Merkel: o grupo extremista Estado Islâmico reivindicou nesta terça-feira o atentado em Berlim (Michael Kappeler/Reuters)
AFP
Publicado em 20 de dezembro de 2016 às 21h13.
Última atualização em 20 de dezembro de 2016 às 21h14.
O massacre de Berlim pode representar um duro golpe para a chanceler Angela Merkel, questionada por sua generosa recepção aos refugiados em 2015, justo no momento em que começava a recuperar parte da popularidade perdida.
O primeiro suspeito do atentado contra uma feira de Natal de Berlim, que deixou 12 mortos, solto posteriormente, era um solicitante de asilo paquistanês que foi detido ainda na segunda-feira, informou o ministro do Interior, Thomas de Maizière.
De acordo com a imprensa, tratava-se de um paquistanês de 23 anos, que chegou a Alemanha em fevereiro de 2016 depois de viajar pela rota dos Bálcãs e que foi liberado nesta terça-feira por falta de provas incriminatórias por decisão da Procuradoria Federal.
O grupo extremista Estado Islâmico reivindicou nesta terça-feira o atentado em Berlim, através de sua agência de propaganda, a Amaq.
"Um soldado do EI executou a operação de Berlim, em resposta aos apelos de visar cidadãos de países da coalizão internacional" que luta contra o EI, destacou a agência.
Antes mesmo desta reivindicação, a extrema-direita alemã atribuiu diretamente a responsabilidade da tragédia a Merkel.
"São os mortos de Merkel", denunciou um dos líderes do movimento Alternativa para Alemanha (AfD), Marcus Pretzell, no Twitter.
"A Alemanha não é mais segura diante do terrorismo do islamismo radical", afirmou a principal figura do AfD, Frauke Petry, que criticou a decisão de Merkel de abrir as fronteiras do país aos migrantes e demandantes de asilo em agosto de 2015.
A ameaça islâmica "foi importada de forma sistemática e irresponsável no último ano e meio", criticou Petry.
O massacre de Berlim também voltou a provocar as críticas da União Social Cristã (CSU), braço bávaro do partido conservador de Angela Merkel, que há um ano critica a entrada de refugiados e exige, sem resultados até agora, um limite anual para a chegada de refugiados.
"Devemos questionar sobre os riscos criados pela chegada de um grande número de refugiados ao país", advertiu o ministro do Interior da Baviera, Joachim Herrmann.
A opinião pública não pode aceitar "uma situação na qual temos riscos crescentes procedentes de pessoas inspiradas pelo islamismo radical", completou Herrmann.
O drama da feira de Natal de Berlim - que recorda o ataque com um caminhão em 14 de julho en Nice, sul da França, que deixou 86 mortos - aconteceu justamente no momento em que a chanceler começava a recuperar o terreno perdido na opinião pública, inquieta com a entrada dos refugiados no país nos últimos 16 meses.
Depois de uma queda brusca de popularidade no início do ano e de uma série de derrotas nas eleições regionais, nas últimas semanas Merkel registrava um avanço nas pesquisas.
Nas sondagens mais recentes, o partido de Merkel, a União Democrata Cristã (CDU), aparecia com até 37% das intenções de voto.
No início do ano oscilava ao redor de 30%.
No final de novembro, estimulada pelas pesquisas, Merkel anunciou sua candidatura para um quarto mandato de chanceler nas legislativas previstas para 2017, provavelmente no mês de setembro.
A chanceler aproveitou o congresso da CDU para endurecer o discurso sobre a imigração e afirmar que a situação do outono de 2015, com milhares de refugiados entrando na Alemanha, não se repetiria.
O principal risco para Merkel pode vir da reação de seu partido, adverte Christian Moelling, analista do instituto German Marshall Fund.
"É possível que a ala dura dos conservadores alemães busque obter mais concessões dela nas questões de segurança e imigração", disse Moelling.
Ainda mais se ficar comprovado que o atentado foi planejado com a ajuda de uma organização, recorda.
"Neste caso a política de Merkel seria percebida como uma política que aumentou o risco", conclui o analista.