May: primeira-ministra considerava que o Parlamento lhe deixaria de mãos atadas nas negociações com Bruxelas se emenda fosse aprovada (Christopher Furlong/Pool via Reuters/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de junho de 2018 às 17h03.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, conseguiu evitar, nesta quarta-feira (20), uma derrota parlamentar instigada por deputados conservadores pró-europeus, que queriam criar a possibilidade de que o Parlamento se pronuncie sobre o desfecho das negociações do Brexit.
Os deputados da Câmara dos Comuns rejeitaram, por 319 a 303, uma emenda que teria fortalecido o papel do Parlamento nas negociações, em troca de o governo reconhecer formalmente que não poderia frear uma intervenção do Parlamento se May decidir tirar o país da UE sem um acordo com Bruxelas.
May se reservava essa possibilidade para poder pressionar seus colegas europeus e agora pode ser obrigada a usar esta carta na manga.
O compromisso foi alcançado pouco antes de a Câmara dos Comuns se pronunciar sobre a emenda desses conservadores, reclamando que o Parlamento votará sobre o acordo final com Bruxelas.
O promotor desta emenda, o deputado conservador pró-europeu Dominic Grieve, aceitou a concessão do governo porque reconhece "a soberania do Parlamento".
Outra conservadora pró-europeia, Nicky Morgan, anunciou que não ia votar contra o governo porque a concessão equivaleria a contar "com uma votação significativa" sobre o acordo com Bruxelas.
Os rebeldes garantiram que a iniciativa não pretendia deixar o Reino Unido na UE e que respeitarão o resultado do referendo de junho de 2016.
Já May considerava que o Parlamento lhe deixaria de mãos atadas nas negociações com Bruxelas caso a emenda fosse aprovada.
Na semana passada, ela evitou uma derrota neste setor, se comprometendo com os deputados rebeldes das filas conservadoras, mas eles logo disseram terem se sentido enganados e conseguiram reintroduzir a proposta.
"Não podemos aceitar a emenda", disse o porta-voz da primeira-ministra, "arruinaria nosso poder nas negociações de conseguir o melhor acordo para o país".
A primeira-ministra tem uma pequena maioria na Câmara dos Comuns, graças ao apoio dos unionistas norte-irlandeses do DUP (Partido Democrático Unionista).
Dominic Grive negou que pretendia derrubar o governo de May. Pelo contrário, trataria-se de conseguir "um mecanismo pelo qual a Câmara dos Comuns possa expressar sua opinião, sem chegar a uma moção de censura que poderia derrubar o governo", disse Grieve à Sky News.
Mas seu colega Graham Stringer, deputado conservador eurocético, avaliou que Grieve e seus partidários apenas pretendem "sabotar todo o processo" de saída da UE.
"O propósito do último truque de Grieve é dar ao Parlamento o poder de atrasar ou interromper o Brexit", afirmou.
A possibilidade de que o Reino Unido deixe a UE sem um acordo foi alimentada pela lentidão das negociações.
Até agora, Londres e Bruxelas concordaram sobre poucos pontos, e não conseguem resolver pontos cruciais como o futuro da fronteira da Irlanda e da Irlanda do Norte.
Por isso, os mandatários europeus vão pedir, em sua próxima cúpula em Bruxelas, que todos estejam preparados para diversos resultados.
"O Conselho Europeu reitera o seu apelo aos Estados-membros e às partes interessadas para que intensifiquem o seu trabalho de preparação a todos os níveis e para todos os resultados", diz o rascunho de conclusões da cúpula consultado pela AFP nesta quarta-feira.