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Manuel Merino, o breve presidente do Peru

Após uma chegada ao poder que surpreendeu os peruanos e agitou os mercados, o candidato de centro-direita sentiu pressão de cinco dias de protestos

 (Congresso Peruano/Reuters)

(Congresso Peruano/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de novembro de 2020 às 19h30.

Manuel Merino, presidente do Congresso que havia assumido na última terça-feira a presidência do Peru, após promover a destituição do popular Martín Vizcarra, renunciou neste domingo, em meio a protestos contra o novo chefe de Estado que resultaram em uma repressão que deixou dois mortos e uma centena de feridos.

Após uma chegada ao poder que surpreendeu os peruanos e agitou os mercados, Merino, de centro-direita, sentiu a pressão de cinco dias de protestos protagonizados por milhares de pessoas no país, principalmente jovens.

A repressão policial, que atingiu níveis desproporcionais contra manifestantes pacíficos, marcou a fogo a breve e polêmica gestão de Merino. A situação se tornou insustentável quando, na noite deste sábado, o novo chefe do Congresso, Luis Valdez, pediu na TV a renúncia imediata do novo presidente.
Valdez havia apoiado Merino no julgamento relâmpago contra Vizcarra e colocado a faixa presidencial no novo chefe de Estado na última terça-feira.

Em segundo plano

Após duas décadas em segundo plano, durante as quais foi representante no Congresso da região de Tumbes, a menor do Peru, Merino saiu do anonimato em setembro, ao promover um primeiro processo de destituição contra Vizcarra, que não prosperou. "É um momento muito difícil para o país, aqui não há nada a comemorar", afirmou esta semana em seu primeiro discurso como presidente, um dia após a destituição de seu antecessor.

Como chefe do Congresso, Merino era o primeiro na linha de sucessão do Peru, que não tem a figura do vice-presidente. O viés populista das leis econômicas que o Congresso aprovou sob a sua direção nos últimos meses, durante a pandemia, como autorizar o saque dos fundos de pensão e congelar dívidas com os bancos privados, despertou temor nos círculos financeiros.

Além do custo do julgamento político relâmpago de Vizcarra, que goza de alta popularidade, os protestos e os questionamentos sobre a sua legitimidade resultaram em um grande desafio para Merino. A composição do Congresso também complicou a solidez de seu governo, com quatro partidos populistas rivais dividindo o controle em uma aliança complexa.

"Da velha escola"

Merino, 59, engenheiro agrônomo e pecuarista, foi eleito em março presidente do Congresso. Ganhou uma cadeira - com apenas 5.271 votos - nas eleições legislativas extraordinárias de janeiro, convocadas por Vizcarra após dissolver constitucionalmente o Congresso em setembro de 2019.
A eleição de Merino como presidente do Congresso foi promovida pela bancada do Ação Popular, partido do qual é membro há 41 anos e principal minoria na Câmara. Mas a oportunidade de fazer história acabou sendo apresentada a Merino, casado há 35 anos com a professora Jacqueline Peña, com quem tem três filhas.

Nascido em 20 de agosto de 1961, na região de Tumbes, Merino foi legislador entre 2001 e 2006, e de 2011 a 2016, antes de voltar ao Congresso. "É um típico cacique provinciano, um político discreto, eleito três vezes representante de Tumbes", diz o analista José Carlos Requena. "Não é do tipo que se destaca. Afiliado a apenas um partido durante toda a vida, é visto como um político tradicional, da velha escola."

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