Sede da CIA: "os médicos e advogados se deram permissão constante para fazer o que acordavam entre si", denuncia o artigo (Alex Wong/AFP)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2015 às 23h01.
Washington - Médicos e advogados tiveram um papel chave nas torturas praticadas em prisioneiros acusados de terrorismo nos centros de detenção clandestinos da CIA, afirma um artigo publicado nesta quinta-feira pela revista especialista americana "The New England Journal of Medicine".
A publicação usou como base os dados divulgados pela Comissão de Inteligência do Senado dos Estados Unidos no ano passado, em um relatório que revelou as torturas cometidas pela agência de inteligência americana durante a presidência de George W. Bush (2001-2009).
"O relatório do Senado nos mostra como os advogados e médicos podem colaborar para racionalizar a tortura, uma dinâmica que também foi praticada em prisões militares, como a de Guantánamo (Cuba), e inclusive em alguns centros de detenção máxima segurança nos EUA", afirmaram os médicos George Annas e Sondra Crosby no artigo.
O papel dos médicos nas torturas, indicam, começava na hora de determinar se os terroristas estavam aptos para serem torturados.
Depois, eles tinham que garantir que durante os presos não fossem mortos no processo e eram também responsáveis por curar os ferimentos causados durante a tortura. Alguns chegaram até mesmo a desenvolver novos métodos, de acordo com a revista.
A CIA e os advogados do Departamento de Justiça dos EUA garantiam que os médicos teriam imunidade através de uma cobertura legal feita sob medida para cobrir esse tipo de prática.
"Os médicos e advogados se deram permissão constante para fazer o que acordavam entre si", denuncia o artigo publicado pela "The New England Journal of Medicine".
Um dos métodos de tortura era a alimentação pela via retal, administrada naqueles que estavam em greve de fome, uma demonstração de força sobre o prisioneiro.
Após a publicação do relatório do Senado, o vice-presidente de Bush, Dick Cheney, defendeu que a alimentação retal era praticada por "razões médicas".
No entanto, a revista assinala que "não há indicação para a alimentação por via retal", destacando que o fato de ela ser feita sob supervisão não transforma a técnica de tortura em um procedimento médico.
"Além da eliminação dos centros de detenção clandestinos, temos que pedir aos advogados que se neguem a dar cobertura a práticas de tortura. E aos médicos que só realizem boas práticas, sempre com o consentimento do paciente", conclui o artigo.