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Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2013 às 21h07.
O Mercosul vive um momento delicado com um forte retrocesso no comércio e uma indefinição sobre seu futuro entre os principais blocos no mundo, avaliam analistas consultados pela AFP.
"A presidente Cristina (Kirchner) e eu nos empenhamos para fazer a integração avançar, (...) superar os obstáculos em nossas relações comerciais e de investimento", afirmou a presidente brasileira Dilma Rousseff na quinta-feira ao ser recebida por sua homóloga argentina.
As diferenças comerciais ganharam força no Mercosul, especialmente desde que a Argentina, buscando evitar a fuga de divisas e conseguir uma melhora da balança comercial, adotou, há um ano, barreiras às importações que afetam seus vizinhos do bloco criado em 1991 entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
As exportações brasileiras para a Argentina caíram 21% em 2012 e outros 10% no primeiro trimestre de 2013, em um comércio bilateral que alcançou um recorde de quase 40 bilhões de dólares em 2011.
Ainda assim, a Argentina e os países latino-americanos em geral continuam sendo um mercado chave para o Brasil e o destino de 40% de suas exportações industrializadas.
O Uruguai também denunciou o clima comercial e seu presidente José Mujica classificou esta semana o Mercosul como um "bloco estagnado" e "parado no tempo", enquanto os argentinos lamentam a redução dos investimentos brasileiros e um desequilíbrio no comércio automotivo.
O comércio do bloco pode retroceder ainda mais este ano, diante da queda dos preços das matérias primas, como os do petróleo venezuelano (a Venezuela foi o último país a entrar no Mercosul no ano passado), a carne do Uruguai ou a soja da Argentina e do Brasil, destaca a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
"Estamos diante de um claro momento de perda de sinergias entre os países. O bloco requer uma redefinição e um reagrupamento", afirmou à AFP o economista chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio (Funcex), Rodrigo Branco.
O bloco viveu um ano intenso em 2012 com a suspensão do Paraguai em junho - após a destituição do ex-presidente Fernando Lugo pelo Parlamento de seu país, que foi rejeitada por seus vizinhos do Mercosul - e a incorporação da Venezuela, um grande comprador de produtos importados, que constituiu a primeira ampliação do grupo em mais de duas décadas.
Após as eleições presidenciais de domingo, o Paraguai e os sócios do Mercosul expressaram o interesse na reincorporação paraguaia ao bloco.
O Mercosul também enfrenta definições externas: como não perder seu lugar em um mundo em crise, em que os países apostam cada vez mais nas vantagens dos acordos comerciais, se o Mercosul não firmou nenhum acordo significativo?
Europa e Brasil declararam interesse em estimular as negociações de um acordo de livre comércio entre os dois blocos, sem avanços há mais de dez anos.
O interesse brasileiro foi retomado "especialmente com a decisão dos Estados Unidos de negociar com a Europa, já que é seu principal competidor nas exportações de grandes produtos como carne e soja", explicou à AFP o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
"É difícil que esse acordo seja concretizado, já que primeiro é necessário o retorno do Paraguai e a Argentina tem colocado obstáculos", explicou.
O Mercosul ainda enfrenta uma espécie de concorrência na região após a recente criação da Aliança do Pacífico, formada pelo Chile, Colômbia, México e Peru, com acesso preferencial aos gigantescos mercados da Ásia e que, "sem dúvida, afetará o Mercosul" que vai perder vantagens nesse continente, destaca o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília, Carlos Eduardo Vidigal.
A próxima reunião do bloco regional acontecerá no Uruguai em junho.