Ex-primeira-ministra Margaret Thatcher em Londres: aquela que foi nos anos 1980 uma das mulheres mais poderosas do planeta terminou sua vida nas brumas da senilidade (Suzanne Plunkett/AFP)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2013 às 14h56.
Londres - A ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, falecida nesta segunda-feira aos 87 anos, entrará para a história como a implacável Dama de Ferro, que marcou profundamente a vida política britânica do século XX e que até hoje segue provocando polêmica.
Sua lenda foi forjada em sua autodeterminação para impulsionar a liberalização econômica dos anos 1980, para resistir às pressões europeístas, para enviar a marinha real às Malvinas para combater as tropas argentinas em 1982 e devido a sua intransigência perante o nacionalismo do grupo IRA na Irlanda do Norte.
Mas aquela que foi nos anos 1980 uma das mulheres mais poderosas do planeta terminou sua vida nas brumas da senilidade.
Traída por uma saúde delicada que, desde março de 2002, a obrigou a renunciar a falar em público, "Maggie" Thatcher foi muito afetada pela perda de seu marido, Denis, depois de mais de 50 anos de casamento, em junho de 2003.
Ele a apoiou ao longo de toda uma carreira que a tornou um verdadeiro "monstro sagrado" em seu país.
Nascida no dia 13 de outubro de 1925, Margaret Roberts cresceu em Grantham, no centro da Inglaterra, onde seu pai, Alfred, comerciante, dividia seu tempo entre a Igreja metodista e o conselho municipal. Na casa da família, a missa era obrigatória e o trabalho uma segunda religião, razão pela qual a jovem saía pouco.
Graduou-se em química em Oxford em 1947 e depois também estudou direito. Desta época data a sua aproximação da política. Em 1951, se casou com o empresário Denis Thatcher e, dois anos mais tarde, deu à luz gêmeos, Carol, jornalista, e Mark, que se dedica aos negócios.
Viciada em trabalho - dormia quatro horas diárias e trabalhava o resto do tempo, segundo pessoas próximas -, foi eleita pela primeira vez deputada em 1959 e escalou rapidamente na hierarquia do Partido Conservador.
Mas ainda não vislumbrava seu destino. Em 1974, declarou: "Serão necessários anos - e não verei isso de novo durante a minha vida - para que uma mulher dirija este partido ou se torne primeiro-ministro".
No ano seguinte, assumiu a liderança dos "Tories" e, em maio de 1979, se converteu na primeira mulher a assumir o posto de primeira-ministra do país. Permaneceu no número 10 de Downing Street por 11 anos, um recorde de longevidade no século XX.
Os sindicatos foram amordaçados, setores inteiros da economia privatizados (telecomunicações, ferroviários, aeronáutica, etc) e o Estado de bem-estar desmantelado. Os impostos caíram, os gastos públicos também.
Os círculos empresariais a veneravam, mas sua revolução também se chocava com fortes resistências, uma divisão vigente até hoje na avaliação de seu legado.
Nos primeiros anos de seu mandato, foi superada a marca de três milhões de desempregados e cresceram o mal-estar social e os confrontos com os sindicatos, contra os quais declarou uma guerra sem quartel. No início dos anos 1980, os mineradores em greve se chocaram com a intransigência de "Maggie", assim como os grevistas de fome do Exército Republicano Irlandês (IRA), que iam morrendo na prisão.
No âmbito internacional, a Dama de Ferro tentou restabelecer o prestígio do antigo Império.
Em 1982, quando as tropas argentinas desembarcaram no arquipélago austral das Malvinas, sob dominação britânica desde 1833, Thatcher enviou uma força naval que em dois meses recuperou as ilhas. A vitória encarrilou sua reeleição em 1983.
Suas relações privilegiadas com o americano Ronald Reagan e com o soviético Mikhail Gorbachev também permitiram que reivindicasse um papel-chave nos últimos anos da Guerra Fria.
Ao seu nacionalismo se somou uma desconfiança quase visceral em relação à União Europeia. Seu tailleur azul, sua inseparável bolsa de mão, seu inconfundível penteado, suas pérolas, seus duros olhos azuis e suas críticas aos burocratas de Bruxelas entraram para a história.
Sua intransigência lhe valeu sólidas inimizades na Europa, no Reino Unido e até em seu próprio partido, o que a levou a uma humilhante renúncia no dia 22 de novembro de 1990. Suas posições sobre a Europa, após uma calamitosa reforma fiscal local - a famosa "Poll Tax" -, acabaram com sua carreira.
Após sua saída em prantos de Downing Street, a baronesa Thatcher se refugiou no elegante bairro londrino de Belravia, onde continuou preparando lucrativas conferências e redigindo suas memórias.
Em fevereiro de 2007 se converteu na primeira ex-chefe de Governo com uma estátua no Parlamento ainda em vida.
Na época, já havia uns cinco anos que esta lenda viva da política britânica não falava e praticamente não era vista em público, depois de ter sofrido dois acidentes vasculares cerebrais leves e devido ao aumento de sua demência senil.
No entanto, viveu o suficiente para ver outro conservador, David Cameron, como inquilino do número 10 de Downing Street, depois de 13 anos de governos trabalhistas, embora este tenha travado uma inédita coalizão com os liberais-democratas.
Em um de seus primeiros discursos importantes, alguns meses depois de sua eleição, em maio de 2010, Cameron, que se apresenta como mais moderado que sua predecessora, definiu Thatcher como "a melhor primeira-ministra em tempos de paz do último século".
Quando Thatcher já não era mais que uma sombra de si mesma, ressurgiu com toda a sua força no cinema com "A Dama de Ferro", em 2011, um filme polêmico que valeu a Meryl Streep um terceiro Oscar de melhor atriz.