Mundo

Mais de 30 mil sírios estabelecidos na Turquia retornam ao país após queda de Assad

Território turco, que divide uma fronteira de mais de 900 km com a Síria, abriga o maior número de refugiados do país do mundo

Moradores de Sueida, um feudo da minoria drusa no sul da Síria, comemoram a queda de Bashar al Assad em 13 de dezembro de 2024 (AFP)

Moradores de Sueida, um feudo da minoria drusa no sul da Síria, comemoram a queda de Bashar al Assad em 13 de dezembro de 2024 (AFP)

Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 17h20.

Última atualização em 27 de dezembro de 2024 às 18h52.

Mais de 30 mil refugiados sírios cruzaram a fronteira turca para retornar ao seu país nos últimos 17 dias, disse o ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, nesta sexta-feira. O fluxo acontece após grupos rebeldes, liderados pelo Hayet Tahrir al-Sham (HTS), assumirem o controle da Síria em 8 de dezembro depois de uma ofensiva-relâmpago que pôs fim a mais de 50 anos de ditadura do clã Assad.

— O número de pessoas que voltaram em 17 dias é de 30.663. Este fluxo não vai parar — disse o ministro ao canal privado de televisão turco TGRT, acrescentando que "30%" delas nasceram na Turquia.

— O nosso consulado geral em Aleppo abrirá dentro de alguns dias. (…) Criaremos um escritório de gestão de migração. Muitas crianças nasceram aqui, houve casamentos, divórcios, mortes. Estamos tomando medidas para atender às suas necessidades..

Compartilhando uma fronteira de mais de 900 quilômetros, a Turquia se tornou o principal destino de imigrantes sírios do mundo ao longo dos últimos 13 anos de guerra civil no país.

Desde 2011, quase 3 milhões de pessoas fugiram da repressão promovida pelo então presidente, Bashar al-Assad, contra os protestos antigoverno iniciados na Primavera Árabe. Entre eles, mais de meio milhão residem em Istambul, a maior cidade da Turquia.

As autoridades esperam que o deslocamento em massa de grandes contingentes de refugiados mitigue o forte sentimento anti-sírio entre a população turca.

Para facilitar a reinstalação de refugiados no seu país de origem, a Turquia permitirá que um membro de cada família retorne da Síria no máximo três vezes, até 1º de julho de 2025.

Retorno em larga escala acende alerta

A Turquia não é o único país que anunciou o deslocamento de refugiados sírios. Na quinta-feira, autoridades jordanianas informaram que cerca de 18 mil pessoas cruzaram a fronteira com a Jordânia para retornar à Síria. O país tem a quarta maior população síria do mundo, atrás da Turquia, Líbano e Alemanha, respectivamente.

Na Alemanha, onde vive uma comunidade de aproximadamente 1 milhão de refugiados, a maior diáspora síria dos países da UE, surgiram preocupações sobre o possível regresso dos sírios ao seu país, pois isso poderia agravar a escassez de mão de obra em certos setores da economia do país, especialmente nos hospitais. Por outro lado, o país anunciou a suspensão dos pedidos de asilo para sírios após a queda do regime.

De acordo com a ONU, mais de 100 mil sírios estabelecidos no exterior voltaram para o país em apenas uma semana após a saída de Assad. A expectativa é de que, até junho de 2025, 1 milhão de refugiados regressem.

A crise migratória na Síria é considerada a mais grave do mundo, com 6,2 milhões de sírios refugiados no exterior e 7,4 milhões de deslocados internos.

Embora o número de retornantes ainda seja tímido em comparação com o volume de saídas na última década, organismos internacionais têm alertado sobre os riscos de um retorno em larga escala, considerando a dimensão da tragédia que vive o país hoje — cerca de 90% da população depende de ajuda humanitária e grande parte da sua infraestrutura foi destruída.

— As pessoas têm o direito de voltar para casa, mas não estamos aconselhando um retorno em grande escala. O sistema não pode suportar esse fluxo — alertou a diretora-geral da OIM, Amy Pope, em entrevista à AFP na semana passada, pontuando que “enviar pessoas de volta só vai desestabilizar ainda mais o país”.

Acompanhe tudo sobre:Síria

Mais de Mundo

'Fomos atingidos três vezes', diz comissário que sobreviveu à queda de avião no Cazaquistão

Montenegro extraditará aos EUA magnata sul-coreano das criptomoedas

Policial argentino detido na Venezuela é processado por 'terrorismo'

Israel realiza operação perto de importante hospital de Gaza