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Médico italiano com ebola desembarca no aeroporto militar de Pratica di Mare, ao sul de Roma (Italian Airforce/Handout via Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de novembro de 2014 às 09h15.
Roma - O médico italiano que contraiu o vírus ebola em Serra Leoa desembarcou na manhã desta terça-feira em Roma para receber tratamento.
O paciente, o primeiro italiano vítima do vírus, chegou ao aeroporto militar de Pratica di Mare, ao sul de Roma, a bordo de um avião militar.
Ele foi levado em uma ambulância escoltada pela polícia até o Instituto Nacional para Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani, ao sudoeste da capital italiana.
O médico, que não teve a identidade divulgada, trabalhava para a ONG italiana Emergency em um centro de paciente de ebola em Serra Leoa.
De acordo com a ONG, o médico apresentou resultado positivo ao teste do vírus ebola, mas o ministério da Saúde destacou que até o momento ele não apresenta febre ou algum sintoma severo e que o estado geral é considerado bom.
A epidemia, que começou há quase um ano, matou 5.459 pessoas, de um total de 15.351 casos detectados, segundo o balanço mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A grande maioria dos casos foi registrada na Guiné, Libéria e Serra Leoa.
A doença causada pelo vírus ebola é caracterizada por febre, fraqueza intensa e dores musculares, de cabeça e de garganta. "Isso é seguido de vômitos, diarreia e perda da função dos rins e do fígado", afirmou em entrevista a EXAME.com Fredi Quijano, epidemiologista da Universidade de São Paulo. Segundo ele, os pacientes também apresentam quadros de hemorragia interna e externa em alguns casos.
O tratamento oferecido a pessoas infectadas por ebola deve consistir em reidratação intravenosa ou por via oral. A recomendação é da OMS. Além disso, a organização afirma que é positivo o tratamento dos sintomas específicos da doença – como febre e dor. "Nenhum tratamento licenciado até o momento se mostrou eficaz em neutralizar o vírus", afirma a OMS em seu site.
A OMS afirma que o nível médio de mortalidade registrado nos surtos de ebola registrados até hoje é de cerca de 50%. Porém, há registros de epidemias com níveis de mortalidade menores (na casa dos 25%) e maiores (perto de 90%) do que isso.
Da descoberta do vírus ebola até hoje, a OMS contabiliza mais de 15 surtos da doença. Em geral, eles aconteceram em vilas isoladas perto de florestas tropicais na África Central. Entretanto, o atual surto da doença (que começou a ser monitorado pelo órgão no fim de março) acontece tanto em regiões rurais quanto zonas urbanas da costa oeste da África.
O número de casos e mortes causados por ebola em 2014 supera a quantidade de ocorrências do tipo registradas em todos os outros surtos da doença desde sua descoberta em 1976. De acordo com a OMS, Guiné, Libéria e Serra Leoa foram os países mais afetados pela epidemia até o momento. Também registraram casos da doença o Senegal, a Nigéria e outros países – como Espanha e Estados Unidos.
Atualmente, o diagnóstico de contaminação pelo vírus ebola depende da manifestação de sintomas pelo paciente – que pode demorar até três semanas. Por conta disso, o Pentágono desenvolveu um novo método para confirmar os casos da doença. Baseado na análise de amostras sanguíneas, a técnica é capaz de identificar um caso de ebola em cerca de quatro horas.
A multinacional britânica GlaxoSmithKline (GSK) desenvolve em parceria com órgãos do governo americano uma vacina para tentar conter o atual surto de ebola. Criado há cerca de uma década, o projeto teve seu andamento acelerado em função da epidemia.
Material genético e uma versão enfraquecida do vírus são os componentes da vacina. Juntos, eles estimulam o corpo a produzir anticorpos para a doença. O medicamento foi testado com sucesso em macacos em 2010.
Em setembro, pacientes que participaram dos primeiros testes com o medicamento não apresentaram reações adversas. Além da GSK, a Johson & Johnson também trabalha numa vacina contra o vírus ebola.
O favipiravir é um medicamento desenvolvido para combater o vírus influenza, que causa gripe. Em testes com ratos realizados por pesquisadores europeus, a droga protegeu os animais da contaminação pelo vírus ebola. No mês que vem, o Instituto Francês de Saúde e Investigação Médica vai começar a testar o favipiravir contra Ebola em humanos. O tratamento experimental vai consistir em dosagens elevadas da droga, que tem como grande vantagem o fato de poder ser ministrada na forma de comprimido.
