Mosul: as forças federais e os extremistas se posicionavam em ambos os lados do Tigre, que divide a cidade onde o EI autoproclamou seu "califado" em junho de 2014 (Khalid al Mousily/Reuters)
AFP
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 17h03.
Cerca de 750.000 civis que vivem no oeste de Mosul enfrentam um "risco extremo" ante a próxima ofensiva das forças iraquianas para reconquistar esta parte da segunda cidade do Iraque, nas mãos do grupo radical Estado Islâmico (EI).
O EI continua controlando a parte ocidental da cidade do norte do país, que era habitada por dois milhões de pessoas antes da chegada, em 2014, do grupo extremista, que a transformou em seu reduto no Iraque.
Após uma centena de dias de ampla ofensiva do governo iraquiano para recuperar Mosul - já reconquistou Mosul oriental - as forças federais e os extremistas se posicionavam em ambos os lados do Tigre, que divide a cidade onde o EI autoproclamou seu "califado" em junho de 2014.
"Esperamos que seja feito tudo para proteger as milhares de pessoas da margem oeste do rio Tigre", declarou Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iraque, em um comunicado.
"Sabemos que enfrentam um risco extremo e tememos por sua vida", acrescentou.
Grande disse, no entanto, que a ONU se sente aliviada pelo fato de vários habitantes do leste de Mosul, parte da cidade que foi quase totalmente reconquistada pelas forças iraquianas, terem conseguido permanecer em suas casas.
As forças iraquianas retomaram no domingo o controle dos dois últimos bolsões de resistência do EI na parte oriental de Mosul.
Dezenas de milhares de combatentes das forças iraquianas e curdas, apoiadas pela aviação da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, participam da batalha de Mosul, e estão mobilizados ao norte, sul e oeste desta cidade.
Para se preparar para um possível ataque das forças iraquianas através do rio, o EI expulsou habitantes e comerciantes da margem oeste do Tigre.
"O grupo (EI) nos obrigou a abandonar nossas casas sem nos deixar pegar nossas coisas", indicou à AFP um morador do bairro de Al-Maidan. "Instalaram posições para franco-atiradores nos telhados e janelas", acrescentou.
"Forçaram-nos a deixar a zona, já que se converterá em um campo de batalha, e fomos embora com nossos familiares para outra parte da cidade", acrescentou este habitante, que quis manter o anonimato por razões de segurança.
Todas as pontes de Mosul foram destruídas pelo EI ou por bombardeios da coalizão internacional anti-extremista liderada pelos Estados Unidos.
Os responsáveis iraquianos devem decidir a estratégia a ser adotada para reconquistar esta parte de Mosul, um pouco menor que o leste, e onde os extremistas estão mais implantados.
As forças iraquianas podem tentar criar pontes flutuantes no rio Tigre para poder realizar seu ataque desde o leste.
"Desde o início da luta contra o EI, as forças iraquianas aprenderam a construir pontes, inclusive baixo o fogo inimigo", assegurou o coronel John Dorrian, porta-voz da coalizão.
Além disso, Dorrian indicou em um comunicado ter destruído mais de 100 barcos nos últimos dias para impedir que os extremistas conduzam operações no Tigre.
Desde o lançamento, no dia 17 de outubro, desta grande ofensiva, 180.000 pessoas foram deslocadas, enquanto 550.000 habitantes permaneceram na parte leste de Mosul.
Por sua vez, milhares de crianças retomaram o caminho da escola no leste de Mosul, após semanas de combates que precederam sua reconquista pelas tropas iraquianas e seus aliados, anunciou nesta terça-feira a Unicef.
"Como os combates diminuíram de intensidade em Mosul oriental, 30 escolas voltaram a abrir suas portas neste domingo com a ajuda da Unicef, o que permitiu que mais de 16.000 retomassem suas aulas", disse o fundo da ONU para a infância.
"Algumas destas escolas estavam fechadas há dois anos", quando a cidade foi conquistada pelo EI, e as "meninas estavam privadas de educação", acrescenta a organização.