Mundo

Manifestantes antirracistas tomam as ruas do Reino Unido após ameaça de protestos da extrema direita

Onda de protestos teve início após um jovem britânico, filho de imigrantes de Ruanda, matar três meninas em uma aula infantil

Protestos pró-imigração no Reino Unido (AFP)

Protestos pró-imigração no Reino Unido (AFP)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 7 de agosto de 2024 às 20h41.

Tudo sobreReino Unido
Saiba mais

Com placas que diziam "Refugiados são bem-vindos" e "esmague o fascismo e racismo", milhares de manifestantes antirracistas foram às ruas em várias cidades britânicas, nesta quarta-feira, para se posicionar de maneira contrária aos protestos violentos liderados pela extrema direita, que convocou novos atos para esta noite.

Em meio à tensão, 6 mil policias foram mobilizados em todo país, monitorando ao menos 30 localidades, segundo a BBC.

O contraprotesto reuniu um grande número de pessoas nas cidades de Bristol, Liverpool, Birmingham, centro do país, Brighton e Walthamstow, no norte de Londres. Por outro lado, pequenas manifestações da extrema direita foram vistas em Durham, Blackpool, Norwich, Northampton, Sheffield e Brighton. No entanto, sem a grandeza esperada pelas autoridades.

Segundo uma fonte policial ouvida pelo Guardian, a onda de prisões que sucedeu os atos violentos no último final de semana tiveram um efeito dissuasivo. Nesta quarta-feira, três pessoas foram presas por atuação nos movimentos violentos de semana passada, disse a BBC. Até segunda-feira, o Conselho Nacional dos Chefes de Polícia (NPCC, da sigla em inglês) informou que 378 pessoas tinha sido detidas.

Para Nick Lowles, especialista em extrema direita britânica também ouvido pelo Guardian, embora muitos mobilizadores tenham sido encontrados pelas autoridades através das redes sociais, o movimento desta quarta lhe pareceu mais "uma farsa criada para espalhar o medo e o pânico".

A onda de protestos teve início após um jovem de 17 anos promover um ataque a facas em aula de dança temática sobre Taylor Swift, matando três meninas. Outras oito crianças ficaram feridas, cinco delas em estado grave, além de dois adultos.

Rapidamente, grupos de extrema direita começaram a difundir desinformação sobre o caso, transformando-o em uma questão étnica após a revelação da identidade do suspeito, Axel Rudakubana, um britânico de Cardiff filho de imigrantes de Ruanda. Mesmo sendo católico e seus pais de um país no qual muçulmanos representam apenas 2% da população, o ódio se voltou para os muçulmanos, com ataques a mesquitas, centros de acolhimento a refugiados e outros alvos nos últimos dias.

Clima das ruas

Em Kent, a polícia precisou separar um grupo de 50 manifestantes antirracistas de 150 pessoas que protestavam contra a imigração do lado de fora de um hotel nesta quarta. Duas pessoas foram presas durante confrontos. Em Portsmouth, 200 manifestantes da extrema direita fecharam uma das principais vias da cidade.

A atmosfera, porém, era pacífica em boa parte das concentrações, embora em Croydon, na capital, a polícia tenha identificado um grupo com aproximadamente 50 pessoas que tinha por intenção "causar perturbação e fomentar desordem". Ao menos oito pessoas foram presas por suspeita de agressão a socorristas, porte de armas ofensivas e outros delitos, informou a polícia, destacando que a perturbação "não está ligada ao protesto".

Em Balckpool a polícia prendeu um homem onde um grupo de menos de cem pessoas gritava "EDL" (sigla do grupo de extrema direita English Defense League), frases extremistas e anti-imigração. Em Northampton, pelo menos três pessoas foram presas. Apesar disso, a maioria dos manifestantes que estavam no local descreveu a atmosfera como pacífica.

Em Bristol, onde no fim de semana houve um confronto entre manifestantes anti-imigração, contramanifestantes e a polícia, pelo menos 1,5 mil pessoas compareceram ao protesto. Segundo a BBC, há muitas placas de "migrantes são bem-vindos" e "esperança, não ódio", além de alguns cânticos. Os manifestantes se concentraram na rua em frente a um escritório de advocacia de imigração, um dos alvos divulgados esta semana em um canal de extrema direita no Telegram.

Um dos organizadores do grupo Stand up to Racism, citado pelo jornal britânico, estimou que o número de manifestantes chegava a 2 mil. Na cidade de Bristol, quase todos os comerciantes protegeram suas janelas com tábuas. Em meio à multidão, também houve bandeiras de sindicatos e da causa pró-Palestina.

A atmosfera no início estava bastante tensa após circularem rumores de um ataque da extrema direita, mas a ansiedade e medo foram se dissipando ao longo das horas. À rede britânica, Habib, um homem natural de Gâmbia, disse que a cidade é "muito vibrante e acolhedora".

— Os britânicos não permitiriam que ninguém trouxesse o caos para a cidade. É por isso que sinto que vou me juntar aos britânicos para impedir o que vai acontecer esta noite — afirmou.

'Ecos do passado na Alemanha'

Em Newcastle, um homem em um megafone disse que os contramanifestantes estavam reunidos para mostrar que a comunidade "não será intimidada por esses bandidos". Já em Birmingham, centenas de manifestantes gritaram "Escória fascista fora de Brum", em referência ao apelido da cidade. Uma alemã, que fazia parte do contraprotesto em Walthamstow, disse que foi motivada pelo passado de seu país, dominado pelos nazistas principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, sob a liderança de Adolf Hitler.

— Sou de um lugar onde as pessoas não se levantaram contra o fascismo quando era realmente necessário e por essa razão sinto que temos que estar aqui — afirmou Kristine Pommert, que mora no Reino Unido desde 1992, alertando: — O que está acontecendo na Inglaterra nos últimos dias é algo que reconheço e posso ver ecos do passado na Alemanha, seja nos anos 30 ou nos ataques às pessoas em Rostock, na parte oriental da Alemanha, na década de 1990.

Na região, os presidentes das mesquitas pediram para que os membros de sua comunidade não se juntassem à manifestação. Mas a ordem não vale para todos os muçulmanos: em Lancashire, um grupo de manifestantes antifascista muçulmano falou do momento em que foram abraçados em apoio por frequentadores de um pub no condado.

Contramanifestantes e extremista trocaram insultos em Aldershot, cidade no condado de Hampshire, à medida que ia anoitecendo. Gritos de "parem os barcos" foram rebatidos com "parem a extrema direita". Apesar da animosidade e da barulheira no local, não há registros de tensões.

A atmosfera pacífica também foi registrada em Sheffield, onde cerca de 1,5 mil pessoas se reuniram após uma vigília pela paz realizada no início da noite. A centenas de quilômetros dali, em Liverpool, os manifestantes fizeram um escudo humano em volta de uma igreja que foi alvo das manifestações de extrema direita por seu centro de aconselhamento sobre imigração.

— Tenho fotos de Brighton e Walthamstow e as multidões são maiores que as nossas! — disse o padre Peter Morgan, pároco da igreja St Mary's de Liverpool. — É a mesma situação em todo o país. Os racistas foram vencidos, e esperamos que para sempre.

Acompanhe tudo sobre:Reino Unido

Mais de Mundo

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru

Alta tecnologia e inovação global: destaques da exposição internacional em Shenzhen