Iraque: entre junho de 2014 e dezembro de 2017, o Estado Islâmico ocupou grandes áreas no país (Ahmed Jadallah/Reuters)
EFE
Publicado em 6 de novembro de 2018 às 12h44.
Última atualização em 6 de novembro de 2018 às 13h02.
Bagdá - Pelo menos 202 valas comuns com milhares de corpos foram achadas até o momento em zonas que eram controladas entre 2014 e 2017 pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no Iraque, informou nesta terça-feira a ONU.
"Embora seja difícil determinar o número total de pessoas nestas fossas - o menor local no oeste de Mossul continha oito corpos -, acredita-se que a maior esteja em Jasfa, ao sul de Mossul, que pode conter milhares de restos de pessoas mortas", disse em comunicado a missão da ONU no Iraque (UNAMI) e o Escritório da ONU para os Direitos Humanos em um relatório divulgado hoje.
Foi documentada a existência de 202 valas comuns nas províncias de Ninawa, Kirkuk, Saladino e Al Anbar, no norte e no oeste do país, "embora possa haver muito mais", disse a ONU.
"As provas reunidas nestes lugares serão fundamentais para garantir as investigações críveis, processos e penas de acordo com as normas internacionais", diz o relatório.
Para isso serão fundamentais a "preservação, escavação e exumação das valas comuns, assim como a identificação dos restos das vítimas e sua entrega às famílias", aponta o documento.
"O trauma das famílias" pelos crimes do EI "perduram", já que "estes túmulos contêm os restos daqueles assassinados sem piedade por não seguir a ideologia e normas ditadas pelo EI, incluídas as minorias étnicas e religiosas", afirmou a Alta Comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em comunicado.
"As valas comuns documentadas no nosso relatório são um testemunho da perda humana, do sofrimento substancial e da surpreendente crueldade" do grupo jihadista, ressaltou o representante especial da ONU para o Iraque, Khan Kubis.
Entre junho de 2014 e dezembro de 2017, o Estado Islâmico ocupou grandes áreas no Iraque e realizou "uma campanha de violência generalizada e de violações sistemáticas dos direitos humanos, atos que podem equivaler a crimes de guerra, crimes contra a Humanidade e um possível genocídio", manifestou a ONU.
O líder do EI, Abu Bakr al Baghdadi, proclamou o "califado" no final de junho de 2014 na cidade de Mossul, considerada para os extremistas como a "capital" do grupo no Iraque, que foi libertada pelas forças iraquianas, com o apoio da coalizão internacional liderada pelos EUA, em julho de 2017, após quase nove meses de uma cruel ofensiva que deixou a cidade totalmente em ruínas.
Durante esses três anos, os terroristas perseguiram e mataram civis pertencentes a minorias étnicas e religiosas no Iraque, como a comunidade yazidi, contra a qual o EI cometeu um genocídio, segundo a ONU.
Em dezembro de 2017, o então primeiro-ministro iraquiano, Haidar al Abadi, anunciou a "derrota" do grupo jihadista no território iraquiano, embora continuem os ataques dos terroristas, que se encontram postados em zonas desérticas situadas no leste da Síria, fronteiriças ao Iraque, e também estão presentes no país, inclusive na capital Bagdá.