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Mafiosos da yakuza perdem cartões em ataque de reguladores

Sindicato do crime organizado no Japão está sofrendo com os mesmos métodos utilizados para prender Al Capone, atrás de seu dinheiro


	Membros da Yakuza participando de uma festa local, no Japão: ataque do órgão regulador adiciona pressão às ordens de exclusão dos yakuza decretadas em todo o país em 2011
 (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Membros da Yakuza participando de uma festa local, no Japão: ataque do órgão regulador adiciona pressão às ordens de exclusão dos yakuza decretadas em todo o país em 2011 (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2013 às 18h31.

Tóquio - A yakuza, o sindicato do crime organizado no Japão que conseguiu bilhões por meio de atividades que vão da extorsão ao tráfico humano, está tendo suas fileiras dizimadas pelas autoridades, que agora empregam métodos semelhantes aos utilizados para prender Al Capone: indo atrás de seu dinheiro.

A Agência de Serviços Financeiros do Japão realizou no mês passado sua mais recente operação, exigindo que a Mizuho Financial Group Inc. melhore sua conformidade e ordenando que seus altos executivos relatem até 28 de outubro o que sabiam e quando souberam a respeito de uma afiliada de crédito ao consumidor que foi descoberta emprestando para grupos criminosos.

O ataque do órgão regulador adiciona pressão às ordens de exclusão dos yakuza decretadas em todo o país em 2011, tornando ilegal fazer negócio com membros de gangues, assim como uma ordem executiva dos EUA neste ano exigiu que as instituições financeiras congelem os ativos dos yakuza. O Departamento do Tesouro dos EUA congelou, até agora, cerca de US$ 55 mil em reservas da yakuza, incluindo dois cartões American Express emitidos no Japão, segundo documentos obtidos pela Bloomberg News sob a Lei de Liberdade de Informação.

“A pressão sobre os yakuza definitivamente foi intensificada”, disse Hideaki Aihara, gerente-geral do Centro Nacional para Eliminação dos Yakuza e um ex-superintendente do Departamento de Polícia Metropolitana de Tóquio. “Não há dúvida de que eles estão tendo problemas para realizar negócios”.

O impacto sobre o contingente da yakuza está aparecendo: o número de membros mergulhou 11 por cento em 2011, para 70.300, e caiu outro 10 por cento no ano passado, para 63.200, após declínios anuais de 3 por cento ou menos desde 2004, quando a lista chegou à maior alta em uma década, de 87 mil, segundo dados da Agência de Polícia Nacional do Japão.


Tempo de prisão

Embora as gangues em si não sejam ilegais no Japão, violar as ordens de exclusão -- que também exigem que os clientes que busquem financiamentos e outros serviços atestem que não estão associados com grupos criminosos -- pode resultar em multa de 500 mil ienes (US$ 5.100) ou um ano de prisão. A polícia investigou 164 possíveis transgressores desde que as leis começaram a valer, prendendo nove pessoas que enfrentarão acusações potenciais e emitindo alertas para os restantes, mostram os dados.

A polícia prendeu também mais de 24 mil membros da yakuza no ano passado, incluindo 23 chefes da maior organização, a Yamaguchi-gumi, por crimes como extorsão, violações ligadas a drogas, apostas, roubos e fraudes, segundo o site da agência. A yakuza diversificou seus interesses nos negócios nos últimos anos para finanças, construção e descarte de resíduos, segundo um relatório policial.

“Os bancos estão investigando quem recebe empréstimo para checar se eles têm alguma relação com a yakuza e evitar penalidades da ASF”, disse Aihara, referindo-se à reguladora bancária. “Isso é bastante significativo”.

Maior vigilância

Alertada pelo envolvimento de yakuzas em negociações de ações, a Associação de Operadores de Ações do Japão, em 2010, começou a exigir que os membros tomem medidas para eliminar as gangues do setor.

O foco em finanças e outros negócios legítimos ajudou a motivar uma maior vigilância dos EUA, disse Adam Szubin, diretor do Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro dos EUA. A agência, conhecida como OFAC, está liderando o esforço para congelar os ativos que reuniu, de US$ 55 mil até o momento.

“Isso é uma alfinetada em relação ao impacto que esperamos causar”, disse Szubin em entrevista por telefone, de Washington, em agosto.

