Em julho de 2011, em Madrid, membros do Anonymous protestam contra a prisão de Bradley Manning (Denis Doyle / Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2012 às 20h26.
Fort Meade (EUA) - O soldado americano Bradley Manning, acusado de vazar milhares de documentos confidenciais ao Wikileaks, contou nesta sexta-feira seu desespero para sair do isolamento que sofreu na prisão de Quantico, no estado da Virgínia (EUA), por suas supostas tendências suicidas, enquanto a Promotoria tenta demonstrar que ele recebeu o tratamento adequado.
Em seu primeiro encontro com os promotores nas audiências prévias ao julgamento militar que será realizado no dia 4 de fevereiro na base de Fort Meade, em Maryland, Manning declarou: ''Não sou um suicida, não tentava fazer mal a mim mesmo''.
O comandante Ashden Fein, promotor principal, mostrou um lençol com fotos nuas que Manning reconheceu que fez enquanto esteve preso em instalações militares no Kuwait, para onde foi levado detido antes de ser enviado à prisão nos Estados Unidos.
O promotor também mostrou cordas que foram encontradas na cela kuwatiana e dois objetos metálicos com os quais sugeriu que o soldado quis se machucar. Manning, por sua vez, disse não se lembrar deles.
O soldado foi transferido em julho à prisão de Quantico como prisioneiro em risco de suicídio e foi posto sob um estrito regime de máxima segurança que incluía ficar 23 horas fechado e medidas como dormir nu, segundo contou.
A promotoria indicou que nos documentos que Manning preencheu quando chegou a Quantico vindo do Kuwait, ele admitiu que teve pensamentos suicidas.
Segundo os documentos, Manning respondeu: ''sempre planejando, mas nunca atuando'', algo que não lembra com clareza ter dito, já que afirmou que foi ''ajudado a preencher os papéis'', mas com a mesma / própria eloquência que no dia anterior, disse que poderia ter sido uma resposta ''mais intelectual'' que real.
Em seu testemunho anterior, Manning descreveu a situação de ''estresse'' que sofreu após os primeiros dias de detenção nos quais se sentiu ''perdido'' e ''desmoronado'', mas declarou que após voltar a solo americano, se sentiu ''aliviado'' e nunca agiu de forma a fazer mal a si mesmo.
Seu advogado civil, David Coombs, que chamou seu cliente para testemunhar pela primeira vez na quinta-feira, tenta mostrar que Manning foi injustamente tratado em Quantico e mantido nessas condições apesar de vários psiquiatras que trataram dele testemunharem, pouco após sua chegada, que consideravam que elas já não eram necessárias.
A juíza que analisa o caso, a coronel Denise Lind, pode vir a desprezar as acusações, como pediu inicialmente Coombs, se considerar que o tratamento recebido por Manning foi um ''castigo preventivo ilegal'' ou reduzir sua sentença se for declarado culpado.
No entanto, a promotoria disse que nas perguntas rotineiras que foram feitas a Manning sobre se era bem tratado na prisão, ele respondeu afirmativamente, classificando a postura de guardas e do centro penitenciário como ''excelente'' e ''profissional''.
Manning recebeu visitas e alguns dos livros que havia pedido, como ''A People''s History of the United States'', de Howard Zinn, ''Good Soldier'', de Daniel Finkel, e exemplares da revista científica ''Scientific American Journal''.
A promotoria ressaltou que durante estas visitas, que começaram a ser gravadas em setembro, ele ''não reclamou com ninguém sobre as condições de confinamento'', mas se preocupou com sua imagem na imprensa e nos eventos de arrecadação de fundos.
Manning afirmou que ''não queria preocupar'' sua família e achava que ''não podia falar da prisão, dos detalhes, por motivos de segurança''.
O soldado respondeu as perguntas de forma longa, revisando os documentos que lhe foram mostrados por Finn, que riu de alguns comentários de Manning, como quando lhe perguntou se precisava de um recesso e ouviu: ''posso controlar minha bexiga''.
Manning, que contou com o apoio de mais de dez simpatizantes que assistiram às audiências com camisetas com a palavra ''Truth'' (Verdade), é acusado de vazar milhares de documentos da Guerra do Iraque e do Afeganistão, e 250 mil documentos diplomáticos do Departamento de Estado ao Wikileaks durante o tempo em que trabalhou como especialista de inteligência no Iraque, entre 2009 e 2010.
Das 22 acusações que lhe foram feitas por armazenar e divulgar sem autorização informações confidenciais, a mais grave, a de ajudar o inimigo, pode levá-lo a ser condenado à prisão perpétua.