Dilma Rousseff durante a XLIX Cúpula dos Estados Partes do Mercosul e Estados Associados (Roberto Stuckert Filho/PR/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 22 de dezembro de 2015 às 10h32.
Assunção – Os líderes do Mercosul continuam tratando o acordo bilateral do bloco com a União Europeia como prioridade, mas demonstraram, durante a 49ª cúpula, contrariedade com a demora dos europeus em fechar as negociações.
A presidente Dilma Rousseff afirmou que a decisão "está do outro lado do Atlântico". "Queremos concluir um acordo ambicioso, abrangente e equilibrado com a União Europeia", discursou.
Ela cumprimentou o empenho do presidente do Paraguai, Horacio Cartes, na concretização do acordo. "Os esforços do presidente Cartes mostram, inquestionavelmente, que hoje a decisão está do outro lado do Atlântico porque deixamos sistematicamente claro que estávamos prontos para fazer as nossas ofertas", afirmou.
Antes de Dilma, o anfitrião Cartes já tinha dito que o bloco cumpriu seu objetivo de ter uma oferta de bens pronta para o bloco europeu e tem condições de iniciar a troca em 2016. O recém-empossado presidente argentino, Mauricio Macri, também defendeu o acordo como prioridade do bloco.
No entanto, o comunicado final não traz menção às negociações. Segundo o ministro da Indústria do Paraguai, Gustavo Leite, o Mercosul já se manifestou várias vezes no sentido de que está pronto para as trocas e não era colocando o tema no comunicado mais uma vez que as negociações chegariam à conclusão, afirmou.
"Há que se respeitar o tempo político dos outros países, que muitas vezes não é o que gostaríamos", declarou.
A proposta do Mercosul abrange 90% dos bens que fazem parte do comércio entre os blocos, incluindo todos os setores. O entrave maior está na área agrícola, onde estão concentradas as barreiras não tarifárias.
A negociação do acordo Mercosul-UE dura 15 anos. Em 2004, uma troca de ofertas chegou a acontecer, mas sem acordo final. O processo foi retomado em 2010 e vários prazos para a apresentação das propostas foram fixados desde então.
A presidente Dilma chegou a estimar que a troca sairia até 30 de novembro deste ano.
Empresários brasileiros, argentinos, paraguaios e uruguaios apostam no acordo como forma de tirar o bloco de uma paralisia que tem prejudicado a inserção do Mercosul na economia mundial e limitado os ganhos de exportações e investimentos externos.
"As entidades estão convictas de que esse acordo pode melhorar a posição competitiva dos países no comércio global, sobretudo com o movimento global de aprofundamento da produção por cadeias de valor", disse Carlos Abijaodi, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Com a frustração com a União Europeia, o bloco passou a ver um caminho de sair da pasmaceira com a Aliança do Pacífico, grupo formado por México, Peru, Colômbia e Chile. Para a presidente Dilma, o Mercosul tem muita "complementariedade" com o bloco. "Devíamos estabelecer relações cada vez mais próximas e sólidas", defendeu.
Para a CNI, a retomada da economia brasileira está atrelada ao sucesso das negociações comerciais do Mercosul, que abrem espaço para o crescimento das exportações e de investimentos estrangeiros.
"Há mais de uma década, a indústria brasileira alerta sobre a necessidade de o Mercosul ter uma agenda econômica estratégica e de longo prazo. Chegou a hora. O crescimento do Brasil depende disso", afirmou Abijaodi.
Na última década, o Mercosul perdeu um ponto porcentual como destino das exportações brasileiras, passou de 10%, em 2005, para 9%, em 2014. Nas importações, o bloco representava 10% e caiu para 7,5% no período.
As entidades industriais dos países do bloco pedem que o Mercosul, além de avançar na negociações de "acordos comerciais relevantes", se esforce por reduzir as barreiras aos fluxos de comércio e investimentos entre os membros.
Segundo os dados da CNI, os acordos assinados pelo Mercosul dão potencial de acesso a somente 8% do comércio mundial, enquanto que os do México, 65%, da União Europeia, 45%, e dos Estados Unidos, 25%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.