 5 de julho. (César Pasaca/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2013 às 14h55.
Montevidéu – Os chanceleres da Venezuela, Elias Jaua, e do Uruguai, Luis Almagro, disseram hoje (11) que os presidentes dos países do Mercosul irão emitir uma declaração sobre denúncias de espionagem, direito a asilo e o incidente envolvendo o avião do presidente da Bolívia, Evo Morales.
No último dia 2 de julho, Morales foi impedido de sobrevoar o espaço aéreo de Portugal, da Espanha, França e Itália por causa da suspeita de que Edward Snowden, ex-contratado da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos, estaria a bordo do avião do presidente boliviano. Snowden é procurado pelo governo norte-americano após ter revelado monitoramento de dados de cidadãos – norte-americanos e estrangeiros - pelos Estados Unidos.
“Vai haver uma resolução sobre espionagem, direito a asilo e sobre a ofensa ao presidente Evo Morales”, disse Jaua, em entrevista à imprensa, antes da reunião de chanceleres para preparação da cúpula do bloco, que ocorrerá amanhã (12). Na ocasião, a Venezuela – que foi admitida como quinto membro pleno do Mercosul há um ano - assumirá a presidência pro tempore do grupo. O Uruguai é o atual presidente temporário do bloco regional.
“As desculpas apresentadas pelos países europeus foram insuficientes [em relação ao episódio de Morales]”, declarou Almagro. Na terça-feira passada (9), o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou, por consenso, uma resolução condenando as ações dos países europeus porque são “claramente violadoras de normas e princípios básicos do direito internacional, como a inviolabilidade dos chefes de Estado”.
O governo venezuelano ofereceu asilo a Snowden no último dia 5 de julho. Ele está em uma área de trânsito no aeroporto de Moscou. Para que possa sair do país, a Venezuela teria que negociar com a Rússia um salvo-conduto.
Segundo o chanceler uruguaio, outro tema em discussão será a reincorporação do Paraguai ao bloco a partir de 15 de agosto – data da posse do presidente eleito Horacio Cartes. Membro fundador do Mercosul, o país foi suspenso em julho do ano passado depois que o Congresso destituiu o então presidente Fernando Lugo. Os países vizinhos condenaram o “impeachment relâmpago”, por ter ocorrido em um prazo de 48 horas. Na época, Lugo foi sustituído pelo vice Federico Franco.
“Existe a melhor disposição de todos os membros do Mercosul para reincorporar o Paraguai”, ressaltou Almagro. De acordo com ele, os presidentes firmarão um documento sobre o assunto na cúpula. Mas diplomatas do Mercosul dizem que ainda não foi encontrada uma fórmula para superar o impasse político.
Durante a crise, que resultou na destituição de Lugo, o Congresso paraguaio acusou o então chanceler venezuelano Nicolás Maduro de interferir em assuntos internos do Paraguai e aprovou uma resolução considerando-o pessoa não grata. O Congresso foi o único que vetou a entrada da Venezuela no Mercosul. Os venezuelanos ingressaram no bloco quando o Paraguai já havia sido suspenso, perdendo temporariamente direito a voto no grupo regional.
Assim que foi eleito, Cartes defendeu a reintegração do Paraguai no Mercosul o quanto antes e que havia “vontade política” de todos os países do bloco para o retorno ocorra. Porém, recentemente, disse que seu país não aceita que a Venezuela exerça a presidência pro tempore do Mercosul.
Outros temas da reunião de cúpula são a incorporação da Bolívia como membro pleno – processo que, segundo Almagro, deve durar quatro anos – e a adesão da Guiana e do Suriname como membros-associados. Também serão discutidas as negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia.