Theresa May: analistas consideram que May pode ser obrigada a abandonar a ideia de um Brexit "duro" (Eddie Keogh/Reuters)
AFP
Publicado em 12 de junho de 2017 às 11h29.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, arrisca seu futuro nesta segunda-feira em uma reunião com deputados do Partido Conservador, furiosos com o revés registrado nas eleições legislativas da semana passada, que os obriga a buscar um acordo com um partido ultraconservador da Irlanda do Norte.
Muito fragilizada depois de perder a maioria absoluta no Parlamento, Theresa May terá que prestar contas do fracasso inesperado, pois há algumas semanas as pesquisas eram amplamente favoráveis à chefe de Governo.
Em uma entrevista ao canal Sky News no domingo à noite, May negou que se encontre em "estado de choque" e desafiou os que pedem sua renúncia, determinada a seguir governando.
Na sexta-feira ela confirmou que pensava em "iniciar as negociações do Brexit nas próximas duas semanas, conforme o planejado".
Boris Johnson, que foi confirmado no ministério das Relações Exteriores, negou os boatos que apontam sua intenção de suceder a May.
"Aos que dizem que a primeira-ministra deve renunciar ou que devemos celebrar novas eleições ou inclusive, Deus nos livre, um segundo referendo, afirmo que esqueçam", escreveu no tabloide The Sun.
O ministro do Brexit, David Davis, que também foi confirmado no cargo, apoiou May em uma entrevista à rádio BBC, mas admitiu que "alguns elementos do programa" dos Tories, conservadores, para estas eleições "serão eliminados".
A respeito do Brexit nada mudou, de acordo com Davis, para quem uma saída do mercado único europeu é necessária "para retomar o controle" das fronteiras britânicas e que continua existindo a possibilidade de não alcançar um acordo.
Muitos analistas, no entanto, consideram que May pode ser obrigada a abandonar a ideia de um Brexit "duro" e manter o país na união alfandegária e no mercado único europeu.
Para o diretor da gigante da publicidade WPP, Martin Sorrell, citado pelo jornal econômico City A.M., o resultado da eleição reforçou "paradoxalmente" as possibilidades de um Brexit "brando".
Neste contexto, a única certeza, segundo Carolyn Fairbairn, do Financial Times, é que "se afastou a probabilidade de conseguir um bom acordo para o Reino Unido".
Em primeiro lugar, May terá que chegar a um entendimento com o Partido Unionista Democrático (DUP) da Irlanda do Norte. Os 10 deputados desta formação permitiriam aos Tories (318 deputados) superar as 326 cadeiras necessárias para governar com uma leve maioria.
Esta perspectiva provocou fortes críticas no Reino Unido pelo conservadorismo social do partido norte-irlandês, que faz uma oposição veemente ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao aborto.
Além disso, o acordo provoca dúvidas sobre a neutralidade do governo britânico na Irlanda do Norte, uma região ainda sob grande tensão, 20 anos após o fim do conflito.
A líder do DUP, Arlene Foster, afirmou no domingo que as negociações devem prosseguir esta semana e que na terça-feira se reunirá com May em Londres.
O novo gabinete de Theresa May, anunciado no domingo e marcado pela renovação dos principais ministros e o retorno do político pró-Brexit Michael Gove, desta vez como ministro do Meio Ambiente, se reunirá na segunda-feira à tarde.
Gove, que foi destituído por May do ministério da Justiça quando ela chegou ao poder em julho, retorna ao Executivo em uma tentativa de evitar um golpe contra a líder do Partido Conservador, de acordo com o jornal Daily Telegraph.
Na terça-feira, May se reunirá com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris, enquanto a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, do Partido Nacional Escocês (SNP, independentista), pedirá uma pausa nas negociações do Brexit.
O novo Parlamento britânico terá sua primeira sessão na terça-feira, antes da cerimônia de abertura solene de 19 de junho, quando está previsto o início das negociações sobre o Brexit com a União Europeia.