‘Impacto massivo’

Qualquer empresa ou indivíduo descoberto fazendo negócios de forma contínua com a yakuza “perderá sua base de clientes, sua segurança, suas contas bancárias, sua reputação”, disse Szubin. “O mesmo é válido para indivíduos que estão tentando manter um pé no mundo legítimo e um pé no mundo ilícito. Expor e sujeitar estes indivíduos a sanções tem um impacto massivo”.


A Yamaguchi-gumi geraria “bilhões de dólares anualmente” em drogas e tráfico humano, extorsão, prostituição, fraude e lavagem de dinheiro, disse o Tesouro dos EUA quando colocou o grupo em uma lista negra em fevereiro de 2012. A yakuza também está “fortemente envolvida em crimes de colarinho branco, usando frequentemente empresas de fachada para esconder procedimentos ilícitos em setores legítimos, incluindo o de construção, o imobiliário e o financeiro”, segundo um comunicado do Tesouro de julho de 2011.

O Tesouro dos Estados Unidos e a polícia japonesa se recusaram a fornecer estimativas de ativos do Yakuza, quando perguntados.

Fechando contas

Logo que os yakuza foram adicionados à lista negra do Tesouro dos EUA, muitos membros de gangues que tinham contas em instituições financeiras afiliadas dos EUA as fecharam, disse Jake Adelstein, escritor e pesquisador especializado na yakuza que vive em Tóquio sob proteção policial, citando contatos com grupos criminosos.

“Eu não esperava que alguma coisa fosse descoberta”, disse Adelstein, que expressou surpresa com os resultados das ações do Tesouro dos EUA. “Eles tiveram um grande começo”.

O aperto das leis e a escalada de acusações dos EUA causaram problemas de recrutamento para La Cosa Nostra, o maior sindicato do crime nos EUA desde a Lei Seca até os anos 1990, fazendo com que algumas famílias criminosas desaparecessem e outras vissem seus números de membros caírem para até 10 por cento após 30 anos em relação aos anos 1970, segundo um relatório de 2000 do braço de pesquisas do Departamento de Justiça dos EUA.

Evasão fiscal

As autoridades japonesas ocasionalmente usaram acusações de evasão fiscal para atingir membros da yakuza desde os anos 1970, segundo o livro “Yakuza: Um levantamento explosivo do submundo japonês do crime”. Al Capone, o chefe do crime em Chicago, foi condenado em 1931 por evasão fiscal, após agentes do Escritório de Receita Interna dos EUA descobrirem que ele jamais teve uma conta bancária em seu próprio nome, segundo um memorando de 1931 emitido pelo rebatizado Serviço de Receita Interna em 2008.


A lista negra inclui as três principais gangues do Japão -- Yamaguchi-gumi, Sumiyoshi-kai e Inagawa-kai --, que respondem por 72 por cento dos membros da yakuza, e seus altos líderes, segundo o Tesouro dos EUA. A lista engloba também o cartel de drogas Los Zetas, do México, a gangue latino-americana MS-13, a máfia Camorra, da Itália, e o Círculo dos Irmãos, que opera no antigo bloco soviético e no Oriente Médio.

Congelamento japonês

Entre os apanhados pelo congelamento nos EUA estão Kiyoshi Takayama, 66, o segundo no comando da Yamaguchi-gumi, e Kazuo Uchibori, identificado pelo Tesouro dos EUA como vice-líder da terceira maior gangue yakuza, mostram os documentos obtidos pela Bloomberg News. Em março do ano passado, Takayama teve cancelado seu cartão AmEx, emitido pela filial do Japão da American Express International Inc., com sede em Nova York.

Em março deste ano, Takayama foi condenado por um tribunal de Kyoto por extorsão e sentenciado a seis anos de prisão, segundo uma porta-voz do tribunal que pediu para não ser identificada, citando a política da corte.

Uchibori, que tem 60 ou 61 anos de idade, também teve seu cartão AmEx cancelado e a American Express congelou US$ 42.575 associados a sua conta, incluindo o pagamento de uma conta de US$ 41.702, mostram os documentos.

Os gângsters são adeptos de movimentar fundos por canais alternativos para evitar instituições financeiras, disse Randal Wolverton, um contador forense em Kansas City, Missouri.

“Os caras maus estão à frente no jogo quando se fala em submundo”, disse Wolverton, que passou 27 anos no FBI e serviu como supervisor da seção de crimes financeiros, em entrevista por telefone. “Se está lidando com criminosos muito sofisticados”.

Adelstein, o escritor, disse que os esforços americanos e japoneses, no entanto, parecem estar causando impacto.

“Está se tornando inconveniente ser um yakuza”, disse ele.

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