EUA: dos 50 estados, apenas três não reconhecem o Juneteenth como um feriado (Brian Snyder/Reuters)
EXAME Hoje
Publicado em 19 de junho de 2020 às 06h54.
Última atualização em 19 de junho de 2020 às 15h48.
Grupos de direitos civis planejam realizar manifestações nesta sexta-feira, 19, em várias cidades americanas, como Washington, Nova York e Atlanta, para marcar a passagem do Juneteenth, um feriado não oficial que celebra o fim da escravidão nos Estados Unidos. Na capital americana, diversos movimentos em defesa de direitos dos negros pretendem realizar “atos disruptivos” nas proximidades da Casa Branca, bloquear as principais avenidas e pedir que o comércio feche as portas e exiba cartazes de “Vidas negras importam”, em alusão à morte do ex-segurança negro George Floyd por um policial branco em Minneapolis, no dia 25 de maio, caso que deflagrou uma onda de protestos antirracistas e contra a violência policial pelo mundo.
O Juneteenth (uma corruptela das palavras “June nineteenth”, ou 19 de junho) é uma referência ao dia em que, no ano de 1865, um pelotão do Exército da União chegou à cidade de Galveston, no Texas, e anunciou que a guerra civil americana havia terminado e que todos os negros eram livres. O presidente Abraham Lincoln havia assinado a Proclamação de Emancipação, abolindo a escravidão no país, em 22 de setembro de 1862, mas, devido às dificuldades de comunicação e mobilidade na época, os últimos escravos foram libertados somente dois anos e meio depois.
Texas foi o primeiro estado a tornar 19 de junho um feriado, em 1980. É uma espécie de ponto facultativo: as repartições do governo não fecham, mas alguns órgãos trabalham com menos funcionários. Outros estados também passaram a reconhecer o Juneteenth como um feriado, mas também como um dia de simples celebração do evento histórico. Dos 50 estados americanos, apenas três (Dakota do Norte, Dakota do Sul e Havaí) ainda não reconhecem o Juneteenth como um feriado.
Ativistas negros tentam convencer o Congresso americano a reconhecer o Juneteenth como um feriado nacional. Em entrevista ao diário The Wall Street Journal na quarta-feira, o presidente Donald Trump desdenhou da data. Ele disse que merecia crédito por tornar o Juneteenth “muito famoso” porque, até então, “ninguém tinha ouvido falar nele”.
Trump pretendia retomar sua campanha eleitoral com um comício hoje em Tulsa, em Oklahoma. A cidade foi palco de um dos mais violentos ataques racistas no país. Em 1921, uma multidão de brancos atacou e destruiu mais de 35 quarteirões do distrito de Greenwood, conhecido como “Black Wall Street” por reunir a comunidade negra mais rica do país na época. O plano de Trump de realizar em Tulsa seu primeiro grande comício desde o início da pandemia do coronavírus, e justamente no dia do Juneteenth, foi bastante criticado pela comunidade negra, e o presidente decidiu adiar o evento para amanhã.
O Juneteenth é tradicionalmente celebrado com eventos para promover a consciência afroamericana, como festivais de música, teatro e dança, paradas cívicas ou simples piqueniques em lugares públicos. Neste ano, após o caso de George Floyd, várias grandes empresas, como a fabricante de material esportivo Nike, a rede social Twitter e o grupo varejista Target, anunciaram que vão passar a tratar o Juneteenth como um feriado corporativo, concedendo descanso remunerado a seus funcionários.
Alguns estados também começaram a se mexer para tornar o Juneteenth um feriado de fato. Na terça-feira, o governador da Virgínia, o democrata Ralph Northam, anunciou um projeto de lei para formalizar 19 de junho como um feriado no estado, o que significa que os funcionários do Executivo poderão tirar descanso remunerado nesse dia. No início do mês, Northam havia proposto a retirada de um monumento em Richmond, a capital do estado, em homenagem ao general Robert E. Lee, comandante dos Estados confederados, que defendiam a escravidão e lutaram contra a União na guerra civil. O caso chegou aos tribunais e um juiz barrou temporariamente a retirada da estátua de Lee da Monument Avenue. A imponente estátua de Lee montado em um cavalo, construída em 1890, tem sido alvo de protestos desde a morte de George Floyd.