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Matança expõe desconfiança com o combate ao ebola, diz OMS

Oito pessoas foram assassinadas na Guiné durante uma tentativa de conscientizar os moradores sobre o vírus


	Membro da ONG Médicos Sem Fronteiras coloca roupa especial para entrar em área de isolamento de um hospital de Conacri, Guiné
 (Cellou Binani/AFP)

Membro da ONG Médicos Sem Fronteiras coloca roupa especial para entrar em área de isolamento de um hospital de Conacri, Guiné (Cellou Binani/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2014 às 16h38.

Genebra - O assassinato de oito pessoas que tentavam conscientizar moradores locais sobre o ebola na Guiné expôs o quanto as populações rurais da África Ocidental desconfiam das autoridades, após anos de instabilidade e conflitos, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira.

Oito corpos foram encontrados após uma equipe que visitava uma área remota no sudeste da Guiné ser atacada, disse um porta-voz do governo na quinta, explicitando os riscos enfrentados por profissionais de saúde que lutam contra o vírus letal cercado pelo estigma.

A Guiné foi prejudicada por décadas de corrupção e instabilidade política, e os outros países mais gravemente atingidos pelo surto de ebola, Serra Leoa e Libéria, sofreram com guerras civis nos anos 1990.

O legado desses traumas agora representa um risco para profissionais de saúde combatendo o ebola, disse o especialista da OMS Pierre Formenty.

"Essa população em áreas de floresta tem realmente sofrido muito nos últimos 20 anos. Eles têm um comportamento pós-conflito, há uma falta de confiança óbvia entre essas populações e os diferentes governos nesses três países", disse Formenty em uma coletiva de imprensa em Genebra, após retornar da Libéria. 

Guiné, Libéria e Serra Leoa estão abaladas pela epidemia de ebola que matou ao menos 2.630 pessoas desde março, incluindo oito pessoas na Nigéria, de acordo com os dados da OMS.

"Precisamos continuar o combate contra o ebola, precisamos investigar esses assassinatos, mas isso não deve nos parar. Devemos continuar o diálogo com a comunidade, devemos continuar a explicar nosso trabalho, continuar a mostrar empatia com as vítimas, com as famílias, com as comunidades", disse Formenty.

"Sem isso não seremos capazes de fazer nossas mensagens serem entendidas pela população. E não seremos capazes de controlar o surto", disse ele.

Questionado se os epidemiologistas da OMS e outros trabalhadores de ajuda humanitária tomariam medidas adicionais de segurança, ele disse: "Mesmo com precauções adicionais, o risco zero não existe."

O vírus tem se espalhado por Monróvia, capital da Libéria, onde existe um grande número de casos e há "vácuo" de autoridade em muitas áreas da cidade, que possui em torno de 1 milhão de habitantes, disse Formenty.

"Estamos tentando ajudar também algumas comunidades que começaram a desenvolver intervenções de atendimento domiciliar", disse ele.

"Porque, no momento, o número de leitos disponíveis em Monróvia não é suficiente para lidar com o número de prováveis casos que tem sido detectados", disse ele.

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