Protesto: governo classificou ato de ilegal e nulo, apesar da enorme adesão (AFP/Philippe Lopez)
Da Redação
Publicado em 1 de julho de 2014 às 19h57.
Hong Kong - Centenas de milhares de manifestantes se reuniram nesta terça-feira para participar de um protesto pela democracia em Hong Kong, que, segundo os organizadores, pode ser o maior desde a restituição desta ex-colônia britânica à China, em 1997.
Mais de 800.000 pessoas participaram da manifestação, "desafiando a chuva e o vento gelado", afirmou à AFP Johnson Yeung, um dos organizadores, que previram uma participação sem precedentes neste ano, devido à crescente resistência dos 7,2 milhões habitantes deste território do sul da China às autoridades de Pequim.
O Parque Victoria de Hong Kong, ponto de saída da passeata que terminou no distrito comercial cercado de arranha-céus, era um mar de guarda-chuvas e cartazes que exibiam slogans como "queremos uma verdadeira democracia" e "resistimos unidos contra a China".
Vários manifestantes entoavam a versão cantonesa de "Você ouve as pessoas cantarem?", uma canção do musical "Os Miseráveis", inspirado na obra de Victor Hugo.
A mobilização ocorre pouco depois de um referendo oficioso sobre a instauração do sufrágio universal direto, do qual participaram quase 800.000 eleitores, quando os organizadores destas eleições esperavam apenas 300.000.
Pequim manifestou seu descontentamento, classificando o ato de ilegal e nulo, apesar da enorme adesão.
Todos os anos no dia 1º de julho, aniversário da devolução de Hong Kong à China, milhares de habitantes saem às ruas para manifestar seu apego aos valores democráticos.
A antiga colônia britânica foi devolvida a Pequim no dia 1º de julho de 1997. Desde então tem o status de região administrativa especial e goza, a princípio, de uma ampla autonomia em virtude do modelo "um país, dois sistemas".
Isso dá aos cidadãos liberdades que não existem no continente, incluindo a liberdade de expressão e o direito de manifestação.
No entanto, nos últimos anos, tem aumentado o medo de perder essas liberdades.
Nos últimos meses, foram registradas várias agressões a jornalistas, e os meios de comunicação têm relatado ataques cibernéticos em massa.
A preocupação aumentou em junho, quando Pequim emitiu um "livro branco" sobre o futuro de Hong Kong, que foi interpretado como uma advertência para que alguns limites não sejam superados.
"Acredito que mais pessoas vão sair às ruas" para se manifestar, declarou Johnson Yeung à AFP.
Na passeata de 2003, cerca de 500.000 pessoas participaram da mobilização contra uma proposta de lei de segurança nacional, forçando o governo a arquivá-la.
"Temos que evitar fazer qualquer coisa que possa prejudicar a estabilidade e prosperidade de Hong Kong", afirmou o chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-yin, em um discurso recente.
No referendo não-oficial, que durou dez dias e terminou no domingo, os eleitores deviam optar entre três diferentes métodos para escolher o próximo líder de Hong Kong em 2017. Todas as alternativas incluíam alguma influência da população na escolha dos candidatos.
Na segunda-feira, Pequim condenou o voto e acusou seus organizadores de violar a lei.
A China prometeu que os habitantes de Hong Kong poderão escolher o executivo local em 2017, embora tenha deixado claro que vai manter o controle sobre as candidaturas, uma condição que ativistas pró-democracia consideram inaceitável.