Agência de notícias
Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 12h25.
Última atualização em 17 de janeiro de 2025 às 12h33.
A notícia de que Israel e o grupo terrorista Hamas concordaram com um cessar-fogo e a libertação de reféns em Gaza, divulgada na quarta-feira antes da aprovação final do acordo por autoridades do governo israelense, levou grupos de direita e outras organizações civis no Estado judeu a organizarem protestos contra e a favor da trégua no conflito. Os manifestantes que se opõem ao tratado, que incluíam um grupo de famílias enlutadas pela guerra, afirmam que os termos do acordo podem pôr em risco a segurança nacional ao libertar “muitos terroristas palestinos” condenados, publicou o Times of Israel.
Os protestos contra o acordo ocorreram em frente ao escritório do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ainda na noite de quarta-feira. Na quinta-feira, centenas de pessoas retornaram ao local na esperança de convencer os ministros reunidos com o premier a se oporem ao acordo. Sob gritos de “Bibi, acorde, o sangue judeu não é barato”, em referência ao apelido de Netanyahu, o grupo indicava preocupação com os reféns que não seriam libertos na primeira fase da trégua. Outros bloquearam estradas importantes em Jerusalém, enquanto em Tel Aviv milhares se reuniram a favor do acordo.
https://exame.com/mundo/como-equipes-de-biden-e-trump-trabalharam-juntas-para-fechar-acordo-de-cessar-fogo-em-gaza/"A pressão sobre Netanyahu deve se intensificar. Ele é quem decidirá se os reféns sairão vivos ou permanecerão nos túneis [do Hamas em Gaza] e serão executados. Nossa voz pelo fim da guerra em troca de um acordo abrangente deve superar aqueles que querem colonizar [o enclave palestino] às custas dos reféns", disse ao Haaretz Einav Zangauker, cujo filho Matan, de 25 anos, foi sequestrado durante o massacre de 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra.
Nesta sexta-feira, o Gabinete de Segurança de Israel aprovou o acordo, concluindo a primeira das duas etapas definidas pela burocracia israelense para aderir oficialmente aos termos negociados com o Hamas. O aval final para a validação do acordo depende de uma votação no Gabinete de Governo, que inclui todos os ministros do governo de Netanyahu. A reunião decisiva está marcada para às 15h30 no horário local (10h30 em Brasília), e o governo garante que a libertação dos primeiros reféns poderá começar já no domingo.
Embora os termos do acordo ainda não tenham sido divulgados na íntegra, o jornal estatal egípcio al-Qahera informou que o tratado compreende três fases interligadas. A primeira, de 42 dias de duração, deve envolver a interrupção temporária das operações militares de ambos os lados, bem como a retirada das forças israelenses dos centros populacionais e em direção às fronteiras de Gaza. O Hamas, por sua vez, libertaria gradualmente 33 reféns nos primeiros dias do cessar-fogo. Dos quase 100 reféns ainda mantidos no enclave, não se sabe quantos ainda estão vivos, ainda que Israel acredite que a maioria esteja.
Como parte do acordo, Israel libertará cerca de mil prisioneiros palestinos, incluindo mais de 150 condenados por ataques contra israelenses. Enquanto o Hamas afirma que trata-se de um fim permanente da guerra, com mediadores indicando que o grupo pressionará pela continuidade da trégua, o Estado judeu ainda diz que “nada está garantido” e que os combates podem ser retomados, publicou o Times of Israel. Duas semanas após a suspensão dos combates, outra rodada de negociações deve ter início para definir a segunda fase do acordo. O destino do restante dos reféns seria definido nesse estágio.
A pressão contra o acordo nas ruas de Israel foi liderada pelo Fórum Gvura, que representa famílias de soldados mortos durante a guerra, e o Fórum Tikva, que faz campanha em nome das famílias de reféns que se opõem à libertação de prisioneiros palestinos ou outras concessões. Em comunicado, este último disse estar “emocionado, como todo o povo de Israel”, pela perspectiva de os “reféns voltarem para casa após um longo e cruel cativeiro”. No entanto, a organização disse que o acordo, que propõe a liberdade dos reféns em fases, “deixará dezenas de pessoas sequestradas para trás e abrirá caminho para o próximo massacre”.
“Não pararemos e nem ficaremos em silêncio até garantir o retorno de todos os reféns, a segurança dos cidadãos israelenses e dos soldados das Forças Armadas de Israel, que podem pagar o preço mais alto de todos”.
“Não pararemos e nem ficaremos em silêncio até garantir o retorno de todos os reféns, a segurança dos cidadãos israelenses e dos soldados das Forças Armadas de Israel, que podem pagar o preço mais alto de todos”.
Manifestantes contrários ao acordo colocaram dezenas de caixões cobertos com bandeiras de Israel num importante cruzamento local, indicando representar os israelenses que morrerão por causa do acordo. Centenas de civis marcharam até o Knesset, o Parlamento israelense, para pedir que os legisladores bloqueassem o acordo. No processo, alguns jovens arrancaram faixas que defendiam o tratado, montadas nas ruas pelo Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos. Outros manifestantes ridicularizaram o acordo como uma “rendição ao Hamas” que prejudicaria a “honra do povo judeu”.
"Todos sabemos que este acordo só enfraquece o povo judeu", disse o irmão do soldado Amichai Weitzen, morto nos combates.
O Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos, por sua vez, saudou o acordo, acrescentando que sua luta não terminará até que todos os sequestrados estivessem livres do cativeiro em Gaza. A organização reconheceu que tratava-se de um “passo importante e significativo”, mas que “a jornada apenas começou”. O grupo exigiu que o governo permanecesse comprometido em garantir a “implementação total do acordo até que o último refém esteja livre”.
Segundo o Haaretz, no entanto, apesar de milhares comparecerem aos protestos da organização, o público local tem se colocado ao lado das famílias dos reféns apenas em alguns eventos específicos.
“O anúncio da assinatura [do acordo] não permite alegria ou alívio entre as famílias [dos reféns]. Nossa respiração estará suspensa até que todos os nossos entes queridos voltem para a casa”, disse o grupo.