"Estamos aqui como movimento popular para exigir o fim deste sistema", afirmou um professor universitário (Zohra Bensemra/Reuters)
EFE
Publicado em 19 de março de 2019 às 10h14.
Argel — Milhares de argelinos saíram às ruas nesta terça-feira para comemorar o "Dia da Vitória" sobre o colonialismo francês com grandes protestos contra a corrupção do regime militar que domina a Argélia desde a guerra de independência (1956-1962).
Aos gritos de "queremos que o regime caia", os manifestantes, a maioria estudantes e professores, lotaram as ruas próximas da praça Grand Post, epicentro da capital, e mostraram sua rejeição à transição ordenada há uma semana pelo presidente, Abdelaziz Bouteflika.
Mas, ao contrário do que vinha acontecendo em protestos anteriores, as forças de segurança interviram desta vez para bloquear os acessos à Praça de Primeiro de Maio, onde se manifestavam médicos e enfermeiros.
Essa ação policial parece fazer parte de uma nova estratégia do regime para conter as grandes manifestações que acontecem todas as sextas-feiras em todo o país desde 22 de fevereiro e que começaram com a exigência de que Bouteflika, que está gravemente doente, renunciasse à reeleição.
"Estamos aqui como movimento popular para exigir o fim deste sistema. Dado que as coisas não mudam, ficaremos na rua de forma pacífica" o tempo que for necessário, disse à Agência Efe Ali Harfush, professor de física na universidade de Argel.
A maioria dos sindicatos do país também aderiu à rejeição ao plano de transição na segunda-feira. As associações profissionais não quiseram se reunir com o novo primeiro-ministro, Noureddine Bedoui, e também não quiseram participar das consultas para a formação de um governo de concertação que conduzirá esse processo.
Segundo a agência oficial "APS", o convite foi feito no domingo pelo próprio Bedoui e pelo novo vice-primeiro-ministro, Ramtam Lamamra, para que o novo governo "careça de afiliação política e reflita de maneira significativa as caraterísticas demográficas da sociedade argelina".
Os dois foram designados a dedo pelo próprio Bouteflika há uma semana, horas depois da divulgação de uma mensagem à nação na qual o líder doente renunciava à reeleição e adiava o pleito presidencial.
"Rejeitamos a oferta por falta de clareza", argumentou o coordenador do Sindicato Nacional Autônomo de Professores de Ensino Médio, Mezian Merian.
A formação de um governo de concertação é a base do plano traçado pelo entorno político de Bouteflika que inclui a convocação de uma Conferência Nacional inclusiva que deve preparar novas eleições presidenciais.
Na sexta-feira passada, centenas de milhares de argelinos lotaram pela quarta semana consecutiva as ruas do país para exigir "uma verdadeira mudança" que permita tirar a Argélia da profunda crise econômica que sofre desde que os preços do petróleo e do gás despencaram em 2014, as únicas riquezas exploradas pelo país.
Ontem, em uma mensagem atribuída a Bouteflika por ocasião do "Dia da Vitória", o presidente garantiu que a reforma será também econômica e social para minimizar a dependência da Argélia dos hidrocarbonetos.