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Médicos de Mianmar fazem greve em protesto contra golpe de estado

As autoridade birmanesas acusaram oficialmente a ex-líder de fato do governo, Aung San Suu Kyi, de violar uma lei comercial

Mianmar: na terça-feira moradores protestaram com um panelaço e buzinas. Muitos gritaram "Viva a Mãe Suu".  (rof Cho Mar Lwin/Handout/Reuters)

Mianmar: na terça-feira moradores protestaram com um panelaço e buzinas. Muitos gritaram "Viva a Mãe Suu".  (rof Cho Mar Lwin/Handout/Reuters)

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AFP

Publicado em 3 de fevereiro de 2021 às 09h49.

Última atualização em 3 de fevereiro de 2021 às 09h50.

Os apelos por desobediência civil aumentaram nesta quarta-feira (3) em Mianmar, liderados por médicos e profissionais da saúde, no mesmo dia em que as autoridade birmanesas acusaram oficialmente a ex-líder de fato do governo, Aung San Suu Kyi, de violar uma lei comercial.

Um tribunal "ordenou a prisão provisória por um período de 14 dias, de 1º a 15 de fevereiro", acusando Suu Kyi de ter violado uma lei de importação e exportação, informou Kyi Toe, porta-voz de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND).

O ex-presidente Win Myint foi acusado de ter violado a lei sobre a gestão de desastres naturais, segundo o próprio ex-líder.

Na segunda-feira, o Exército acabou com a frágil transição democrática do país, anunciou o estado de emergência por um ano e prendeu a líder de fato do governo civil, assim como outros dirigentes da LND.

Dois dias após o golpe, condenado por muitos países, surgiram os primeiros sinais de resistência.

Médicos e profissionais da saúde de 74 hospitais e centros de saúde em mais de 30 cidades, que usavam fitas vermelhas em sinal de protesto, anunciaram que se recusariam a trabalhar, exceto em caso de emergência médica.

"Obedeceremos apenas ao governo democraticamente eleito", disse à AFP Aung San Min, diretor de um hospital com 100 leitos na região de Magway (centro).

Funcionários do hospital geral de Yangon se reuniram diante do edifício e fizeram a saudação com três dedos, um gesto de resistência adotado pelos ativistas pró-democracia de Hong Kong e Tailândia.

Também foi criado um grupo chamado Movimento de Desobediência Civil no Facebook, que já tinha 150.000 inscritos. "O Exército deveria ter vergonha" e "Os militares são ladrões", afirma página.

Na terça-feira, no distrito comercial de Yangon, capital econômica do país, moradores protestaram com um panelaço e buzinas. Muitos gritaram "Viva a Mãe Suu".

Ao perceber o que poderia acontecer, Suu Kyi pediu à população que não aceite o golpe de Estado em uma carta escrita antes de sua detenção.

Medo de represálias

O medo de represálias é palpável neste país que viveu, desde sua independência em 1948, sob o jugo da ditadura militar durante quase 50 anos.

"A população sabe muito bem até que ponto o Exército pode ser violento e pouco que se importa com sua reputação internacional, o que poderia frear a vontade de mobilização", disse Francis Wade, autor de vários livros sobre o país.

As novas autoridades, que se comprometeram a organizar eleições dentro de um ano, já publicaram uma advertência contra qualquer discurso ou mensagem que possa "estimular distúrbios ou uma situação instável".

O golpe de Estado, "inevitável" segundo o general Min Aung Hlaing, que agora concentra a maior parte dos poderes à frente de um gabinete integrado por generais, provocou uma chuva de condenações internacionais.

Depois de ameaçar com adoção de novas sanções, o governo dos Estados Unidos elevou o tom na terça-feira contra Mianmar, que virou o primeiro grande teste internacional para o novo presidente Joe Biden.

De acordo com uma fonte da administração americana, Aung San Suu Kyi e Win Myint "foram depostos em um golpe militar", uma declaração oficial que bloqueia a ajuda direta dos Estados Unidos ao Estado birmanês.

A França defendeu que a União Europeia (UE) adote sanções, caso o estado de emergência não seja finalizado.

Mas este seria um ato simbólico. O Exército birmanês já está sob sanções desde as atrocidades cometidas pelos militares em 2017 contra a minoria muçulmana rohingya e que levou Mianmar a ser acusada de genocídio por investigadores da ONU.

China, a aliada

O Conselho de Segurança não chegou a um acordo na terça-feira sobre uma resolução. As negociações continuam, informou um diplomata que pediu anonimato.

Pequim, que continua sendo o principal respaldo de Mianmar na ONU, obstruiu durante a crise dos rohingyas todas as iniciativas nesta instituição por considera o conflito um assunto interno birmanês.

Os chanceleres do G7 se declararam "muito preocupados" com os acontecimentos, assim como o Fundo Monetário Internacional, que advertiu para o impacto na economia do país, já muito afetada pelo coronavírus (mais de 140.000 casos e 3.100 mortes).

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