Apoiadores de Nicolás Maduro comemoram o resultado oficial da eleição para presidência da Venezuela em Caracas (Edwin Montilva/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2013 às 10h31.
Caracas - O presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, enfrenta um difícil panorama econômico de inflação em alta e crescimento em baixa, o que fica ainda mais complicado diante da sua apertada vitória eleitoral de domingo, que está sendo contestada pela oposição.
Maduro, herdeiro político do falecido líder socialista Hugo Chávez, venceu a eleição por apenas 1,6 ponto percentual, na mais acirrada disputa presidencial em quase meio século na Venezuela.
Por causa dos amplos programas sociais financiados pelo petróleo e pela comoção provocada pela morte de Chávez, que morreu de câncer em 5 de março, existia a ampla expectativa de que Maduro teria uma vitória fácil contra o oposicionista Henrique Capriles. Mas, diante da diferença apertada, Capriles não reconheceu o resultado oficial e exigiu uma recontagem.
A percepção de que Maduro tem um mandato fraco pode motivar contestações de dentro da heterogênea coalizão formada em torno de Chávez, e a sobrecarga sobre as finanças públicas pode obrigá-lo a reduzir a generosidade dos programas sociais.
A maioria dos economistas prevê que a economia da Venezuela irá se desacelerar neste ano, por causa da redução dos gastos públicos, depois dos fortes dispêndios de 2012, que ajudaram Chávez a conquistar em outubro o seu quarto mandato, que ele não chegou a assumir.
Ao mesmo tempo, a inflação anual pode chegar a 30 por cento graças a uma desvalorização cambial e a uma maior oferta de dinheiro. Desabastecimentos periódicos de produtos como remédios e farinha de milho devem continuar sendo um transtorno.
"Veremos uma redução nos gastos do governo, principalmente no programa de construção de moradias, e a desvalorização também vai limitar o crescimento", disse Angel Garcia, da consultoria Econometrica, que faz críticas ao governo. "Será um ano de inflação com crescimento estagnado."
Há, no entanto, poucos sinais de que a situação pode descambar para uma crise completa, que obrigue a Venezuela a declarar uma moratória da sua dívida. Os investidores de Wall Street, que durante anos zombaram do socialismo venezuelano, devem continuar comprando seus lucrativos títulos públicos.
E os apoiadores do governo há muito tempo riem das previsões apocalípticas de caos econômico feitas pela oposição, que sempre acabaram se provando exageradas ou simplesmente erradas.
Mas, como a oposição questiona a legitimidade do novo presidente, Maduro poderá ter pouca margem para medidas pragmáticas, como desmontar os controles governamentais sobre preços e câmbio, que criam distorções econômicas.
Sua vitória apertada pode também sufocar as especulações de que ele buscaria um novo ministro das Finanças, no lugar de Jorge Giordani, que comandou a expansão dos controles estatais ocorrida na era Chávez.
O governo, no entanto, mantém suas projeções de que o crescimento neste ano será de 6 por cento, e aliados de Maduro dizem que as especulações sobre uma desaceleração são parte de uma campanha difamatória.
"Não deve haver desaceleração, o crescimento deve ser similar ao de 2012", disse o economista José Pina, cujas análises tendem a ser semelhantes às de funcionários do governo.
Ele disse que a inflação de 2013 será próxima dos 20 por cento registrados em 2012, mas que isso não causa muita preocupação aos trabalhadores, porque aumentos planejados para o salário mínimo elevarão o poder de compra.
Críticos dos analistas de Wall Street observam que suas projeções do ano passado para a Venezuela superestimaram consideravelmente a inflação e a emissão de títulos da dívida.