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Máfia italiana pode ter assassinado futuro santo da Igreja Católica

Beatificação de Rosario Livatino é último passo para santificação de ex-juiz assassinado em 1990

Carro em que Rosario Livatino foi assassinado, em 1990 (STRINGER/ANSA/AFP/Getty Images)

Carro em que Rosario Livatino foi assassinado, em 1990 (STRINGER/ANSA/AFP/Getty Images)

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AFP

Publicado em 9 de maio de 2021 às 11h16.

Última atualização em 9 de maio de 2021 às 11h19.

O juiz Rosario Livatino tinha 38 anos quando foi assassinado por mafiosos na Sicília em 21 de setembro de 1990. Neste domingo (9), foi beatificado na catedral de Agrigento durante uma missa em homenagem a um "mártir" da justiça.

Um relicário contendo a camisa ensanguentada do juiz foi colocado na catedral no momento em que ele foi beatificado, enquanto no Vaticano o papa Francisco prestou homenagem a "um mártir da justiça e da fé".

"Ao servir o bem comum como um juiz exemplar que nunca sucumbiu à corrupção, ele procurou julgar, não condenar, mas redimir", disse o papa ao final de sua oração mariana Regina Caeli.

"Seu trabalho o colocou sob a proteção de Deus", acrescentou Francisco. "Por esta razão, ele se tornou uma testemunha do Evangelho até sua morte heroica".

O magistrado italiano, que recusou escolta armada, foi morto a tiros a poucos quilômetros de sua casa perto de Agrigento, na Sicília, quando se preparava para emitir medidas de prisão domiciliar contra membros de grandes famílias da máfia siciliana, a Cosa Nostra.

Quando a polícia chegou ao local onde jazia, com a cabeça explodida, encontraram sua agenda, com as iniciais "STD" na primeira página, como todos os seus arquivos.

Esta é a antiga invocação "Sub tutela Dei" (Sob a proteção de Deus) usada pelos magistrados na Idade Média antes de tomarem decisões oficiais.

Rosario Livatino ia à igreja todas as manhãs, antes de ir ao tribunal. Ele pedia perdão a Deus pelos riscos aos quais expunha seus pais. "Fazer justiça", escreveu ele, "é como orar e dedicar a vida a Deus".

Ele havia deixado sua noiva dois anos antes, com o consentimento dela. Um missionário da justiça, havia insinuado aos seus pais desolados, desejando não arrastar uma esposa e uma família a sua aventura.

Visitando seus pais em 1993, João Paulo II chamou Rosário Livatino de "mártir pela justiça e indiretamente pela fé".

"O que fiz para vocês, garotos?"

"O que fiz para vocês, garotos?", foram suas últimas palavras, olhando para seus dois jovens assassinos, segundo revelou um arrependido. Em seguida, Rosario Livatino recebeu balas na boca, num gesto simbólico de silenciamento.

Foi "o lamento de um homem justo que sabia que não merecia essa morte injusta", comentou o papa Francisco, no recente prefácio de um livro dedicado ao juiz.

Luigi Ciotti, padre famoso por sua luta contra as máfias, acredita que o juiz siciliano morreu "por sua fidelidade a uma profissão vivida como verdadeira vocação, serviço prestado e nunca exercício de poder".

"Foi um dos primeiros magistrados na Itália a implementar medidas de apreensão e confisco de bens dos mafiosos. Entendeu que isso levaria ao enfraquecimento dos clãs, à perda do controle e também do prestígio social", diz o prefácio de uma biografia publicada neste domingo.

Uma cooperativa de jovens ainda leva seu nome e cultiva terras confiscadas da máfia siciliana.

Desde a sua eleição, Francisco tem atacado os mafiosos, muitas vezes benfeitores de paróquias.

Em 2018, viajou a Palermo para homenagear o padre Giuseppe Puglisi, assassinado 25 anos antes e beatificado em 2013, por ter tentado arrancar dos tentáculos da Cosa Nostra os jovens de um bairro desfavorecido. "Não se pode acreditar em Deus e ser mafioso", disse o papa.

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