Segundo Mantega, é improvável que medida do Fed estimule o crescimento da economia global (Antônio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2010 às 19h24.
Brasília/Seul - Autoridades das maiores economias da América Latina e da Ásia criticaram nesta quinta-feira a decisão do Federal Reserve de injetar bilhões de dólares na economia norte-americana para estimular o crescimento.
As economias emergentes avaliaram que a medida torna improvável um acordo significativo para reduzir os desequílibrios globais na reunião do G20 na semana que vem.
"Todo mundo quer que a economia americana se recupere, porém não adianta ficar jogando dólar de helicóptero", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em Brasília.
Mantega disse que o Brasil utilizará o encontro do G20 como um fórum para reclamar da decisão do Fed de comprar mais 600 bilhões de dólares em títulos do governo norte-americano.
Segundo o ministro, é improvável que tal medida estimule o crescimento da economia global, podendo, por outro lado, agravar os desequilíbrios mundiais, preocupação também compartilhada pela China.
"Enquanto o mundo não exercer restrição à emissão de moedas de reserva como o dólar --e isso não é fácil--, a ocorrência de outra crise é inevitável", escreveu Xia Bin, assessor do banco central da China, em um jornal administrado pela autoridade monetária.
Reclamações sobre a política monetária dos EUA também partiram do mundo desenvolvido. O ministro da Economia alemã, Rainer Bruederle, afirmou estar preocupado com que os Estados Unidos estejam tentando estimular o crescimento ao injetar liquidez na economia. Sua colega francesa, Christine Lagarde, disse que a reação das economias emergentes mostra a necessidade de reformas.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse estar confiante de que os EUA ainda apoiam um dólar forte.
Reação contrária possível
O Ministério das Finanças da Coreia do Sul disse que irá "agressivamente" considerar a adoção de controles de capital, enquanto o secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral, afirmou na véspera que o movimento do Fed pode gerar outras medidas.
A Tailândia levantou a possibilidade de uma ação conjunta para combater a enxurrada de dólares que deve entrar nos mercados emergentes.
"O presidente do banco central confirmou discussões com bancos centrais de países vizinhos, que estão prontos para impor medidas juntos se for necessário para conter o possível fluxo de capital especulativo na região", afirmou o ministro das Finanças, Korn Chatikavanij.
Uma autoridade sênior de Finanças da Índia, que preferiu não ser identificada, disse que, embora os EUA tenham o direito de estimular sua economia, outras nações também devem proteger seus interesses.
O chinês Xia acrescentou no Financial News que Pequim irá perseguir seus próprios interesses, dizendo que "precisamos pensar 'o que é bom para nós'".
O Brasil anunciou medidas nas últimas semanas para conter a apreciação do real. O México disse que está monitorando de perto sinais de excesso de liquidez no país.
O Chile, embora não seja membro do G20, anunciou novos limites para investimento estrangeiros em fundos de pensão numa tentativa de frear a apreciação do peso.
Improvável definição de metas
O estrategista cambial do Credit Suisse, Olivier Desbarres, disse: "Esse não me parece o tipo de ambiente no qual qualquer país se comprometerá com metas".
Na quarta-feira, o Fed anunciou a compra de mais 600 bilhões de dólares em bônus.
As bolsas de valores globais subiam ao maior nível em mais de dois anos, antes do colapso do banco de investimento Lehman Brothers, enquanto o Ibovespa se aproximava dos 73 mil pontos. O dólar, por sua vez, recuava ante outras moedas, cedendo também contra o real.
No mês passado, os ministros de Finanças do G20 chegaram a um acordo sobre as visões radicalmente diferentes de como gerir a economia global liderada pelas duas principais nações em disputa: Estados Unidos e China.
Em comunicado que pediu que desvalorizações cambiais visando ganho de competitividade sejam evitadas, o G20 instou governos a trabalhar a favor de políticas que reduzam desequilíbrios em conta corrente.
Os fluxos de dinheiro para países em desenvolvimento têm sido maciços. O capital para fundos de mercados emergentes alcançou 46,4 bilhões de dólares neste ano até a quarta semana de outubro, ante 9,4 bilhões de dólares em todo o ano de 2009, de acordo com a EPFR, que monitora os ativos globais.
Os países temem não somente o fato de que os fluxos de capital impulsionem suas moedas, mas também que esse dinheiro possa ser acompanhado de bolhas de investimento nos mercados emergentes.