Las Vegas: atirador abriu fogo contra a multidão de seu quarto no 32º andar do hotel Mandalay Bay (Chris Wattie/Reuters)
AFP
Publicado em 3 de outubro de 2017 às 11h41.
O ataque contra o público de um festival de música em Las Vegas abriu um debate sobre as medidas de segurança em hotéis e eventos ao ar livre. Para especialistas, porém, pouco poderia ter sido feito para evitar o massacre.
"Era um incidente imprevisível. Ponto", disse Patrick Brosnan, ex-detetive da Polícia de Nova York, dono de uma empresa de consultoria de segurança privada.
Brosnan e outros especialistas consultados pela AFP concordaram que o tiroteio mais violento da história moderna dos Estados Unidos - 59 mortos e mais de 500 feridos - evidencia a dificuldade que as forças de segurança encontram para estarem um passo à frente desse tipo de ataque.
O atirador, um contador público aposentado identificado como Stephen Paddock, de 64 anos, abriu fogo contra a multidão de seu quarto no 32º andar do hotel Mandalay Bay, antes de cometer suicídio, informou a Polícia.
Sua motivação ainda é desconhecida.
"A ironia é que a segurança em Las Vegas é realmente muito boa, mas uma mente um pouco criativa e a vontade de fazer algo em um país livre geram coisas como essa", disse Tegan Broadwater, presidente e fundador da Tactical Systems Network, uma consultoria em segurança com sede no Texas.
Ele disse que certamente foi muito simples para Paddock levar até seu quarto o arsenal - que incluía ao menos 20 rifles e centenas de cartuchos de munição e que deveria pesar 45 quilos - com as relativamente flexíveis medidas de segurança nos hotéis.
"Os hotéis normalmente não vetam nenhum tipo de bagagem. Normalmente você aperta os botões, carrega as malas e leva para o seu quarto", completou.
E é muito pouco provável que seja implementada qualquer mudança para aumentar radicalmente a segurança nos hotéis de Las Vegas - a capital mundial do jogo, que atrai 43 milhões de visitantes por ano -, já que isso poderia espantar os turistas.
"Os hotéis e cassinos têm que encontrar um balanço para ter um local seguro e agradável", destacou Jason Porter, vice-presidente da Pinkerton, uma empresa de serviços de risco.
Para Brosnan, a instalação de detectores de metais e uma revista das bagagens nos hotéis poderiam ter um impacto no turismo da região, que gerou quase 60 bilhões de dólares em 2016, segundo um estudo.
Quem viaja com a mentalidade de que "o que acontece em Las Vegas fica em Las Vegas" não deseja ter as bagagens revistadas.
"Acontecem muitas despedidas de solteiro e as pessoas carregam maconha, ou álcool. Não querem enfrentar isso. Seria um pesadelo para os hotéis, que preferem não fazer", alegou.
Richard Frankel, um ex-agente do FBI e professor de Segurança Interna na St. John's University, acredita que o ataque resultará em uma análise de novas medidas de segurança para eventos ao ar livre.
Ele destacou que os novos protocolos poderiam incluir a presença de franco-atiradores nos telhados dos edifícios próximos e o uso de drones e helicópteros.
A resposta seria mais rápida do que a registrada no domingo, explica.
"Há muitas coisas que podem ser feitas. Depende apenas do nível ao qual se deseja chegar, o gasto que querem fazer", completou.
Brosnan acredita que seria útil uma política que obrigue os policiais a permanecerem armados quando estão fora de serviço, pois ajudaria a reduzir o número de vítimas.
"São treinados para entrar em ação e neutralizar qualquer ameaça", comentou.
Já outros especialistas, que pediram anonimato, insistiram que é pouco provável que, mesmo com toda a segurança do mundo, as autoridades consigam impedir tais ações.
Eles citaram os ataques recentes em outros países, como o atentado com homem-bomba em maio passado em um show de Ariana Grande em Manchester (22 mortos) e o ataque à casa de espetáculos Bataclan de Paris, que deixou 99 vítimas fatais.
"Não há forma real de prevenir o imprevisível", disse Brosnan.
"Se você reforça a segurança em hotéis, o agressor vai para o parque, ou para um local diferente, como um jogo de hóquei", completou.