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Maré humana no Irã pede vingança durante homenagem a Soleimani

O general morreu na sexta-feira em um atentado com um drone perto do aeroporto de Bagdá, atiçando as tensões entre Teerã e Washington

Irã: multidão de iranianos se despede de corpo do general e protesta contra ação do Estados Unidos (Majid Saeedi/Getty Images)

Irã: multidão de iranianos se despede de corpo do general e protesta contra ação do Estados Unidos (Majid Saeedi/Getty Images)

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AFP

Publicado em 6 de janeiro de 2020 às 16h14.

Última atualização em 6 de janeiro de 2020 às 17h10.

Uma multidão prestou homenagem nesta segunda-feira (6) ao general Qasem Soleimani nas ruas de Teerã, clamando vingança pela morte do comandante e seus companheiros de armas em um ataque americano no Iraque.

Soleimani, arquiteto da política expansionista iraniana no Oriente Médio como chefe da força Al Quds, dos Guardiães da Revolução, morreu na sexta-feira em um atentado com um drone perto do aeroporto de Bagdá, atiçando as tensões entre Teerã e Washington.

Diante do temor de uma explosão do conflito, os embaixadores dos países da Otan se reuniram nesta segunda-feira (6) em Bruxelas, e os ministros das Relações Exteriores da União Europeia o farão na sexta-feira na capital belga, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, analisará a situação com o presidente russo, Vladimir Putin, no sábado em Moscou.

"Em nossa reunião, os aliados pediram moderação e distensão. Um novo conflito não beneficiará ninguém, razão pela qual o Irã deve se abster de mais violência e provocações", declarou o chefe da Otan, Jens Stoltenberg.

Uma maré humana invadiu as avenidas Enghelab ("Revolução" em persa), Azadi ("Liberdade") e seus arredores, com bandeiras vermelhas (cor do sangue dos "mártires") ou iranianas, mas também libanesas e iraquianas.

Visivelmente emocionado, o aiatolá Khamenei pronunciou uma breve oração em árabe na universidade de Teerã, diante dos caixões de Soleimani, do iraquiano Abu Mehdi Al Muhandis (número dois da coalizão paramilitar pró-iraniana Hashd Al Shaabi) e de outros quatro iranianos mortos no mesmo ataque.

O líder supremo e outros dirigentes presentes, como o presidente Hassan Rohani e o general Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária, deixaram rapidamente o local, antes de o cortejo abrir caminho com dificuldade entre a multidão para chegar à praça Azadi.

Dali, o caixão com o corpo de Soleimani foi levado de avião para a cidade santa xiita de Qom para uma cerimônia. O general será enterrado na terça-feira em Kerman (sudeste), sua cidade natal.

"Símbolo de estupidez"

Estimada em "vários milhões" pela TV estatal iraniana, a multidão gritou "Morte à América!", "Morte a Israel!". Foram queimadas bandeiras dos dois países. Homens e mulheres choravam, pedindo vingança.

"Trump estúpido, símbolo da estupidez e joguete nas mãos do sionismo (Israel), não pense que com o martírio do meu pai, tudo terminou", advertiu Zeinab, filha de Qasem Soleimani, cujo discurso emocionou a multidão.

"Nossa resposta deve ser devastadora. Devemos atacar toda base militar americana na região (...) Tudo o que estiver ao alcance dos nossos mísseis", disse em meio à multidão um iraniano de 61 anos que se identificou como Afjami.

"Nós os atingiremos, os faremos pagar pelo sangue derramado por sua culpa", afirmou Mehdi Ghorbani, um funcionário público que foi ao cortejo acompanhado da esposa e do filho.

Presente em Teerã, o chefe do escritório político do Hamas palestino, Ismail Haniyeh, também causou furor na multidão.

A morte de Soleimani ocorreu depois de um ataque sem precedentes na embaixada em Bagdá por parte de manifestantes pró-iranianos.

"Nunca terá a arma nuclear"

Teerã prometeu uma resposta "militar", uma "dura vingança", que acertará "o lugar certo no momento certo".

Embora a comunidade internacional multiplique os apelos à "desescalada", à "prudência" e à "moderação", o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reiterou no domingo que se o Irã "fizer algo, haverá grandes represálias".

Trump ameaçou ainda com a imposição de sanções "muito fortes" contra o Iraque, depois que o Parlamento iraquiano votou uma resolução que pede a retirada de 5.200 militares americanos de seu território.

Em meio a esta convulsão, o Irã anunciou no domingo uma nova redução dos compromissos assumidos no âmbito do acordo de 2015 sobre seu programa nuclear, em resposta à saída unilateral dos Estados Unidos do pacto, em maio de 2018, e ao restabelecimento das sanções econômicas contra Teerã.

"O Irã nunca terá a arma nuclear", escreveu em letras maiúsculas nesta segunda-feira no Twitter o presidente americano, Donald Trump.

O Irã informou que se desliga de qualquer limite "ao número de suas centrífugas" de urânio; mas disse que continuará submetendo-se "como antes" a inspeções nucleares à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), contempladas no acordo.

A AIEA, com sede em Viena, disse estar "a par do anúncio" iraniano e destacou que seus"inspetores continuam suas atividades de vigilância" no Irã.

França, Grã-Bretanha e Alemanha pediram ao Irã para retirar "todas (as suas) medidas não conformes" ao pacto. A Rússia exortou os países signatários do acordo garantir sua aplicação com "prioridade". A Arábia Saudita, aliada dos Estados Unidos, pediu calma.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, disse que uma redução das tensões entre Teerã e Washington é do interesse de Irã e Iraque.

A Unesco afirmou que os Estados Unidos e o Irã devem proteger os sítios culturais, inclusive em caso de conflito.

Enquanto isso, os preços do petróleo e estremecem as bolsas mundiais. O ouro atingiu nesta segunda-feira sua maior cotação desde meados de 2013.

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