Ghouta: ataques na região já deixaram mais de 80 mil deslocados (Bassam Khabieh/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de março de 2018 às 14h34.
Última atualização em 23 de março de 2018 às 14h36.
O governo sírio deu um novo passo, nesta sexta-feira (23), para a reconquista do último reduto rebelde na entrada de Damasco, ao fechar (com ajuda da Rússia) um novo acordo de retirada de combatentes em Ghouta Oriental.
Os grupos armados no controle de dois dos três bolsões rebeldes que resistem em Ghouta aceitaram partir para o norte do país com suas famílias, deixando para trás os ataques aéreos que se intensificaram sobre a região nos últimos dias - de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
À noite, 37 civis morreram de "queimaduras e sufocamento" em um abrigo na localidade de Arbin, apontou o OSDH, que denuncia "bombas incendiárias" largadas por aviões russos.
Mais de 1.600 civis teriam morrido até o momento nesses ataques iniciados em 18 de fevereiro, e nos quais munições incendiárias teriam sido utilizadas, segundo ONGs ouvidas pela AFP.
Moscou garante que sua Força Aérea não participa da ofensiva em Ghouta Oriental. Imagens tiradas pela AFP evocam, porém, a suspeita do uso de fósforo branco, cuja utilização contra alvos militares no meio dos civis é proibida pelo Direito Humanitário Internacional.
Nesta sexta, o Exército russo reforçou as declarações de Moscou e negou ter atacado Ghouta Oriental com bombas incendiárias, como acusou o OSDH.
"A Aviação russa não fez ataques sobre bairros residenciais de Ghouta Oriental e não utiliza, ao contrário da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, munições incendiárias", garantiu o Ministério da Defesa, citado por agências de notícia russas.
O Ministério classificou essas informações sobre os bombardeios de "mentira descarada" procedente de "vigaristas".
O bolsão sul de Ghouta, onde aconteceu o ataque, já havia sido atingido por bombardeios que mataram pelo menos 38 civis - sobretudo, em Zamalka.
Acuado, o grupo rebelde Faylaq al-Rahman, que controla essa área, firmou na sexta-feira um acordo de retirada promovido pela Rússia, com a saída de quase sete mil pessoas.
A decisão foi confirmada pelo porta-voz do Faylaq al-Rahman, Waël Alwane.
Os combatentes, que devem abandonar uma parte de seu armamento e de seus prisioneiros, serão levados para o norte da Síria, segundo o OSDH. O primeiro comboio parte no sábado pela manhã, revela a televisão pública síria.
"A situação humanitária é catastrófica. Não há mais comida, material médico e a promiscuidade nos abrigos provoca doenças", declarou à AFP o porta-voz Waël Alwane, falando da Turquia.
Depois de lançar a ofensiva há mais de um mês, o governo sírio agora está bem perto de recuperar Ghouta, controlando mais de 80% desse território sitiado desde 2013 por Damasco.
Na quinta-feira, no âmbito de um primeiro acordo, mais de 400 combatentes e centenas de seus familiares evacuaram o bolsão rebelde de Harasta. Eles chegaram na sexta-feira à província de Idleb (noroeste), que está fora do controle do governo, segundo o OSDH e um correspondente da AFP.
É para essa região, amplamente dominada pelos extremistas, que o governo sírio envia rebeldes e civis quando eles deixam os bastiões insurgentes.
"Em Harasta, não conseguíamos mais viver na superfície por causa dos bombardeios... Eles queimaram a terra completamente. As crianças ficaram em um abrigo subterrâneo por quatro meses", contou à AFP Abu Mohammed, um civil que está entre os evacuados.
Um outro comboio deve deixar Harasta nesta sexta rumo a Idleb. No total, cerca de 1.500 combatentes do grupo salafista Ahrar al-Sham e 6.000 membros de suas famílias devem partir dessa localidade, de acordo com a agência de notícias Sana.
O grupo rebelde foi forçado a aceitar a retirada sem negociação.
"Tudo que eles conseguiram foi poder partir sem serem mortos", disse o especialista em Síria Nawar Oliver.
A ofensiva em Ghouta já deixou mais de 80 mil deslocados.