Presidentes posam para foto antes de reunião do Mercosul: também condenaram Espanha, França, Itália e Portugal por terem fechado espaço aéreo para o avião que transportava Evo Morales (Wilson Dias/ABr)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2013 às 19h08.
Montevidéu - Líderes do Mercosul enviaram nesta sexta-feira uma dura mensagem a Washington sobre as denúncias de espionagem dos Estados Unidos na região e defenderam seu direito de oferecer asilo ao ex-funcionário de inteligência Edward Swnoden.
Na cúpula do bloco em Montevidéu, os presidentes também condenaram Espanha, França, Itália e Portugal por terem fechado na semana passada seu espaço aéreo para o avião que transportava o presidente boliviano, Evo Morales, no trajeto de Moscou a La Paz por suspeitas de que Swnoden estaria a bordo.
Os líderes destacaram que chamarão seus embaixadores nestes países para consultas sobre o ocorrido.
"(Os presidentes) repudiaram as ações que possam minar a autoridade dos Estados de conceder e implementar de forma plena o Direito de Asilo", disse a declaração final do encontro entre os mandatários do bloco.
O Mercosul também rechaçou "toda tentativa de pressão, assédio ou criminalização de um Estado ou de terceiros sobre a decisão soberana de qualquer nação de conceder asilo".
A declaração reflete um claro confronto com os Estados Unidos, que pediram a prisão do ex-funcionário da inteligência sob a acusação de espionagem depois que ele revelou detalhes de programas secretos de vigilância.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, alertou que o país que abrigar Snowden pagará um custo sério por sua decisão, enquanto Washington mobilizou sua artilharia diplomática para evitar que algum governo receba o ex-agente de inteligência.
No entanto, em aberto desafio a Washington, os governos de esquerda de Venezuela, Bolívia e Nicarágua ofereceram asilo a Snowden, retido na área de trânsito de um aeroporto internacional de Moscou desde o fim de junho e com seu passaporte norte-americano revogado.
"Foi ratificado o direito de asilo como um direito fundamental, do direito humanitário nestes tempos, especialmente de países democráticos", disse o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em discurso.
Snowden afirmou nesta sexta-feira que vai pedir asilo temporário na Rússia antes de possivelmente viajar para a América Latina.
Os presidentes do Mercosul também "rejeitaram enfaticamente a interceptação de atividades de telecomunicações e as ações de espionagem em nossos países, já que são uma violação dos direitos humanos, do direito à privacidade e do direito à informação de nossos cidadãos".
Após o incidente com Morales, a tensão entre a América Latina e Washington se intensificou nesta semana depois que o jornal O Globo afirmou que a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos realizou atividades de espionagem na região, priorizando Colômbia, Brasil e México.
"Nós fomos atingidos diretamente pelas recentes denúncias de que as comunicações eletrônicas e telefônicas de cidadãos e instituições de nossos países estão sendo objeto de espionagem por órgãos de inteligência. Isso fere a nossa soberania", afirmou a presidente Dilma Rousseff.
O Mercosul é formado por Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela e Paraguai. Morales também esteve presente no encontro, já que a Bolívia é um país associado ao bloco.
O Paraguai não participou da cúpula, pois estava suspenso temporariamente dos órgãos políticos do Mercosul depois do questionado processo de impeachment que tirou do cargo o ex-presidente Fernando Lugo no fim de junho do ano passado.
Contudo, Maduro disse que o Mercosul aprovou a reincorporação do Paraguai.
O avião da Presidência boliviana que levava Morales foi forçada a pousar em Viena, na Áustria, onde esteve várias horas até que recebeu autorização para decolar.
"Este é o mundo que estamos vivendo, onde há novas formas de colonialismo. Mais sutis do que aquelas que conhecemos há dois séculos quando chegavam com exércitos e levavam a prata e o ouro", afirmou a presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
O tratamento a Morales levou os líderes latino-americanos a qualificar o episódio como uma afronta a toda a América do Sul e a acusar a Casa Branca de estar por trás do caso.