Iraquianos procuram refúgio numa área residencial: trata-se do maior deslocamento no Iraque desde 2006, declarou o porta-voz da ONU (Azhar Shallal/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2014 às 12h55.
Bagdá - Mais de 140.000 pessoas fugiram dos combates entre as forças de segurança e os insurgentes na província de Al-Anbar (oeste de Bagdá), no maior deslocamento populacional em cinco anos no país, indicou a ONU nesta sexta-feira.
Os confrontos fizeram mais três mortes nas últimas horas nesta província do oeste iraquiano, onde soldados e policiais realizam desde o final de dezembro operações para tentar retomar o controle de várias regiões ocupadas pelos insurgentes.
"Desde o início dos combates, no final do ano passado, mais de 140.000 pessoas deixaram suas casas segundo dados do ministério iraquiano dos Imigrantes e Deslocados", indicou Peter Kessler, porta-voz da agência da ONU para os refugiados (Acnur).
"Trata-se do maior deslocamento no Iraque desde a onda de violência interreligiosa de 2006-2008", declarou, acrescentando que este balanço foi fornecido pelo governo iraquiano, e que 65.000 pessoas teriam fugido em apenas uma semana.
Centenas de milhares de iraquianos abandonaram suas casas durante a pior onda de violência sectária entre 2006 e 2007 no Iraque, no momento em que as tropas americanas continuavam mobilizadas no país desde sua invasão em 2003.
Desde então, grande parte dos deslocados retornaram para suas regiões de origem.
Segundo Kessler, "muitos civis não podem deixar estas áreas de conflito, onde a comida e o combustível começam a falar".
Milhares de deslocados fugiram para Bagdá ou outras províncias próximas, mas alguns chegaram até as regiões curdas do norte do país, segundo a agência.
A Acnur lamentou a situação desses iraquianos que não têm "nem dinheiro nem comida", precisam de vestimentas e cujas crianças "não vão à escola".
Bairros inteiros de Ramadi, capital da província de Al-Anbar, assim como a totalidade da cidade vizinha de Fallujah, 60 km a oeste de Bagdá, foram conquistados por combatentes anti-governo há algumas semanas.
Desde então, o exército realiza operações para tentar retomar o controle desses bairros das mãos dos insurgentes, entre os quais combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), um grupo ligado à Al-Qaeda.
Sexta-feira, o bombardeio dos bairros de Malaab e Abul Faraj, em Ramadi, sob controle dos insurgentes, matou duas pessoas e feriu 30 outras, de acordo com uma fonte médica.
Em Fallujah, uma pessoa morreu e sete outras ficaram feridas nos intensos bombardeios quinta-feira à noite.
Os habitantes desta cidade acusam o exército de estar por trás desses bombardeios, mas as autoridades locais afirmam que os militares não estão envolvidos.
Quarta-feira, o premiê iraquiano, Nuri al-Maliki, um xiita, pediu aos moradores da província para "tomar uma posição" contra os insurgentes, insistindo que era "hora de acabar com este problema e acabar com a presença de gangues na cidade".
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que recebeu na quarta-feira o chefe do Parlamento iraquiano, Osama al-Nujaifi, exortou por sua vez Bagdá "a continuar o diálogo para que as reivindicações legítimas de todas as comunidades possam ser tratadas através do processo político".
Diplomatas e especialistas temem que a violência não pare de aumentar enquanto a comunidade sunita continue a ser marginalizada.
Desde o início de janeiro, mais de 700 pessoas morreram neste conflito.
*Atualizada às 13h55 do dia 24/01/2014