Exemplar da autobiografia da ativista paquistanesa Malala Yousafzai: livro detalha terror que a menina sentiu quando dois homens subiram em um ônibus e um deles disparou contra ela (Aamir Qureshi/AFP)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2013 às 13h19.
Londres - A paquistanesa Malala Yousafzai recria em sua autobiografia, lançada nesta terça-feira, o momento em que um taleban atirou em sua cabeça por defender a educação de meninas.
Coescrito pela jornalista britânica Christina Lamb, "I Am Malala: The Girl Who Stood Up for Education and was Shot by the Taleban" detalha o terror que a menina, agora com 16 anos, sentiu quando dois homens subiram em um ônibus no dia 9 de outubro de 2012 e um deles disparou contra ela.
"Meus amigos dizem que disparou três tiros, um depois do outro", escreveu Malala, que aparece como uma das favoritas para receber o Prêmio Nobel da Paz na sexta-feira.
"Quando chegamos ao hospital, meu cabelo longo e o colo de Moniba (uma companheira de classe) estavam cheios de sangue".
O livro descreve o brutal domínio dos talebans no vale do Swat paquistanês, no noroeste do país, em meados dos anos 2000; sua vontade de entrar em algum dia na política e inclusive o breve flerte de seu pai com o fundamentalismo islâmico quando era jovem.
Malala vive agora em Birmingham, a segunda cidade da Inglaterra, para onde foi levada para ser tratada, e no livro narra a saudade de seu país e suas dificuldades para se integrar à vida inglesa.
Além disso, confessa ser fã do jovem cantor canadense Justin Bieber e da série literária e cinematográfica de vampiros "Crepúsculo".
Malala se converteu em uma figura pública ao defender o direito das meninas à educação depois que os talebans tomaram o controle do Swat em 2007, proibindo-as de ir à escola e chegando a bombardear colégios.
Na obra descreve como recebeu ameaças de morte antes dos atentados. "Durante a noite esperava que todos fossem dormir", escreve. "Então conferia cada porta e janela".
"Não sei por que, mas ouvir que era um alvo não me preocupava. A mim parecia que todos sabem que vão morrer um dia".
"Então eu deveria fazer o que quisesse", ressaltou.
Malala narra os castigos públicos dos talebans, sua proibição da televisão, da dança e da música, e a decisão de sua família de fugir do vale com quase um milhão de pessoas em 2009, em pleno combate entre os islamitas e o exército paquistanês.
Depois, lembra a batalha travada pelos cirurgiões para salvar sua vida e o medo que sentiu ao acordar em um hospital a milhares de quilômetros de sua casa.
A menina elogia seu pai, Ziauddin Yousafzai, por colocar em funcionamento sua própria escola e por arriscar sua vida criticando os talebans, e rejeita categoricamente as críticas de que seria "como um pai tenista tentando criar uma campeã de tênis", ou que a estaria usando como uma porta-voz, "como se eu não tivesse a minha própria mente", declarou.
Malala explica que seu pai considerou se somar à jihad contra os soviéticos que invadiram o Afeganistão em 1979 e é consciente de que ela, assim como seu pai, são muito criticados em seu país por serem considerados instrumentos do Ocidente.
Malala narra sua surpresa ao ver homens e mulheres juntos em cafés e lojas de Birmingham. Ela tem dificuldade para fazer amigos e fala com frequência com suas amigas do Swat usando Skype.
Cita como inspiração Benazir Bhutto, a ex-primeira-ministra paquistanesa assassinada, e afirma que sua determinação em voltar algum dia ao seu país e entrar para a vida política.
"Eu me salvei por uma razão: para usar minha vida ajudando as pessoas".