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Medo assombra ucranianos que vivem perto da maior usina nuclear da Europa

Nos últimos dias, Kiev e Moscou se acusaram mutuamente de realizar bombardeios no complexo da usina nuclear, a maior da Europa. 

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy (Volodymyr Tarasov/ Ukrinform/Future Publishing/Getty Images)

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy (Volodymyr Tarasov/ Ukrinform/Future Publishing/Getty Images)

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AFP

Publicado em 13 de agosto de 2022 às 11h24.

"Se morrermos, acontecerá em um segundo e não sofreremos", diz Anastasia, moradora de Marganets. Nesta cidade ucraniana, a poucos quilômetros da usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pelas tropas russas, a população vive com medo constante.

Nos últimos dias, Kiev e Moscou se acusaram mutuamente de realizar bombardeios no complexo da usina nuclear, a maior da Europa.

Na quinta-feira, os ataques danificaram alguns sensores de nível de radioatividade.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) alertou para a gravidade da situação.

Marganets está a apenas 13 quilômetros de Zaporizhzhia. A cidade, localizada no topo de uma colina, permanece sob controle ucraniano e dela é possível ver, do outro lado do rio Dnieper, a usina nuclear construída nos tempos soviéticos.

"Se morrermos, acontecerá em um segundo e não sofreremos. Me tranquiliza saber que meu filho e minha família não sofrerão", diz Anastasia, 30 anos, fazendo compras.

- "Coisas terríveis" -

A usina nuclear de Zaporizhzhia está na linha de frente desde que foi tomada pelas tropas russas no início de março, dias após o Kremlin ordenar a invasão da Ucrânia.

Em Marganets, os militares ucranianos aconselham a não se aproximar da margem do rio Dnieper, por medo de que o inimigo atire da margem oposta, a cerca de 6 quilômetros de distância.

A cidade, que tinha cerca de 50.000 habitantes antes da guerra, tem um centro animado onde as pessoas vivem suas vidas diárias além dos pensamentos sombrios e rumores persistentes sobre o estado dos seis reatores da usina.

"Estou com medo por meus pais e por mim. Quero viver e aproveitar a vida nesta cidade", diz Ksenia, de 18 anos, que atende clientes em um café na principal rua comercial.

"O medo é constante. E as notícias dizem que a situação na usina é muito tensa, então cada segundo que passa é terrível. Você tem medo de dormir, porque coisas horríveis acontecem à noite", acrescenta.

Em Marganets e Nikopol, outra cidade a uma curta distância rio abaixo, 17 pessoas foram mortas esta semana em ataques noturnos, segundo autoridades locais.

A Ucrânia acusa a Rússia de disparar do outro lado do rio e de dentro do complexo nuclear.

As tropas ucranianas se abstêm de responder por medo de desencadear uma catástrofe.

Na sexta-feira, um alto funcionário ucraniano disse à AFP que as tropas russas estão até "atirando em algumas áreas da usina para dar a impressão de que a Ucrânia está fazendo isso".

Uma situação que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, descreveu como "chantagem nuclear".

"Acho que os russos estão usando a usina como um ás, para perseguir seus próprios objetivos", diz Anton, de 37 anos.

A Ucrânia foi em 1986 cenário do desastre nuclear de Chernobyl, 530 quilômetros a noroeste de Marganets.

Naquele ano, um reator nuclear explodiu, liberando radiação na atmosfera. Cerca de 600.000 pessoas foram alistadas como "liquidadores", encarregados de descontaminar a terra ao redor da usina.

O número oficial de mortos é de apenas 31, mas algumas estimativas falam de dezenas de milhares e até centenas de milhares de mortes.

Em Marganets existe um monumento a esses "liquidadores".

Ao lado da cratera aberta por um foguete que caiu em Marganets à noite, Sergei Volokitin, de 54 anos, relembra aqueles tempos.

"Depois que me formei trabalhei na mina, e na minha equipe havia duas pessoas que eram liquidadores", lembra.

"Sabíamos tudo o que acontecia lá. Conhecemos os efeitos da radiação e quais serão as consequências se algo acontecer".

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