Um estudo publicado em abril na revista New England Journal of Medicine afirma que a atual epidemia de ebola é causada por uma nova versão do vírus.
Entre as características dessa cepa, está a menor ocorrência de quadros de hemorragia entre os pacientes infectados. Eles eram mais comuns entre os contaminados pelos cinco tipos já conhecidos de ebola.
Segundo os cientistas, os primeiros casos de pessoas contaminadas pela nova variação do vírus datam de dezembro do ano passado.
Cientistas da universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia do Massachussets analisaram 99 amostras da versão do vírus ebola característica do surto atual.
No trabalho, eles identificaram 300 diferenças genéticas em relação a versões do vírus presentes em surtos anteriores.
As amostras foram fornecidas por 78 pacientes de Serra Leoa que foram diagnosticados com a doença nos 24 primeiros dias de epidemia. Um artigo sobre o experimento foi publicado em agosto na revista Science.
Os Produtos Internos Brutos de Guiné, Libéria e Serra Leoa devem encolher entre 1% e 1,5% em 2014 por conta da epidemia de ebola nesses países. A projeção foi divulgada pelo Banco Africano de Desenvolvimento. Outro cálculo, feito pelo Banco Mundial, afirma que o impacto econômico gerado pela doença pode ultrapassar a marca dos 30 bilhões de dólares.
Um estudo realizado pela universidade britânica de Lancaster calculou a probabilidade do vírus ebola chegar à França e Grã-Bretanha. Segundo os cientistas, as chances de ebola chegar a esses países até 24 de outubro estavam em torno de 75% e 50%, respectivamente. Porém, com a redução do número de voos entre esses locais e os países onde acontece a epidemia, esses índices caíram para 25% para França e 15% para Grã-Bretanha.
A OMS autorizou no começo de setembro que terapias baseadas em transfusões sanguíneas fossem usadas no tratamento de ebola. A ideia da técnica é que pacientes contaminados recebam sangue de pessoas que já se recuperaram da doença. Assim, o doente passa a contar com anticorpos para combater o vírus. Esse tipo de tratamento foi testado com sucesso nos EUA em Rick Sacra, missionário cristão de 51 anos contaminado na Libéria.
Uma projeção de cientistas da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical estimou que o surto de ebola na Guiné, Libéria e Serra Leoa pode aumentar de 100 mil para 400 mil o número de mortes causadas por malária. A razão disso seria a sobrecarga dos sistemas de saúde da região e a morte de médicos e enfermeiros, que fragilizariam o tratamento dos pacientes com outras doenças nos hospitais.
Estimativas realizadas pela ONG Save The Children indicavam que, a cada hora, o vírus ebola contamina cinco pessoas em Serra Leoa. Segundo a organização, há apenas 327 leitos no país, que está no centro da epidemia da doença. De acordo com as projeções, se nada for feito, o número de novos casos de ebola por hora em Serra Leoa poderia subir de cinco para dez até o fim de outubro.
Mais de mil pessoas participaram de uma pesquisa realizada em agosto pela universidade de Harvard. Nela, quatro em cada 10 entrevistados afirmaram que temem a possibilidade de uma grande epidemia de ebola nos Estados Unidos.
Além disso, 26% dos participantes disseram que estão preocupados com a possibilidade de serem infectados (ou ter alguém da família nessa situação) no próximo ano.
Num sinal de desconhecimento da doença, quase 70% dos entrevistados disseram que o ebola é um vírus de fácil transmissão e um terço dos participantes afirmou que existe remédio para a doença.
As duas informações não correspondem à realidade, já que a transmissão de ebola depende de um contato com fluidos contaminados pelo vírus e não há medicamentos que curem a doença.
Criado pela empresa Mapp Biopharmaceutical, o ZMapp é um medicamento experimental usado no tratamento de ebola. O soro é composto basicamente de anticorpos que, quando ministrados a pessoas ou animais infectados, têm apresentado resultados positivos no combate à doença.
Em testes realizados com macacos 24 horas após a contaminação por ebola, o ZMapp apresentou 100% de eficácia (isto é, nenhum macaco morreu). Já em experimentos com macacos realizados 48 horas após a infecção, só metade dos animais sobreviveu.
O ZMapp já foi usado com sucesso para tratar americanos com ebola na África.
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