Pessoas marcham na rua no aniversário de protestos estudantis de Atenas de 1973, dia 17/11/2019 (Costas Baltas/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de novembro de 2019 às 17h14.
Mais de trinta mil pessoas se manifestaram na Grécia neste domingo (17) em comemoração ao levante estudantil de 1973 contra a junta militar no poder na época, em meio a um clima de tensão e sob forte presença policial.
A manifestação, uma das mais importantes e pacíficas em anos, foi a primeira desde a eleição do novo governo conservador de Kyriakos Mitsotakis, eleito em julho com o compromisso de fortalecer a lei e a ordem.
Um cartaz levado por manifestantes dizia "Abaixo o governo da direita", enquanto alguns repetiam lemas como "Os levantes não acabam em museus". Algumas bandeiras americanas e da União Europeia foram queimadas.
Também havia cartazes contra as reformas trabalhistas e educacionais e palavras de ordem foram proferidas contra os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.
Só em Atenas marcharam 20 mil pessoas em memória às dezenas de mortos durante a repressão militar ao levante estudantil na Escola Politécnica de Atenas, em 17 de novembro de 1973.
Outras dez mil pessoas marcharam em Tessalônica, a segunda cidade do país, onde manifestantes atiraram coquetéis molotov na direção de automóveis, informaram autoridades locais.
Cerca de cinco mil policiais, apoiados por drones, helicópteros e jatos d'água foram mobilizados na capital para esta marcha anual.
Vários jovens foram detidos no distrito boêmio de Exarchia, onde aparentemente pretendiam fazer uma emboscada para policiais da tropa de choque.
Nos últimos anos, os manifestantes - dez mil em 2018 - aproveitaram estas marchas para denunciar o imperialismo americano e as medidas de austeridade impostas à Grécia por seus credores internacionais (FMI e UE), durante a crise da dívida.
Este ano, o clima é particularmente tenso depois da chegada ao poder do governo de direita, especialmente agora, um mês depois da posse do premiê Kyriakos Mitsotakis, que cumpriu a promessa de campanha de abolir a lei de "asilo universitário".
Herdada do levante estudantil de 17 de novembro de 1973, esta lei que proibia a entrada da Polícia em universidades, era sinônimo do retorno da Grécia à democracia.
A abolição da lei suscitou várias manifestações contrárias. Mas o governo a considerava necessária, pois as universidades tinham se tornado "santuário para o tráfico de drogas" e os "grupos anarquistas".
O Parlamento grego aprovou na quinta-feira o endurecimento das penas de prisão para a violência urbana.
O lançamento de coquetéis molotov - prática muito comum em manifestações na Grécia - pode resultar em penas de dez anos de prisão, o dobro de antes.
Esta reforma do código penal tem sido muito criticada pela esquerda e por organizações estudantis, que denunciam a violenta repressão policial dos últimos dias nas universidades.
Ma segunda-feira, 200 estudantes que se manifestavam na Universidade de Economia de Atenas foram cercados por policiais da tropa de choque, que recorreram a gases lacrimogênios e detiveram duas pessoas.
Desde julho, a Polícia também interveio em várias ocasiões no bairro Exarchia para evacuar prédios ocupados por imigrantes e militantes de esquerda.