Luisa Ortega: "A Venezuela vai solicitar à Interpol um código vermelho a estas pessoas envolvidas em crimes graves", destacou Maduro (Ivan Alvarado/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de agosto de 2017 às 22h05.
A Venezuela pedirá à Interpol uma ordem de prisão contra a ex-procuradora-geral Luisa Ortega, que fugiu de seu país denunciando uma perseguição política do governo e viajou nesta terça-feira da Colômbia para o Brasil, segundo o presidente Nicolás Maduro.
"A Venezuela vai solicitar à Interpol um código vermelho a estas pessoas envolvidas em crimes graves", destacou Maduro em coletiva de imprensa.
A advertência do presidente coincidiu com a viagem da ex-procuradora para o Brasil. Ela estava na Colômbia desde a sexta-feira junto com seu marido, procedente de Aruba, informou o órgão de migração em Bogotá.
"Andas com a oligarquia colombiana, com o golpistas brasileiros. Diga-me com quem andas e te direi quem és", acrescentou Maduro, dirigindo-se a Ortega, que foi destituída no dia 5 de agosto pela Assembleia Constituinte que rege a Venezuela com poderes absolutos.
A ex-procuradora saiu de Bogotá um dia depois que opresidente colombiano, Juan Manuel Santos, lhe ofereceu asilo. Rumo ao Brasil, ela fez escala no Panamá.
Ortega, chavista de 59 anos que rompeu com o governo de Maduro, burlou a proibição de deixar a Venezuela, imposta pelo máximo tribunal no âmbito de uma investigação feita sobre ela por supostamente mentir no exercício de suas funções.
Seu marido enfrenta uma ordem de prisão soba a acusação de liderar uma rede que extorquia empresários corruptos de dentro da Procuradoria, após o que a Constituinte retirou sua imunidade parlamentar.
O Ministério Público Federal (MPF) brasileiro informou, em um comunicado, que Ortega participará nesta quarta-feira (23) na sede da Procuradoria-geral da República, em Brasília, da 22ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana e Suriname).
Não se sabe se a Interpol aceitará o pedido de prisão anunciado por Maduro. Está previsto nos estatutos da polícia internacional que é "rigorosamente proibido intervir em questões ou assuntos de caráter político, militar, religioso ou racial".
Maduro acusou Ortega de trabalhar "há tempos com os Estados Unidos para prejudicar" seu governo, depois que autoridades americanas descobriram, segundo ele, supostos delitos do parlamentar.
"Os Estados Unidos conseguiram chantagear o ex-deputado Germán Ferrer, o chantagearam porquedescobriram suas contas no mundo inteiro. O quebraram moralmente", afirmou Maduro.
O presidente venezuelano alfinetou Santos, depois que este declarou Ortega, que garante que ela e seu marido sofrem perseguição política,"sob proteção" de seu governo.
"Tomara que você se retifique e desça da nuvem de prepotência que tem em Bogotá", disse Maduro, dirigindo-se a seu homólogo colombiano.
A Colômbia "se transformou no centro da conspiração contra a democracia e a paz na Venezuela. Vergonha histórica do 'Caim de América'", afirmou um dia antes o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, no Twitter.
O divórcio definitivo ocorreu com a instalação da Assembleia Constituinte, com a qual Maduro pretende mudar a Constituição no âmbito de protestos opositores que deixaram 125 mortos nos últimos quatro meses.
O organismo, que goza de plenos poderes e foi eleito sem a participação das forças opositoras - que alegaram fraude durante o processo - se vingou e destituiu Ortega em sua primeira sessão.
Antes de chegar a Bogotá, a ex-funcionária participou por videoconferência de um encontro de procuradores, realizado na sexta-feira em Puebla, México.
Lá Ortega acusa o presidente Maduro de envolvimento no escândalo de corrupção internacional da empreiteira Odebrecht.
"Temos o detalhe de toda a cooperação, montantes e personagens que enriqueceram e esta investigação envolve o senhor Nicolás Maduro e seu entorno", disse a ex-funcionária.
No domingo, Maduro contra-atacou. Em entrevista à televisão venezuelana, ele disse que a ex-procuradora bloqueou investigações ordenadas por ele sobre casos de corrupção.
Segundo o chefe de Estado, Ortega alertou as empresas vinculadas ao setor petroleiro que estavam sob suspeita em troca de "milhões de dólares".
Além da ex-procuradora, cinco magistrados nomeados pelo Parlamento de maioria opositora fugiram para a Colômbia. Maduro desconheceu a eleição da Suprema Corte e ordenou a detenção dos 33 magistrados nomeados em 21 de julho.
O Chile, por sua vez, concedeu asilo diplomático a outros quatro magistrados e um dirigente político opositor, que estavam protegidos como hóspedes na embaixada chilena em Caracas.