Manifestantes pedem governo civil no Sudão (Stringer/Reuters)
AFP
Publicado em 14 de abril de 2019 às 10h58.
No Sudão, manifestantes mantêm a pressão neste domingo, 14, sobre os militares no poder para uma rápida transferência do poder a um governo civil, um dia depois do novo homem forte do país, o general Abdel Fatah al Burhan, ter prometido "eliminar na raiz" o regime de Omar al Bashir.
Os líderes dos protestos no Sudão apresentaram suas demandas ao novo governo militar, que incluem a formação de um governo civil, durante uma reunião no sábado, anunciou a Aliança pela Liberdade e a Mudança (ALC), que coordena o movimento.
Milhares de manifestantes permanecem acampados desde 6 de abril diante do quartel-general do exército em Cartum para manter a pressão sobre a junta militar de transição, instaurada depois que o exército destituiu na quinta-feira Omar al Bashir, o homem que governava o país com mão de ferro desde um golpe de Estado em 1989.
"Continuaremos organizando protestos até que nossos pedidos sejam atendidos, incluindo a formação de um governo completamente civil, declarou em um comunicado Omar al Digeir, líder da Aliança pela Liberdade e a Mudança, que reúne a Associação dos Profissionais Sudaneses (SPA) e partidos da oposição.
Uma delegação de 10 representantes dos manifestantes se reuniu no sábado com a junta militar e apresentou suas demandas.
Entre os pedidos está, indicou Digeir, a reestruturação do poderoso Serviço de Inteligência Sudanês (NISS), que supervisionou nos últimos quatro meses a repressão às manifestações que provocaram dezenas de mortes.
O general Al Burhan, nomeado na sexta-feira como substituto do general Awad Ibn Ouf, que renunciou depois de passar apenas 24 horas no poder, anunciou no sábado uma série de medidas vistas como concessões aos manifestantes.
Novo homem forte do país, o general Abdel Fatah al Burhan, se comprometeu a "eliminar na raiz" o regime de Omar al Bashir.
Ele anunciou ainda o fim do toque de recolher noturno - imposto na quinta-feira -, a libertação de todos os manifestantes detidos nas últimas semanas e se comprometeu a levar a julgamento os responsáveis por mortes durante os protestos.
Outro anúncio feito pela junta militar como demonstração de boa vontade foi a demissão de Salah Gosh, diretor do NISS.
"É crucial que as novas autoridades sudanesas investiguem o papel de Salah Gosh na morte de vários manifestantes e respondam às acusações de tortura, detenções arbitrárias e violações dos direitos humanos sob sua supervisão", afirmou a ONG Anistia Internacional.
A ALC também defende a integração de civis à junta militar de transição, que entre seus 10 membros conta com vários nomes fortes do regime de Al Bashir, incluindo o chefe de polícia.
O general Al Burhan nomeou como integrantes da junta o vice-diretor do NISS, assim como Mohamad Hamdan Daglo, chefe de operações paramilitares da Força de Apoio Rápido, conhecido como "Himeidti" e acusado de violações dos direitos humanos em Darfur (oeste).
Entre as medidas decretadas após a destituição de Al Bashir estão o cessar-fogo em todo país, especialmente em Darfur, onde um conflito provocou mais de 300.000 mortes desde 2003, segundo a ONU.
A diretora adjunta d Anistia Internacional para o leste da África, Sarah Jackson, pediu que as novas autoridades revelem o paradeiro de Omar Al Bashir, de 75 anos, e o entreguem ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu uma ordem de detenção contra ele por crimes de guerra e genocídio.
A junta militar afirmou que não entregará Al Bashir ou qualquer outro cidadão do país a organismos internacionais.