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Mais de 100 universidades condenam 'interferência' de Trump após Harvard processar governo americano

Republicano lançou uma cruzada contra instituições de ensino de elite, que acusa de serem redutos de agendas progressistas

Agência o Globo
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Publicado em 22 de abril de 2025 às 15h21.

Última atualização em 22 de abril de 2025 às 15h29.

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Mais de 100 universidades americanas assinaram uma carta conjunta nesta terça-feira, 22, acusando o governo do presidente Donald Trump de interferir politicamente no sistema educacional dos Estados Unidos.

O movimento coordenado acontece um dia após a Universidade Harvard abrir um processo judicial contra o governo federal, sob argumento de que a administração republicana lançou um amplo ataque para obter controle da tomada de decisões acadêmicas da instituição.

"Falamos em uma só voz contra a intervenção governamental sem precedentes e a interferência política que colocam em risco o ensino superior americano", afirma o texto, subscrito por instituições de elite como Princeton e Brown. "Estamos abertos a reformas construtivas e não nos opomos à supervisão governamental legítima. No entanto, devemos nos opor à intrusão indevida do governo. Devemos rejeitar o uso coercitivo de recursos públicos para a pesquisa."

As universidades americanas estão em uma guerra aberta com Trump, que desde que retornou à Casa Branca vem coordenando uma ofensiva contra qualquer vestígio de pauta progressista. No caso das instituições de ensino, sob alegações que variam desde a fragilidade no combate ao antissemitismo em seus campi à inclusão de políticas raciais entre critérios de seleção, o governo ameaçou abrir dezenas de investigações, e decidiu reter ou revisar bilhões em financiamento federal de várias delas, incluindo Colúmbia, Cornell, Northwestern e Princeton.

Instituições importantes, como a prestigiada Universidade de Colúmbia, cederam a exigências do governo. No caso da universidade nova-iorquina, isso incluiu se comprometer com a contratação de uma força interna de segurança formada por 36 "agentes especiais", proibição do uso de máscaras, adoção do conceito formal de antissemitismo indicado pela Casa Branca e até mesmo a nomeação de um novo vice-reitor para supervisionar o Departamento de Estudos do Oriente Médio, Ásia e África — medidas comparáveis a uma intervenção federal.

Harvard, por outro lado, optou por usar de sua posição como instituição mais rica dos EUA para enfrentar o governo Trump. Na segunda-feira, a universidade processou a administração federal, reagindo às ameaças de cortar bilhões de dólares do financiamento de suas pesquisas.

O presidente da Universidade Harvard, Alan M. Garber, acusou o governo de tentar exercer um "controle impróprio e sem precedentes" sobre a instituição, afirmando que as consequências das ações seriam "graves e duradouras".

"A universidade não abrirá mão de sua independência nem abrirá mão de seus direitos constitucionais", escreveu Garber em uma mensagem à comunidade este mês, afirmando que o governo era legalmente obrigado a dialogar com a universidade sobre as formas como ela estava combatendo o antissemitismo. Em vez disso, afirmou, o governo buscou controlar "quem contratamos e o que ensinam".

O processo de 51 páginas, apresentado em um tribunal federal em Massachusetts, acusa o governo de violar a garantia de liberdade de expressão da Primeira Emenda e a Lei de Procedimentos Administrativos. O pedido é de que o juiz impeça o congelamento de qualquer financiamento federal à instituição e declare as ações do governo inconstitucionais.

"O governo não identificou — e não pode identificar — nenhuma conexão racional entre as preocupações com antissemitismo e as pesquisas médicas, científicas, tecnológicas e outras que congelou e que visam salvar vidas americanas, promover o sucesso americano, preservar a segurança americana e manter a posição dos Estados Unidos como líder global em inovação", diz um trecho da ação.

Com uma verba disponível de US$ 64 bilhões ao final de 2024, valor superior ao orçamento do estado em que sua sede está localizada, Harvard tem uma envergadura institucional e financeira que pode ter sido o fator determinante para possibilitar materialmente o atrito com o governo Trump. Os recursos podem ser suficientes para encampar a batalha judicial, mas os impactos dos cortes prometidos pelo governo, caso confirmados, poderiam ter efeitos duradouros.

As represálias prometidas por Trump, como o cancelamento de repasses bilionários, revogação do status de isenção de impostos (aumentando o custo dos doadores em fazerem repasses à instituição) e impedimento de receber alunos estrangeiros, por exemplo, afetariam de forma desigual os diferentes departamentos da universidade, uma vez que as regras para uso de recurso são em grande parte restritas.

Como muitas outras universidades americanas, Harvard é em algum grau dependente do governo federal para realizar alguns de seus trabalhos de pesquisas mais importantes, desenvolvidos por médicos, engenheiros e cientistas. A maior parte do dinheiro federal para pesquisa que flui para Harvard vem do Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

Harvard, que diz ter financiado US$ 489 milhões em pesquisa em 2023, alertou que muitos projetos "serão interrompidos no meio do caminho" se o financiamento federal evaporar. A universidade impôs um congelamento de contratações no mês passado e pode acabar se voltando para demissões, fechamento de laboratórios e outras medidas. A própria universidade admitiu que muitos projetos seriam "interrompidos no meio do caminho" se o financiamento federal evaporasse.

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